Classificação Indicativa_Quem tem coragem?
Não é de hoje que pais e especialistas infantis debatem sobre os perigos das mídias modernas sobre os jovens. A televisão, que até bem pouco tempo reinava toda-poderosa, e agora disputa com a Internet e os videogames, sempre suscitou acalorados debates. Os assuntos inapropriados em horários inapropriados com telespectadores mais inapropriados ainda são fonte de preocupação constante. Foi visando proteger nossos jovens que o governo federal propôs a Classificação Indicativa, um meio de frear os abusos da "babá eletrônica" e do sensacionalismo de certas emissoras. Parte da imprensa e da classe artística nacional reagiu mal, ainda com os abusos da ditadura militar frescos na memória, e taxou de censura a proposta governamental. Esse tipo de controle, porém, existe na Europa, dá certo, com pais e educadores debatendo sobre as programações.
O problema que nossa democracia ainda é jovem, e nem de longe chega perto da européia. Montesquieu, iluminista que junto com outros notáveis arquitetou a democracia moderna, deixou claro que uma democracia sólida consiste em um equilíbrio dos Três Poderes. Esse equilíbrio não existe no Brasil. Enquanto temos um Executivo de alto respaldo popular, contamos com um Legislativo frágil, com um Congresso arruinado do ponto de vista moral. O Judiciário também padece de semelhantes deficiências, com uma desiguadade nos níveis de acesso a Justiça. É aquela velha história: rico, no Brasil, não vai pra cadeia.
Compara-se o sistema de Classificação nacional com o da Suécia. Não, a Suécia nunca sofreu com os rigores de um regime totalitarista, nem foi censurada em órgãos como o antigo DOPS brasileiro. Grande parte da população tem alto nível de educação, o que faz com que a sociedade participe ativamente da educação dos jovens suecos, participação um tanto duvidosa na sociedade do lado de cá dos trópicos.
Colcaria-se o poder da restrição a meia dúzia de jovens recém-saídos da universidade. Quais os critérios que seriam usados pra censurar um programa? Como confiar em desconhecidos para regular o que podemos ou não assistir? A pergunta certa não é se o Brasil precisa da classificação indicativa. Mas sim quem teria coragem de dar tanto poder ao atual governo.