Os inhoques

Coisa boa é comer um prato de inhoques! Embora a escrita correta seja gnochi, aqui no Brasil decidimos aportuguesá-lo pela pronuncia. De fato, gnochi ou inhoque tem a mesma forma de exprimir aquele saboroso prato de raiz italiana, que é um composto de farinha e batata, coberto por um espesso molho, tudo coberto por uma generosa camada de queijo parmesão ralado.

De uns anos para cá, talvez pelo lobby das “tratorias” e casas de massa ficou convencionado que o dia 29 é uma data propícia comer inhoques, que dá sorte, traz dinheiro, fortalece afetos, mantém empregos, etc.

Superstições à parte, o fato inconteste é que se trata de uma comida muito boa, saborosa e de inegável valor calórico. Recordo que minha avó, e por tradição posterior, minha mãe, fazia uns inhoques magníficos. Como é uma iguaria que dá trabalho, não pode ser feita muito seguido, pois o ato de misturar a massa, cortar as minhocas e enfarinhar tudo, além de aferventar na água, dá um trabalho danado. Dia de inhoque, lá em casa, era uma festa!

Embora muitos restaurantes façam o prato com molhos diversos, de tomate, bechamel, branco ou mesmo “calabresa”, as grandes cozinheiras afirmam que o verdadeiro inhoque é aquele que se faz com molho de carne assada, onde um pesto escuro e compacto dá o tom de gosto e de cor ao prato. Há tempos, fui em uma casa em que serviram inhoques ao "molho cuoricini" (coração de frango). Não deu para encarar.

No ano passado, Ruth (a sogra), Carmen e eu adquirimos o costume de ir, a cada dia 29 comer inhoques, cada vez em um lugar diferente. Cada um pagava uma vez. Porto Alegre tem muitas casas especializadas nesse tipo de gastronomia. Depois vieram o fim do ano e as férias, e o costume foi meio abandonado. Íamos pelo gosto e pela saída, não por acreditar que a degustação pudesse trazer aquela sorte que propalavam o comércio e os crentes.

Pois num dia desses, a Carmen estava convalescendo de uma pequena cirurgia no pé, e como não podia colocar o dito no chão, decidi fazer uns inhoques para nós, já que estávamos só os dois em casa. Na preguiça de assar uma carne na panela para fazer o molho, decidi fazer o inhoque al sugo, coberto com o simples molho pronto de tomate. Ficou bom, deu para comer, mas se tivesse feito com o molho tradicional, teria ficado muito melhor. Certamente.

O fato é que os inhoques, seja no dia 29 ou em qualquer período do mês, dão água na boca só de pensar neles. Existem muitas comidas de origem italiana, feitas de massa, como ravióli, lasanha, tortéi, rigatoni, caneloni e coisas pastas parecidas, mas nenhuma delas ocupa a posição privilegiada dos inhoques, servidos num prato vistoso, entremeado de molho e coberto de queijo.

A conversa está boa, mas é quase meio-dia, vou parar porque tem um desses me esperando.

Buon apetito!

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 01/08/2007
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