A EDUCAÇÃO SOB O TAPETE
Eu não sei o que ocorre comigo, porque ultimamente, quando ouço uma notícia, fico me beliscando para me certificar se estou acordada, ou se de fato perdi a capacidade de interpretar o que ouço.
-Mas não é possível! Será que ouvi mesmo o que ouvi?
É o que sistematicamente me pergunto.
Acabo de ouvir uma notícia veiculada por uma emissora de televisão que comanda as “massas’, que me deixou estupefata.
E pior ainda, a reportagem foi confirmada na tela ,pela reitoria da maior universidade do país, a USP, talvez a maior da América Latina, conceituada mundialmente.
Constatou-se com indignação, o que todo mundo já sabe, o fato de que grande parte dos vestibulandos aprovados na USP demandam de escolas particulares (70%), contra os restantes (30%), advindos das escolas públicas.
Sinceramente os 30% para mim são novidade, porque acreditava tratar-se de percentagem bem menor(?).E com certeza esses alunos aprovados , vindos do público, apenas demonstram sua própria capacidade de inteligência e esforço , e não são o termômetro da educação pública do país e muito menos da capacidade dos políticos.
Ora, este resultado é logístico.Se a educação pública esta em constante deterioração, sendo ao invés de educação, calamidade pública, e isto também não é nenhuma novidade, é óbvio que irão ocupar as cadeiras da USP aqueles que puderam bancar seus estudos, ou seja, a quase extinta e sofrida classe média “peso morto’’ e as elites.
Mas como tudo nesse país, a solução já está pronta.De preferência algo bem rápido, como por exemplo se levantar o tapete.
Pergunto novamente: Será que é isso mesmo?
A reportagem esclarece que a classe política pensante, os “neurônios politicamente corretos” que tudo sabem e nada resolvem, optaram por uma solução mirabolante: os alunos que demandarem das escolas públicas terão automaticamente 3% da sua nota de vestibular acrescidos à sua nota original.
Ora bolas, mas o que se quer medir num vestibular não é o conhecimento? Ou se quer medir a classe social do aluno?
Meu Deus do céu!-me expliquem: Não seria mais óbvio fornecer condições de ensino dignas para que a escola pública possa concorrer em paridade de condições com a escola particular?
Eu não consigo entender mais nada.Que país é este que politicamente mantém a dificuldade para se premiar quem é vítima dela?
Acho que esta proposta é séria demais e fere o princípio do Direito.
É o que sempre digo, estamos numa calamidade social tão grande que financiamos direitos a alguns, às custas do direitos de outros.
Que os seres pensantes coloquem as mãos na consciência, se tiverem, e comecem realmente a educar esta querida nação.
Com certeza numa sociedade educada e forte, barbaridades como a que acabo de ouvir sequer seriam cogitadas, muito menos apresentadas como solução, numa tentativa vergonhosa de mais uma vez se mascarar a nossa triste realidade...
-Alunos, pelo amor de Deus!, entrem na USP e mostrem ao país como a educação pública vai bem, nem que seja esmolando notas...esta é a voz uníssona dos que acreditam que comandam o que desconhecem: A arte de educar.