JORNALISMO E SOCIEDADE

JORNALISMO E SOCIEDADE

O jornalismo é um dos grandes meios de comunicação de massa. Diz o senso comum, não de todo sem razão, que jornalista adora desgraça e que as notícias ruins é que dão manchete. As notícias boas também têm o seu lugar, desde que apresentem algo de espetaculoso, estranho ou surpreendente. Alguns autores têm mesmo se propostos a elaborar um postulado segundo o qual, quanto mais improvável seja um acontecimento, mais o seu apelo mediático. É como se a ordem natural das coisas em nada contribuísse para o noticiário, mas tão somente os fatos dotados de singularidade. Na matéria do livro “conceitos de jornalismo”, nota-se a preocupação do autor em qualificar, deduzir, definir a importância da função jornalística e as nuanças que são atribuídas aos meios de comunicação. A contribuição do subsistema da comunicação de massa para um bom funcionamento do sistema como um todo. Podemos até citar como preâmbulo a afirmação de Lasswel (1948, p.118): “Estamos menos interessados no ato da comunicação do que em examiná-lo como um todo em relação ao processo social global”. Ele baseia-se na chamada ideologia e tenta compreender como as coisas funcionam a favor dele. Cita a estabilização do sistema, observação do ambiente, sistema total, estrutura de valores dominantes, revelando as ameaças e oportunidades que se agarram ou prejudicam os valores da comunidade e sua composição. Dependendo de uma relação mais afetuosa na sociedade respondendo satisfatoriamente ao ambiente e à transmissão do patrimônio social de uma geração para outra, formando a tradicional hereditariedade cultural, com direito aos genes e tudo mais. Essa lógica dos acontecimentos mediáticos jamais deixará de ser constitutiva da essência do jornalismo. Entretanto, há indicadores de que uma nova categoria de valor-notícia se incorpora ao jornalismo. Trata-se da boa notícia, cujo apelo, diferentemente do sensacionalismo inerente ao insólito (para o qual haverá sempre uma demanda patológica), ancora-se verdadeiramente no interesse público. Uma virada muito significativa está acontecendo. Não que seja apropriado falar-se de um sensacionalismo da boa notícia. Decididamente, o bem não é sensacionalista, mas pode fornecer, sim, teores de singularidade capazes até de aumentar a venda de jornais, as tiragens das revistas e a audiência das telenovelas. É como se o interesse público (nem sempre dotado de apelo mediático) conquistasse um status jornalístico, num jornalismo ainda muito colonizado pelos atavismos da cultura de massa, um deles, a preferência pelos fatos e cenas grotescos. Chega um dia em que o mais “videota” dos telespectadores quer informação e serviço, ou, pelo menos algo mais significativo para a sua vida do que as pegadinhas e os lixões culturais enlatados. Este trecho relata bem o que acontece nos dias atuais em relação às programações das televisões brasileiras com seu lixo que atinge um nicho do mercado, o que mais preocupa é a baixaria banalizada, inclusive brigas familiares, situações conjugais discutidas no ar, em pleno horário nobre, hostilizando os espectadores. Enlatados de péssima qualidade e um mau gosto tremendo, principalmente à programação local. Também por um dever de justiça na programa de fora existe uma espécie de vista panorâmica para o nada.

Podemos citar o que Wright (1960, p.610; 1974; 1975) acrescenta a função do entretenimento. A pergunta clássica da investigação da comunicação de massa: Funções e disfunções; manifestas e latentes da observação (notícias); correlação (atividade editorial); transmissão cultural; entretenimento. Da comunicação de massa que se transmitem através dos meios de comunicação de massa para a sociedade; os subgrupos; o indivíduo; os sistemas culturais? Houve uma preocupação generalizada para a análise funcional e conseqüências dos fenômenos sociais que estariam afetando de sobremaneira determinados sistemas sociais e culturais.

Alguns autores relacionam as funções dominantes dos meios de comunicação como políticos. Um vasto cabedal de conhecimentos e assuntos palpitantes está no rol da comunicação, podem servir de auxílio na estruturação de um processo de investigação e na fixação de prioridades. Expressão de opinião; na promoção social; no controle sobre a atividade política, na influencia da publicidade sobre a economia, na criação da opinião pública orientada e nos grupos de pressão. São funções prioritárias de informação. Nos Estados totalitários o papel de jornalismo é calibrar a opinião, complementado por entretenimento superficial. Esta tarefa não é muito fácil, exige jogo de cintura e perspicácia na difusão da informação. Nos países comunistas está dentro do mecanismo de poder do partido comunista governante, enquanto nos países em desenvolvimento, mesmo em países fracos e instáveis, os meios de comunicação conservação o básico: servir como inspetor geral de todo sistema político a fim de poder proporcionar ao público a crítica por parte daqueles que detêm o poder. Um exemplo de imparcialidade: Um belíssimo espetáculo de circo não será noticiado, a não ser como matéria fria. Se o circo pegar fogo, aí, sim, tem-se uma matéria quente. Todos os pousos normais dos zepelins não renderam senão modestos registros. Já o dramático incêndio ocorrido com um deles, em Nova York, pôs fim à fulgurante carreira do titanic dos ares. Aquela tragédia foi manchete na imprensa de todo o mundo, nada, igual à repercussão dos atentados de 11 de setembro de 2001, globalizada e quase em tempo real, graças à instantâneidade da difusão imagens no cenário presente.

As quatro teorias da imprensa, Siebert, Schramm e Peterson em seu livro de i956 enfocam normas sobre as formas de funcionamento dos meios de comunicação de massa nos diferentes tipos de sociedade. A teoria da imprensa; a teoria autoritária do século XVI; filosofia estatal do absolutismo e a promoção da política do governo. Vêm o Iluminismo e o crescimento das liberdades políticas, religiosas e econômicas durante o século XIX. Com estas afirmações de que as pessoas eram consideradas racionais, aumentaram as exigências de uma auto - perpetuação da imprensa, a teoria liberal, fazer a distinção do certo e errado ou a verdade e a mentira. Com a teoria da imprensa controlando o governo tornou-se comum chamar a imprensa de “Quarto Poder”. As teorias da

responsabilidade social e a do comunismo soviético são derivações modificadas das teorias anteriormente editadas. Mesmo o grande setor do entretenimento tem-se aberto ao agendamento das temáticas públicas. No Brasil, o maior fenômeno mediático de todos os tempos, as telenovelas, tem abrigado, com generosidade e criatividade, apelos em favor das mais variadas políticas, assiduamente contempladas com inserções de merchandising social, quando personagens representados por atores de grande prestígio agem de forma a sugerir aos telespectadores mudanças de valores, atitudes e condutas. Quanto ao jornalismo público, por enquanto ele se tem construído de duas maneiras: uma de fora para dentro, em decorrência das intervenções do terceiro setor, permanentemente agindo com o objetivo de “pautar” os seus temas; outra, dentro das redações, onde repórteres e editores têm ampliado a cobertura e a edição de matérias de cidadania e serviços, mas, ainda de forma muito intuitiva.

O jornalismo público, portanto, é um campo que no Brasil ainda precisa ser bem conceituado, delimitado e institucionalizado. As redações, por sua vez, açodadas pelo torvelinho do cotidiano, pouco param para auto-avaliações da sua produção. “É o “bola” pra frente”, antes de todo dia, agora de toda hora. Na gestão da informação e da notícia, não há espaço nem tempo para rotinas de planejamento, execução, avaliação e reorientação.

Algo sintomático ocorreu na cobertura da última campanha eleitoral, quando uma agência de notícias apressou-se em divulgar o texto sobre um comício. Resultado, uma retumbante “barriga” distribuída on-line, pois o mesmo foi cancelado em cima da hora por um dos candidatos à Presidência. Isto espelha o quanto à prática do monitoramento é incipiente nas redações, que deveriam ter algo parecido com “tráfego”, que nas agências de publicidade controla as etapas e o ritmo das produções. Na teoria da responsabilidade social tem-se uma idéia de imprensa livre, a imprensa dos Estados Unidos da América desfruta de uma função privilegiada, sob o nosso governo, tem a obrigação de ser responsável, perante a sociedade, pelo cumprimento das funções essenciais de comunicação de massa na sociedade contemporânea( Siebert et al, 1956, p.74); postulando seis funções: Servir ao sistema político, fazendo com que, em geral, a informação e a consideração dos assuntos políticos sejam accessíveis; Informar ao público para este possa adotar uma ação autodeterminada; proteger os direitos do indivíduo como vigilante do governo; servir ao sistema econômico – por exemplo, unindo compradores e vendedores através da publicidade; proporcionar entretenimento( que significa somente “bom” entretenimento, seja qual for; preservar sua autonomia financeira, para não vir a depender de interesses e influencias especiais).

A teoria comunista soviética da imprensa está afinada com a função autoritária dos meios de comunicação de massa, principalmente o progresso é apoiar a preservação e a elevação do sistema socialista. As principais diferenças são: eliminação do lucro ( e o princípio do pagamento dos custos) dos meios de comunicação de massa; a interpretação é secundária na apresentação de notícias; enquanto a orientação da teoria autoritária de imprensa foi estritamente a manutenção do status quo, o programa estabelecido para a imprensa na teoria soviética foi o desenvolvimento e mudança da sociedade (a farsa da etapa comunista). Se compararmos os itens delineados entre as duas funções verifica-se uma mudança primordial sendo que a segunda força a imprensa trabalhar sem sua liberdade tradicional é quase que um patrimônio do governo socialista soviético. O autor durante suas narrações vai citando fatos importantes e inerentes a importância da comunicação para o jornalismo nacional e mundial, uns com mais liberdades, outros mais fiscalizados e alguns totalmente amarrados ao sistema. A teoria de McQuail considera que as organizações públicas de radiodifusão particular são muito paternalistas, demasiado elitistas, muito chegadas à classe governante, muito sensível às pressões políticas e econômicas, muito monolíticas, muito profissionalizadas. Neste procedimento a democracia parlamentar torna-se indiferente as suas origens populares. O rádio já não deve isolar seus ouvintes, mas organizá-los como fornecedores. Jornalistas a serviço do capital, os autores marxistas acusam enfaticamente a “ciência burguesa” de passar por alto a comunicação social e, dessa forma, ocultar seu caráter classista. A teoria materialista da comunicação ainda está insatisfatoriamente desenvolvida. Grande parte da literatura desses teóricos se dedica à acusação mútua da má interpretação suposta ou real dos clássicos (Marx, Engels, Lênin). Não existe nenhuma discussão posterior sobre aquele que deve ser o único enfoque marxista correto. O que os autores materialistas têm em comum é uma perspectiva crítica do capitalismo. A única maneira que os autores marxistas encontram para superar a exploração e a alienação dos jornalistas foi a de superar o capitalismo e estabelecer um paraíso socialista ou comunista.

Atribuem os meios de comunicação as seguintes tarefas principais: transmitir uma privacidade cívica e familiar; Ajudar a criar uma “consciência tecnocrática comum”, ideologias de compulsões objetivas e sistemáticas; criar uma orientação governamental quanto ao repouso e ao consumo, além da propagação das disposições e esquemas de interpretação de acordo com a sociedade capitalista, como disseminação da consciência e a aceitação de ideologias objetivas de compulsão, as funções mais importantes da comunicação de massa deveriam contribuir para o processo de produção, vale ressaltar, para utilização direta do capital, a provisão de possibilidades de recreação, a reparação terapêutica das deficiências psíquicas. Onde existe a concorrência do capital, a única coisa que tem importância na produção de notícias é a maximização do lucro. O autor não concorda com a acusação errônea de acusação de que a “ciência burguesa” ignorou o contexto econômico da comunicação de massa.

No entretenimento como manipulação a cultura de massa está ligada à indústria cultural do capitalismo. Ao aplicar à produção cultural o móbil do lucro, a cultura fundiu-se com a publicidade. Os personagens da Escola de Frankfurt: Marcuse, Horkheimer, adorno, Habernas afirmam que a ideologia desgastou-se na idolatria do status quo e do poder ambos controlados pela tecnologia. Melvin Defleur (1970) esclareceu a importância da cultura de massa para estabilidade do sistema social norte-americano em seu estudo sobre a televisão comercial. A publicidade, que proporciona os recursos financeiros para a televisão, é considerada decisiva no sistema econômico capitalista porque só ela pode estabilizar a demanda de bens mediante a manipulação dos consumidores, garantindo assim o planejamento racional do setor econômico. A compulsão pode colocar mensagens publicitárias diante de um público cada vez mais amplo pelo mínimo custo possível significa que é necessário contar histórias emocionantes no menor tempo possível e produzi-las de maneira rápida e regular. Como a programação depende da publicidade, isto significa que se evita a disseminação de conteúdos potencialmente ameaçadores à estabilidade social. A privação do poder político pelos meios de comunicação nada mais é do que a perfilhação da opinião de que o desenvolvimento da democracia sempre estivera relacionado com a manipulação cada vez mais intensa que substituía o uso manifesto da força como técnica de domínio. Examinando a legitimação desse governo compartindo, Kepplinger observa que isso pode ser especialmente problemático quando as opiniões dos jornalistas diferem consideravelmente das do público em geral. Ele chega à conclusão de que os meios de comunicação de massa, originalmente enraizados fora do sistema político, acabaram ocupando um lugar dentro dele. O objetivo das publicações políticas foi o domínio pelos próprios publicistas. O reconhecimento do direito do jornalismo de comprometerem-se com qualquer convicção política ou social que o jornalista ou publicistas escolha significou o surgimento do domínio da classe intelectual pelos jornalistas. Começou a dominar e a prevalecer um novo tipo de jornalista, o que informava o público segundo seus compromissos subjetivos, fingindo “objetividade”, sem declarar abertamente seus objetivos políticos. As personalidades características desse tipo na área dos meios de comunicação alemães eram “os moderadores” das chamadas revistas de atualidade, do rádio e televisão.

Aos novos amos interessava unicamente pintar as velhas formas do poder, ou seja, o poder político e econômico, como as únicas formas remanescentes de subjunção e exploração do povo a fim de ocultar seu próprio poder. Isto nada mais é do que tirar proveito de tudo e quando o objeto de execução está próximo dele. Segundo Schelsky, surgira um novo tipo de político, o conceito de democracia liberal, segundo o qual o debate levava o acordo visível e viável, fora rejeitado como lema de ação política porque o acordo mutuamente obrigatório não é compatível com a publicidade. Os políticos já não procuravam influenciar a opinião dos cidadãos informados, mas buscavam o sucesso por via publicitária. Houve demagogia de publicidade comparada ao desempenho dos governos com as declarações da campanha anterior de publicidade. Ao coletar informações, os jornalistas dependem muito do material predeterminado oferecido pelo jornalismo secundário (trabalho publicitário, relações públicas), que é divulgado no interesse dos próprios políticos. Cabe uma pergunta: existe lugar no Brasil e no restante onde político não quer tirar proveito próprio? Aproveitam-se da situação e quando assumem cargos de confiança vão logo liberando concessões de funcionamento de canais de televisão e emissoras de rádios em beneficio próprio e de outrem. Deduzimos que O jornalismo público, portanto, é um campo que no Brasil ainda precisa ser bem conceituado, delimitado e institucionalizado. As redações, por sua vez, açodadas pelo torvelinho do cotidiano, pouco param para auto-avaliações da sua produção. É o “bola pra frente”, antes de todo dia, agora de toda hora. Na gestão da informação e da notícia, não há espaço nem tempo para rotinas de planejamento, execução, avaliação e reorientação. Algo sintomático ocorreu na cobertura da última campanha eleitoral, quando uma agência de notícias apressou-se em divulgar o texto sobre um comício. Resultado, uma retumbante “barriga” distribuída on-line, pois o mesmo foi cancelado em cima da hora por um dos candidatos à Presidência. Isto espelha o quanto à prática do monitoramento é incipiente nas redações, que deveriam ter algo parecido com “tráfego”, que nas agências de publicidade controla as etapas e o ritmo das produções. O controller aqui proposto, no entanto, é mais qualitativo do que gerencial. Não há nas redações, salvo raríssimas atuações de ombudsmans, atividades de checagem e avaliação dos conteúdos produzidos. Do lado de fora, poucas organizações se dão ao trabalho de monitorar rotineiramente o trabalho da imprensa, o que em nada se confunde com censura e cerceamento da liberdade de expressão, antes, um zelo pelo alto nível da mesma. Um trabalho dessa natureza é mais produtivo do que a velha noção de que jornalista gosta mesmo é notícia ruim. Este é o drama do jornalismo no Ceará, e no restante do Brasil salvo raras exceções.

ANTONIO PAIVA RODRIGUES-MEMBRO DA ACI E ACADÊMICO DA ALOMERCE

Paivinhajornalista
Enviado por Paivinhajornalista em 08/08/2007
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