QUEM MORREU? QUEM SÃO OS MORTOS VIVOS?

Não se sabe mais sequer o que dizer diante de toda a lama e gordura de velhas panelas acumuladas pelos esgotos da história do Brasil. O pensamento se recusa a dispor, a descrever, a dissertar, a narrar, comentar, argumentar, e disto retirar uma seiva, ainda que uma só gota. Estudos e mais estudos, experiências e mais experiências, construção e mais construção de saberes... e o resultado é uma catástrofe, uma hecatombe ou uma outra palavra assim impactante. Refiro-me às manifestações, às falas, às declarações de pessoas movidas pelo ódio, mas cujas palavras parecem do demônio. E aí a gente se pergunta porque tantos votos de feliz natal, aniversário, casamento, recuperação e até preces feitas pelos cães e pelos gatos, galinhas, elefantes, crocodilos e patos. De onde brotou essa escória miserável que clama pelas armas, pelo armamento, pelo linchamento, pela morte de seus semelhantes? O que aconteceu na Educação que nada viu desse gigantesco tumor que se criou e desenvolveu no coração, na alma e na mente da sociedade, do mundo? A partir daqui tentarei responder à questão que me imponho. A Educação, digo logo, não é a responsável pelo estado de coisas a que chegamos. Entretanto, nela o tumor foi gerado, desenvolvido e acalentado até que agora expele pus sobre nós. Afirmo outras coisas. Foi no seio da Educação que os políticos ladrões, analfabetos, interesseiros, megalomaníacos, demoníacos, irresponsáveis plantaram a semente da peste que assola o país e o mundo. Aproveitando-se do poder e da ingenuidade dos professores que até hoje pensam ser sacerdotes do saber e do fazer que esses vampiros e sanguessugas dos cofres públicos se meteram a dizer como a educação deve ser ou comportar-se. Alheios ao mal que se instalava, estudiosos se distraíam com suas teorias e arremedos de práticas, fazendo com que os professores mudassem de pensamento e de ação a todo instante, não porque os estudiosos sugeriram, mas porque assim o queriam (e continuam querendo) os autores das leis. Eles as criaram e as tornaram vigentes, assim como se fossem profundos conhecedores do ser humano em formação. Foi assim por todo o desenvolver do processo educativo, foi assim com as reformas pombalinas, foi assim com o escolanovismo, foi assim com todas as renovações de leis de diretrizes e bases da educação nacional. Assim como estão fazendo agora com as mudanças no Ensino Médio e tantas outras imposições. Enquanto eminentes teóricos gastam seu precioso tempo estudando como uma criança se desenvolve, como um currículo deve funcionar, como um sistema de ensino deve ser profissionalizante e, também, profissional, e daí em diante. Aí chega um temeroso qualquer e diz agora eu não quero mais assim, quero assado. Aí vem um deputado ou um senador propineiro e determina que de outra forma deverá correr a Educação. E os educadores obedecendo, até porque não têm como se rebelar. E não têm porque são submetidos aos ferros dos salários de fome que os adoece e impossibilita de cuidar da própria família, quanto mais da família alheia. Aí vem um secretário qualquer e determina, ora que se promove a inclusão e ora que se promove a exclusão. Tontos e anêmicos que se encontram os professores, mudam facilmente de ideia diante da propaganda pesada sobre as melhorias que esta ou aquela coisa trará ao ensino e à aprendizagem. Chega um pai qualquer e diz que estudante só aprende se recebe disciplina e castigo, então se retorna às remotas eras da palmatória e do joelho sobre o milho. Vem uma mãe qualquer e diz à escola que faça como quiser, pois, teve tempo de fazer e parir o filho, mas forçada a também trabalhar fora de casa, nem imagina o que o filho faz pela rua. Vem um grupo qualquer da sociedade e diz que bom é na Coréia, onde todas as crianças e jovens têm desempenho genial, esquece o tal grupo que há estatísticas sobre os índices de suicídio entre a população estudantil daquele país, esquece o grupo que somos brasileiros e não coreanos e que contexto onde se nasce, cresce e morre é coisa muito mais séria do que se pode imaginar. Em meio a uma tormenta apocalíptica de palpiteiros sobre a educação, o professor é destruído e nem mais sabe qual é mesmo o seu saber ou o seu fazer. Por que os políticos não vão à missa ensinar pai-nosso ao vigário? Por que eles, os políticos, não vão para as salas de cirurgia ensinar aos cirurgiões como é que se faz uma cirurgia? Ah, sim, eles não vão porque temem que um médico paralise algum procedimento e os faça ver o diabo em carne e osso.