Mães bordeline: a mãe “defendida” ou “medrosa”

A mãe “defendida” ou “medrosa”

O sentimento essencial e predominante deste tipo de mãe é o medo da rejeição ou do abandono dos filhos. A mensagem que passam a eles, em função do receio de perdê-los, pode ser expressa pela seguinte frase: “A vida é repleta de perigos e somente eu posso ajudá-los a preveni-los.”

As mães defendidas ou medrosas se incumbem de ser guardiãs incansáveis de seus afetos mais preciosos. Elas sentem muito medo de que coisas desagradáveis possam ocorrer a si e a sua família e passam a imagem de que o mundo é muito mais assustador do que realmente é. Com frequência são extremamente supersticiosas e se valem de “proteções” fantasiosas. Mães desse tipo tendem a ser

mais reservadas que as mães vitimizadas; evitam a convivência social em grupos e vivem em seus mundos onde se julgam protegidas.

Dentro dessa redoma de vidro,

que constroem para si e para sua família, se mostram possessivas e controladoras, chegando até mesmo a estabelecer uma relação simbiótica com suas crianças, pautada em ansiedade, insegurança e necessidade de superproteção. De forma contrária aos seus sentimentos internos de medo e insegurança, essas mães se mostram externamente seguras e inabaláveis; dificilmente se permitem

“baixar a guarda”, como se estivessem sempre preparadas para o que der e vier.

Em geral, não demonstram suas emoções para não se mostrarem vulneráveis. Os filhos das mães borderlines do tipo medrosa/controladora crescem aprendendo que

o mundo é um lugar perigoso, onde não se pode confiar em ninguém, somente em suas próprias mães. Eles se sentem inseguros e não sabem muito bem o que temer verdadeiramente, pois suas funções autoprotetoras não puderam ser plenamente desenvolvidas.

Sobre essa relação entre uma mãe border “defendida” e sua filha, observem a seguinte situação vivenciada em consultório:

" Roberta tem 20 anos, é filha única e mora com os pais na

cidade do Rio de Janeiro. Helena, sua mãe, reclama que ela não sabe se organizar, perde coisas, dorme demais, sai pouco, não cumpre prazos... e emenda: “Não que ela seja irresponsável, ela tem potencial, é uma ótima menina, mas não sabe se virar sozinha.”

Roberta rebate: “Ela não deixa eu fazer nada! Quando eu vou fazer ela já fez... e depois ainda reclama!”

Helena continua: “Eu preciso verificar a bolsa dela o tempo todo, senão ela esquece tudo, doutora, leva só coisa errada. Eu tenho que ficar atrás dessa garota, senão ela não faz nada!”

Roberta, visivelmente irritada, se cala.

Helena diz: “Sabe, doutora, ela é uma menina ótima, inteligente, bonita, cheia de capacidades, mas eu fico muito preocupada porque ela não faz nada sem mim...

Aliás, lá em casa, são dois... ela e o pai... se não fosse eu não sei o que seria deles.”

Roberta reclama que não tem espaço nem para pensar sozinha. Que a mãe mexe nas suas coisas, vasculha seus e-mails, celular, interfere nas suas roupas, programas e dá palpites em quem ela deve namorar.

A situação ficou pior quando Roberta manifestou sua

vontade de fazer intercâmbio. Helena é totalmente contra e

diz que o pai está apoiando a menina, o que na opinião

dela é um absurdo: “Ela não está madura para encarar a

vida e seus perigos. Se ela não dá conta das coisas aqui,

debaixo da minha asa, imagine lá no exterior, sozinha? Vai

se perder no primeiro aeroporto... ela não tem a menor

condição de ir. Se continuarem a insistir nessa ideia, já falei, não contem comigo!”

O pai de Roberta encara a situação como uma

oportunidade de crescimento para a filha. Ela poderá

melhorar a autoestima e se sentir segura perante a vida,

capaz de tomar decisões longe das “raias controladoras”

da mãe. Roberta agora está de malas prontas e vai viajar. Sua

mãe passou por fases de raiva, choros, agressões,

ameaças e ficou sem falar com ela. Para Helena, hoje o

momento é de grande sofrimento e tristeza. É um

sentimento de “perda”. Não exatamente da filha, mas

talvez de seus objetivos. Afinal, quem ela irá controlar?

COMO LIDAR COM A MÃE “DEFENDIDA” OU “MEDROSA”

Agir com hostilidade, rebeldia ou preocupação excessiva só vai contribuir para aumentar a hostilidade e o controle desse tipo de mãe. A chave da relação com a mãe medrosa/controladora é o distanciamento. Isso é fundamental para que os filhos sejam capazes de saber quais são os seus próprios receios, medos e inseguranças.

Somente desta forma será possível distinguir seus verdadeiros sentimentos, caso contrário eles sempre serão meros reflexos das angústias e fantasias de suas mães. Para que essa individualização possa ocorrer de forma positiva, é importante,

especialmente nos processos de terapia, reforçar racionalmente o que o filho é capaz de fazer por si mesmo e desmistificar os medos infundados, que foram incutidos ao longo de sua vida.

Se voltarmos ao caso de Eduarda, observaremos que sua mãe apresenta traços bem marcados dos perfis maternos descritos até aqui. Porém, de forma mais atenta, é possível notar que ela se encaixa, principalmente, no perfil da mãe vitimizada/sofredora, já que algumas de suas características são menos intensas e frequentes que a da mãe defendida/medrosa. Ela usava e abusava do jogo da culpa

para manipular os filhos, que por sua vez tinham que compreender e aceitar todos os comportamentos disfuncionais de sua mãe, em face da doença que lhe trazia muito sofrimento. Por outro lado, em determinadas ocasiões, a mãe de Eduarda criava um mundo próprio, onde se mostrava feliz, segura e dona de um lar perfeito. Esse

mundo, no entanto, só existia quando ela recebia suas amigas. Na verdade, ela tinha um medo profundo de ser rejeitada ou mesmo abandonada por elas.

Ana Beatriz Barbosa Silva
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS em 09/02/2017
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