Aeroporto ou Campo de Pouso?
Até mesmo um técnico em aviação civil chegou a definir a diferença entre os aeroportos de Campo de Marte e o de Paraty, onde ocorreu a queda do avião que ocasionou a morte de cinco pessoas, entre as quais o ministro Teori Zavascki. Disse que “o avião saiu de um aeroporto do século XXI para outro do século XX”. Ou seja, o campo de pouso de Paraty não tem nenhuma estrutura de segurança, nem mesmo torre de controle, pelo que não pode ser chamado de aeroporto. Tudo fica a critério da habilidade do piloto e de visibilidade que lhe dê condições a uma perfeita aterrissagem.
Ainda nos 1970, portanto na segunda metade do século XX, passei por essa experiência, na condição de Radiotelegrafista de uma empresa que possuía algumas aeronaves de pequeno porte, monomotores, conhecidas por “teco-teco”. A frequência de seus voos era mais entre cidades do interior, com pequenos campos de pouso. Antes da decolagem, os pilotos pediam-nos que entrássemos em contato com a cidade do destino e indagássemos sobre tempo. A informação era dada pelo colega, completamente leigo em meteorologia. Apenas um olhar pela janela para responder se o céu estava limpo ou chuvoso. No meu caso, região sertaneja do Nordeste, quase sempre a resposta era “céu de brigadeiro”. Entretanto, certa vez, o voo se destinava a uma cidade do litoral, onde facilmente o tempo pode mudar. Feito o contato com o colega da cidade do destino, ele simplesmente respondeu que o tempo estava bom. E o piloto decolou, achando que seu pouso estava garantido. Ao se aproximar do destino percebeu que ali chovia torrencialmente. Chamou-me pelo rádio e disse-me em tom irônico: “Seu colega não entendeu o sentido da pergunta. O tempo aqui está bom para lavoura e não para avião”. E teve de voltar para o campo de origem, no nosso velho e querido sertão, onde o sol está sempre a brilhar.