Tropeços na ética

Meu pai, pelos idos de 1969 dizia que “a partir do ano que vem vai se esgotar a reserva moral do mundo”. Ainda bem que ele não está mais aqui para ver o que ocorre hoje em dia. Ouvi um indiciado se queixando de “armação” e perseguição política, como causa da investigação que vem sofrendo. No Brasil não corre nada.

Todos negam descaradamente, se dizem vítimas, a grande mídia que também é sem-vergonha, a ela interessa deter audiência ou vender jornais, jamais a verdade. Apenas quer manchete, e com a mesma desfaçatez depois faz tudo cair no esquecimento.

O povo nem se interessa muito que o safado vá preso, pois no Brasil quem tem dinheiro não fica preso. Só arrestam ladrões de galinha. O dinheiro roubado nas fraudes do INSS, prédio do TSE de São Paulo, Orçamento ou do Túnel Ayrton Sena (lembram quem são os autores?) devia ser devolvido aos donos e empregado nos projetos populares.

Em algumas Câmaras de Vereadores, as CPIs não acontecem porque o Prefeito tem maioria. Nos Estados e no âmbito Federal ocorre o mesmo. Quando a chapa está quente, o lacaio renuncia e volta eleito na legislatura seguinte. Ou não é assim? Se faz parte de algum órgão, seus pares o absolvem “por falta de provas” e tudo fica na mesma. Na mesma não! Fica pior.

Recentemente na Itália, um senador pegou carona em uma ambulância oficial para chegar mais cedo em um compromisso. A imprensa flagrou. ele teve que pedir desculpas aos eleitores e, constrangido, renunciou. Como seria aqui? Em 1978, se não me engano, um Presidente do Banco do Brasil desviou a rota de um avião da Varig, O vôo era Brasília - São Paulo e ele determinou que fosse feita uma parada no Rio para ele descer. Não aconteceu nada. Apenas veladas críticas. Era tempo de ditadura. Ficou apenas a sanção ética.

Eu já falei nisto aqui, mas volto a insistir. Trata-se de uma questão ambiental. Diversas multinacionais da celulose vão investir por volta de 1 bilhão de dólares no Rio Grande do Sul. Querem plantar eucaliptos e produzir celulose. Prometem construir portos em São José do Norte, Cachoeira do Sul, Rio Pardo e Guaíba. Quando a esmola é muito grande o santo desconfia. É muito dinheiro para poucos empregos. Onde tem muito investimento é porque esperam muito lucro.

A nova opção dos agricultores da zona sul é plantar árvores destinadas à produção de celulose, deixando de lado o arroz. Estima-se de um terço dos 18 mil produtores de arroz vai mudar de atividade. O nosso estado já não é auto-suficiente em arroz, e pode ficar pior.

É desnecessário dizer que a metade-sul vai empobrecer mais ainda. Assim como perdemos as produções de trigo no Planalto Médio, também vamos nos desfazer do arroz e dar divisas à Argentina e ao Camboja.Por curiosidade, é salutar saber que é um grande erro pensar que plantio de pinus e eucaliptos é reflorestamento. A mata nativa, a pampa e as ravinas que foram substituídas por lavouras, pela eliminação de suas características de flora e fauna nunca serão recompostas com árvores de outras regiões. É conversa mole, mentira que faz tropeçar na ética social.

O autor é Filósofo e escritor

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 06/08/2007
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