A falta que ela faz

O título deste artigo lembra a crônica de Fernando Sabino. Mas aqui não me refiro à empregada doméstica – ainda que aqui em casa esteja fazendo uma falta danada nestes dias de férias –, e sim à vírgula. Isso mesmo! Eu me refiro a esse pequeno sinal gráfico de pontuação, tão desprezado por muitos na escrita, e que erroneamente dizem ser uma pequena ou ligeira pausa respiratória na leitura. Bem, deixemos as definições e as controvérsias gramaticais, e vamos direto ao assunto aqui proposto.

A ausência ou a presença da vírgula em uma frase pode mudar completamente o seu sentido. E pode até salvar vidas. Lembro-me daquela piada do súdito que pichou um muro com carvão, foi preso e sentenciado, mas salvo pela vírgula: “Matar o rei não, é crime”. Na pressa de realizar essa porcaria chamada pichação, ele havia se esquecido da bendita orelhinha.

Revisando um texto, deparei-me com a seguinte frase: “Pelo ato de comer as pessoas exercem de alguma forma o seu pertencimento social”. Pensei logo em se tratar de um caso de antropofagia. Mas não era. Faltava uma vírgula; três, para ser mais preciso. Aqui temos uma oração na ordem inversa, não iniciada pelo sujeito, mas por um termo circunstancial. Daí a necessidade da vírgula após o verbo ‘comer’: “Pelo ato de comer, as pessoas exercem...”. Mudou completamente o sentido da frase, não é mesmo? As outras duas vírgulas também separam outro termo circunstancial, que se encontra entre o verbo ‘exercer’ de seu complemento: “... exercem, de alguma forma, o seu pertencimento social”.

Virgular bem um texto, portanto, é de fundamental importância.

Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 31/12/2016
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