A Sinhá do Casarão no Reino do Capitalismo Selvagem
Data, com certeza, dos anos 30 a febre do modernismo no Brasil. A ânsia pelo progresso material, a volúpia de destruição de tudo o que cheirasse a passado tomou conta da alma nacional. Tudo se justificava em nome de uma nova divindade: progresso. Na verdade, o que estava por trás disso era o desejo de lucro de alguns poucos e era preciso conseguir a adesão das maiorias oprimidas. O reino do Capitalismo Selvagem chegou, viu e venceu. Lástima!
Pitangui é parte integrante do território nacional. Não poderia ficar fora desses acertos e desacertos. Administrações passadas, talvez até cheias de boas intenções, espelhando as tendências que iam por aí, nessa nossa pátria tupiquiniquim, permitiram que se desfigurasse e desfizesse a nossa principal característica: ser uma cidade colonial, portanto, HISTÓRICA. O que está feito, infelizmente, não pode ser desfeito. A cidade tomou outro aspecto, e isso é irreversível. Lástima!
No entanto, uma louvável tomada de consciência foi o que notei por aqui, nesta última estada. Ótimo! Reflete, também, a tendência atual de conservação e preservação de nossa memória. O que pedem (e me junto aos que o fazem) é que se tome o partido da Sinhá do Casarão nesse Reino do Capitalismo Selvagem, porque nem só de lucro vive o Homem, né? Em outras palavras: vamos preservar o que ainda resta de nossa memória. Vamos cuidar melhor do Museu Sacro. Da nossa pobre Biblioteca Municipal. Reativar a "Furiosa", a nossa banda de música. Levantar de novo o coreto da Praça do Jardim. Tombar mais sobrados ao Patrimônio Histórico Nacional. Criar um grupo de serestas e sair, pelo menos uma vez por mês, a cantar a nossa mineirice. Progredir é, antes de tudo, mudar ideias e hábitos. Progredir não é só mudar as aparências. É muito mais que isso.
Um pedido à atual administração, se quer ser lembrada positivamente: dê o passado de presente ao futuro de Pitangui, como diz o Beto, meu irmão.
(Pitangui, MG/julho/1981)