INTERPRETAÇÃO
Muito significativas as vaias que aconteceram na abertura dos jogos. Certamente não partiu do segmento social denominado “descamisados” na era Collor ou dos beneficiários dos projetos do governo Lula, quais sejam os contemplados com Bolsa Escola, Bolsa Família ou outra denominação.
Foi a vaia da classe média, pois a camada que me referi acima, não tem como pagar os valores para ingressarem em tais locais. São daqueles que não estão inseridos na minoria (classe A) e nem nas classes inferiores da pirâmide social e que tem sido alvo dos programas sociais do governo à custa daqueles que estão no meio dela e de quem muito foi tirado para distribuir aos outros, já que o dinheiro público sabemos para que bolsos foram.
As vaias foram daquele grande número de consumidores que tiveram seus salários achatados, reduzidos ao longo dos anos e para quem tudo foi prometido durante a campanha eleitoral e que após as eleições foram os mais atingidos com as medidas adotadas.
São daqueles cujos descontos saem direto na folha de pagamento, sem sonegação. Daqueles que colocam seus filhos nas escolas particulares conscientes do desaparelhamento (pela falta de atenção) da escola pública, para que eles tenham a chance de cursar uma universidade pública (pela inviabilidade de cursar a particular), em cujas cátedras estão professores mal pagos, recebendo salários iniciais desestimulantes e muitas vezes até inferiores ao custo de uma mensalidade para um filho em uma universidade particular, posto que nas universidades públicas as vagas são restritas, raramente aumentam, apesar de serem insuficientes para suprir a demanda. A despeito de tudo isto se sabe que o ideal seria ensino público, gratuito e de qualidade para todos, desde o início da escolarização, aliás, garantia constitucional, como tantas outras, não cumpridas na sua integralidade.
As vaias saíram daqueles que enfrentam estradas no dia a dia, pagam altos pedágios e a apesar de tudo enfrentam estradas esburacadas, sem duplicação, sem sinalização adequada, sem segurança.
Também se incluem nelas aqueles que não tiveram mais como arcar com seus planos de saúde e se vêem à mercê de atendimento em situação caótica nos hospitais públicos, embora a sobrecarga de trabalho dos médicos destes locais.
Não podemos esquecer dos usuários dos transportes aéreos que vem sofrendo com o caos em que se transformou este setor, com horas de espera nos aeroportos, além da insegurança gerada com isto e também pela falta de condições adequadas em tais locais, sendo isto uma das causas possíveis de gerar tragédias como a assistida por nós, na atualidade.
Também devem ter partido daqueles que apesar do estudo, do diploma, não conseguem emprego compatível com a formação, dos que repentinamente encontram-se sem trabalho por estarem adentrando em uma faixa etária para quem o mercado fecha suas portas, face à mão de obra jovem e abundante à espera de uma oportunidade.
Creio que o alerta deve ser considerado, pois há 15 anos atrás, quando um contingente grande acordou, percebeu sua força, se mobilizou a situação mudou e de forma ordeira, pacífica, legal, válida e o que se viu, naquela época, parece história infantil comparada com a da atualidade, cheia de sexo, mentiras, intrigas, corrupção e situações hilárias, se não fossem trágicas, posto que revelam um perfil lamentável de segmentos de onde deveriam partir exemplos de dignidade, respeito, honra, ética.