DUBAI EM MARTE

No sábado que passou, a mídia brasileira publicou reportagens sobre os planos dos Emirados Árabes com relação a Marte. Li no jornal a Folha de São Paulo. Que começa falando do prédio mais alto do mundo. Ou seja, dos petrodólares que jorram fácil.

Eles não conseguiram chamar a atenção da mídia, planejando uma viagem não tripulada ao planeta vermelho em 2021. Ano das bodas de ouro da união dos principados. Sua agência espacial foi criada apenas em 2014, mas nas últimas duas décadas foram investidos vinte bilhões de reais no programa espacial.

Deixem escrito para que seus filhos, netos e bisnetos comprovem depois. Em 2117, teremos uma réplica da cidade de Dubai construída em Marte. Tem até uma foto bonitinha de como seria a cidade ilustrando a reportagem.

Na cronologia humana cem anos como se costuma dizer, parece uma eternidade. Diria que para uma Dubai ser erguida em Marte, esse tempo deverá ser multiplicado no mínimo por três. Os sonhadores gostam de fazer analogias com os navegadores e as grandes descobertas do século XV. As diferenças são muitas. Com exceção das estrelas.

É bom lembrar que nenhum navegador se aventurou por mares desconhecidos com apenas um navio. Havia uma frota navegando. Os tripulantes sempre tinham uma carona caso imprevistos acontecessem. E eles aconteciam. Com certeza não haverá uma frota de naves viajando juntas para Marte.

Mesmo que as tecnologias das viagens espaciais superem a ficção nos próximos anos, não creio que em 2117 existam terráqueos de joelhos rezando com o Alcorão nas mãos, voltados na direção de alguma Meca construída em Marte. Nem ateus.

Numa viagem tripulada a Marte, a parte mais importante nem é a tecnologia. É a tripulação. Ainda que seja só de ida, aqui entra na equação a fragilidade física e mental humana. Sem esquecer do instinto que nos equipara aos animais, com o viés perigoso da inteligência. Variáveis que jamais poderão ser simuladas.

Vou dar um exemplo simples. Que já deve ter acontecido com muitos casais. Talvez, até com você que esteja lendo isso agora. Quantas vezes uma viagem curta de cem quilômetros foi interrompida por alguma “DR”?

Saindo do campo da ficção, quando vejo centenas de milhões gastos para alcançar outros mundos, percebo uma desilusão da Raça Humana consigo mesma. Existe uma percepção macabra e verdadeira de que não conseguiremos mais salvar nosso habitat.

Pior, é saber que para onde a raça seguir, nossa síndrome predatória também seguirá. Fomos criados a imagem e semelhança de “ervas daninhas”. Sem antídoto.