SIRVA PARA VENCER

Quando começamos ler “Sirva para Vencer” de Novak Djokovic, não tem como fugir do óbvio. Trata-se de um livro de autoajuda. O que dependendo do gosto de quem lê pode ser muito bom, ou muito chato. O que também é óbvio.

Só que “Sirva para Vencer” não quer ensinar você ficar milionário, ou obter sucesso recitando mantras. Não fala das leis da espiritualidade. Que seu subconsciente pode fazer tudo por você. Sim, talvez, até ensine ficar milionário. Seria jogando tênis. Chegando ao topo como Djokovic chegou. Isso exigirá bem mais do que mantras.

As primeiras páginas são reservadas a sua infância. Recordações da guerra causada pelo fim da Iugoslávia. Bombas jogadas sobre o seu país, a hoje Sérvia diariamente. E não eram bombas de um país qualquer. Eram bombas jogadas pela OTAN.

De como ele treinava nessa época com sua mentora Jelena Gencic. Geralmente em lugares bombardeados no dia anterior. Treinavam muitas vezes sem rede. Ou dentro de piscinas das casas abandonadas com sua amiga, a também tenista Ana Ivanovic.

Então Djokovic chega ao dia da grande mudança. Quartas de final do Austrália Open, 27 de janeiro de 2010. Derrota para o francês Tsonga. A ida ao banheiro para vomitar. O que seria aquilo. O cansaço súbito. A dificuldade para respirar. O estar “quebrado”.

O que eu nunca me canso de perguntar é como os médicos e a medicina que cercam os atletas profissionais da ATP, não conseguiram diagnosticar o problema da queda de rendimento de Novak Djokovic durante os jogos. Abandonando diversas partidas.

Naquele 27 de janeiro de 2010, um nutricionista sérvio assistia sua derrota. E foi assim, a quilômetros de distância que o doutor Igor Cetojevic descobriu o que havia de errado com Djokovic. Não era asma. A causa dos seus colapsos em quadra estava na sua sensibilidade ao glúten. É disso que trata o restante do livro até a página 140.

“Sirva para Vencer” de Novak Djokovic é uma “dieta sem glúten para a excelência física e mental”. Nela o trigo comum é tratado como um grande vilão. Mesmo para as pessoas que não tem sensibilidade ao glúten. Sem a doença celíaca. Comidas de fast-food fazem com corpo, o mesmo que as bombas da OTAN faziam na Sérvia.

Acredito que foi difícil para um filho com pais donos de pizzaria, mudar radicalmente seus hábitos alimentares. O que aconteceu com sua carreira indo dos vômitos ao topo do ranking, mostrou que Novak Djokovic acertou na escolha. E seu livro ensina mudar.

“Sirva para Vencer” termina com cinquenta páginas de receitas no capítulo “O Prato do Campeão”. Ótimo para cozinheiros e quem gosta de cozinhar. Que não é a minha praia.