Pan: massagem no ego
Por Rodrigo Capella*
Recorde, recorde e recorde. Sim, o Pan-americano do Rio realmente surpreendeu pelo número de medalhas conquistadas e pelo desempenho de nossa delegação. Foram, como você já cansou de ouvir, 161 medalhas, 38 a mais do que o Pan-americano anterior. Além disso, nunca fomos tanto ao lugar mais alto do pódio: 54 vezes contra 29 na última competição. Alcançamos também muitos feitos: o tricampeonato na maratona masculina e no basquete masculino e a primeira medalha no badminton.
Essas conquistas, ainda muito celebradas pelo presidente Lula e pelo povo, foram na realidade uma massagem no ego de todo brasileiro. Por alguns dias, uma população que tem uma educação precária e um dos piores ínidices de leitura do mundo conseguiu sorrir e vibrar. Foi um momento de pura ilusão e, é claro, de motivação.
Mas, pagamos um alto preço ao sediar o Pan-americano: crianças analfabetas continuam na rua, adultos que nunca leram um livro pedem esmola no farol, os assaltos são cada vez mais frequentes e os desempregados rondam as agências de emprego em busca de uma oportunidade qualquer.
E o governo simplesmente ignora tudo isso como se virasse a página de um livro de conto de fadas. É, a realidade tem sido madrasta e cruel. Com o ego inflamado, o presidente vai se vangloriar ao extremo e esquecer das cinco metas essenciais: educação, saúde, saneamento básico, segurança e transporte. A educação se faz com leitura e aprendizado; a saúde não existe sem bons hospitais e sem saneamento básico; segurança é policiamento nas ruas e transporte de qualidade falta aos montes. Pan! Pan! Pan!
(*) Rodrigo Capella é escritor e poeta. Autor de vários livros, entre eles “Transroca, o navio proibido”, que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer, e “Poesia não vende”, entre outros. Informações: www.rodrigocapella.com.br