As vaias ao Presidente

Na velha Europa da década de 30, os que se opunham ao nazismo de Hitler eram vaiados, como retrógrados, ignorantes em política, etc. Naquele momento o móvel do fascismo era combater o comunismo. Assim, entre dois males (Hitler ou Stalin) os europeus preferiram optar pelo menor ou, (como afirma L. F. Veríssimo) pelo menos mau.

Era notório o entusiasmo pelo nazismo em vários setores da aristocracia européia. Suspeita-se que o rei Edward VIII foi obrigado a renunciar não só pelo seu amor a uma plebéia, mas pela sua simpatia à suástica. Não tardou para Hitler desiludir seus apologistas e a guerra falsa se transformar em guerra mesmo. O objetivo – e é o mesmo das elites do Brasil – era tomar as rédeas do poder. Mas por algum tempo os nazistas tiveram seu coro de admiradores bem intencionados na Europa e no resto do mundo – inclusive no Brasil do Estado Novo. Mais tarde estes veriam, em retrospecto, do que exatamente tinham sido cúmplices sem saber. Na hora, aderir ao coro parecia a coisa certa.

No Brasil do Lula é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisava fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice.

É o caso de Fernando Henrique Cardoso, cujo governo de oito anos foi inepto, passível de críticas e desconfianças, onde muitas CPIs sobre coisas graves não aconteceram por maioria no Congresso. Ele também foi vaiado no Maracanã. Vaiado em Florianópolis e em Recife. E é ele que hoje pretende diagnosticar a vaia (de uma minoria branca, saciada e orquestrada pelas direitas doentias) como sintoma de fim de uma era populista.

Recentemente, na Espanha, perguntei a uma senhora, sobre o Primeiro Ministro Zapatero. Ela me disse num claro sotaque catalão: “Não vai bem, mas governo é mesmo assim, às vezes erra, às vezes acerta. Mas não se pode criticar publicamente o Ministro, pois estaríamos criticando o Governo todo, e isto sempre faz mal para o País”. Confesso que essa lição de civismo me deixou pasmo. É isto que o povo brasileiro ainda não sabe.

Vaiando o Presidente vaiam o País, e se colocam a serviço dos recalcados, dos perdedores e daqueles que há várias décadas conspiram contra os interesses legítimos do povo. Vejam por exemplo, como a mídia explora o acidente de Congonhas. Os noticiários sensacionalistas cheiram a sangue e fuligem. É como se Lula tivesse colocado uma bomba no avião.

Quem vaiou (e quem aplaudiu a vaia) assume a companhia do que há de mais preconceituoso, imoral e reacionário no País, o que inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece. Enfim, antes de entrar num coro idiota e tendencioso desses, olhe em volta. Veja a quem interessa vaiar o Presidente.

Democracia e liberdade de expressão não são sinônimos de anarquia, destempero verbal e injúrias. Primeiro vem o respeito.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 01/08/2007
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