De repente senti falta de comer amoras, as do meu jardim, lá na frente da outra casa. A prodigalidade da minha amoreira, ano após ano, tem proporcionado muita alegria. Possuir uma amoreira no quintal agigantava meus bens. Ano a ano, a arvorezinha falava comigo, tocava eu em seus galhos longos (nunca soube a época de podar a minha amoreira. Deixava passar. E ela só crescia, seus galhos longos, que não mais alcançava…), via puxando os mais altos com um instrumento interessante, que serve para baixar o toldo da minha ex garagem. Muito prático...
Também de repente, bem de repente, percebo que gostaria de ir ao Passeio Público, olhar os macacos e as aranhas gigantes, feias e repulsivas.
Estou com vontade de ver as aranhas...
Não sei se ainda haverá por lá o tigre, a onça e o cidadão que tirava fotografias muito pouco dignas de figurar em um álbum de família.
Sei que o Pasquale não mais existe. Minha memória sente o gosto da caipirinha gelada e dos camarões fritos. Eram sempre doze, dispostos naqueles pratos ovais, disputados sorrateiramente e com uma folha de alface de cada lado que ninguém comia. Sempre os contávamos novamente. Não sei se para conferir a idoneidade do Pasquale ou se na esperança que se houvessem enganado lá na cozinha e colocado mais algum.
Eram lindos aqueles dias, e bons.
Costumava ir lá com minha amiga mais que amiga, a Isabel. Levávamos todos os nossos filhos: O Adhemar, o Marco Aurélio e o Julio César, os meus; e o Conrado, a Deborah, a Susana e a Simone, minha afilhada, os da Isa.
O dinheiro era pouco. Ambas ganhávamos como professoras. Tal acontecimento só podia ocorrer uma vez por mês, nas proximidades do recebimento dos nossos ordenados. E, ainda assim, com restrições gigantescas nos pedidos dos alimentos e das bebidas.
Íamos prevenindo as crianças já no carro, que era o meu. Todas as recomendações a elas eram poucas, para que não ultrapassassem as fronteiras restritas dos nossos bolsos.
No caminho, passávamos pelo Viveiro dos Répteis. Ali estavam as aranhas, enormes, peludas, que causavam pavor e atração a todos nós, despertando gritinhos mais agudos nos menores da turminha. Peixes de algumas espécies, eram observados com atenção pela Simone, que ficava olhando muito. Era difícil tira-la dali. As cobras, uns seres muito estranhos... não sei até hoje se as cobras me fascinam ou horrorizam. Mas acho o modo como percorrem os seus caminhos algo lindo de olhar. Um trajeto que, seja qual for, possui dignidade.
Será que as pessoas já perceberam como as cobras caminham com dignidade?
A alegria nestas tardes era muito grande. Éramos felizes e não sabíamos bem disto. Paradoxalmente, por tanto querer aproveitar, ficávamos, nós duas, Isa e eu, um pouco tensas, querendo acelerar instantes para viver os próximos. E perdíamos, então, muito do que poderia ter sido vivenciado bem devagar.
Tudo era precipitado. Tínhamos hora para voltar. A tarde voava, perdíamos o tempo escoado sem sentir.
Antes do Pasquale, mais ou menos no Centro do Passeio Publico, ficava a jaula dos leões e da onça.
Macacos assanhados despertavam a atenção de todos nós, das crianças e das duas mulheres adultas.
Cada um dizia algo que sempre se diz na frente das jaulas dos animais e, também como todo mundo, acenávamos para os macacos que, também como todos os macacos do universo, pareciam entender, sorrir, acenar, guinchar. E o pior, cometendo pequenos gestos obscenos, tão inerentes à sua espécie.
Esta falta de singularidade em nossas atitudes não parecia absolutamente nos incomodar. Éramos, realmente, um pequeno bando de nove pessoas, completamente de bem como o que significa viver, sem nenhuma grande preocupação que não a já mencionada. Retornar em horário que não despertasse anormalidades no comportamento do meu marido, no da Isa, além dos meus pais, sempre zelosos em exagero, tentando impedir passeios como este, que, para eles significava algo ligeiramente inoportuno, em um “antro de bêbados, com costumes devassos”, etc, etc.
Eles, meus pais, costumavam nos visitar ao cair da tarde. Urgia chegar antes...
Mas sei agora que não era absolutamente nada disto. Talvez na época, algo subjugada pelas intervenções alheias, justificadas apenas pelo zelo e pelo carinho, mas com uma boa dose de prepotência ao meu livre arbítrio, eu ainda tivesse dúvidas.
Ou, quem sabe, estabelecesse algum complexo de culpa, não sei mais.
Mas estou certa de que nada era tão gostoso, oportuno e maternal do que ir ao Passeio Público.
E nada mais que um ato onde imoralidade passava ao largo.
Me deu tanta vontade de comer amoras... E camarões do Pasquale. E voltar... apenas uns minutos que fossem, ao tempo de trás...
Observação: Pascoale. Restaurante traducional situado no Passeio Publico de Curitiba, Paraná.
Também de repente, bem de repente, percebo que gostaria de ir ao Passeio Público, olhar os macacos e as aranhas gigantes, feias e repulsivas.
Estou com vontade de ver as aranhas...
Não sei se ainda haverá por lá o tigre, a onça e o cidadão que tirava fotografias muito pouco dignas de figurar em um álbum de família.
Sei que o Pasquale não mais existe. Minha memória sente o gosto da caipirinha gelada e dos camarões fritos. Eram sempre doze, dispostos naqueles pratos ovais, disputados sorrateiramente e com uma folha de alface de cada lado que ninguém comia. Sempre os contávamos novamente. Não sei se para conferir a idoneidade do Pasquale ou se na esperança que se houvessem enganado lá na cozinha e colocado mais algum.
Eram lindos aqueles dias, e bons.
Costumava ir lá com minha amiga mais que amiga, a Isabel. Levávamos todos os nossos filhos: O Adhemar, o Marco Aurélio e o Julio César, os meus; e o Conrado, a Deborah, a Susana e a Simone, minha afilhada, os da Isa.
O dinheiro era pouco. Ambas ganhávamos como professoras. Tal acontecimento só podia ocorrer uma vez por mês, nas proximidades do recebimento dos nossos ordenados. E, ainda assim, com restrições gigantescas nos pedidos dos alimentos e das bebidas.
Íamos prevenindo as crianças já no carro, que era o meu. Todas as recomendações a elas eram poucas, para que não ultrapassassem as fronteiras restritas dos nossos bolsos.
No caminho, passávamos pelo Viveiro dos Répteis. Ali estavam as aranhas, enormes, peludas, que causavam pavor e atração a todos nós, despertando gritinhos mais agudos nos menores da turminha. Peixes de algumas espécies, eram observados com atenção pela Simone, que ficava olhando muito. Era difícil tira-la dali. As cobras, uns seres muito estranhos... não sei até hoje se as cobras me fascinam ou horrorizam. Mas acho o modo como percorrem os seus caminhos algo lindo de olhar. Um trajeto que, seja qual for, possui dignidade.
Será que as pessoas já perceberam como as cobras caminham com dignidade?
A alegria nestas tardes era muito grande. Éramos felizes e não sabíamos bem disto. Paradoxalmente, por tanto querer aproveitar, ficávamos, nós duas, Isa e eu, um pouco tensas, querendo acelerar instantes para viver os próximos. E perdíamos, então, muito do que poderia ter sido vivenciado bem devagar.
Tudo era precipitado. Tínhamos hora para voltar. A tarde voava, perdíamos o tempo escoado sem sentir.
Antes do Pasquale, mais ou menos no Centro do Passeio Publico, ficava a jaula dos leões e da onça.
Macacos assanhados despertavam a atenção de todos nós, das crianças e das duas mulheres adultas.
Cada um dizia algo que sempre se diz na frente das jaulas dos animais e, também como todo mundo, acenávamos para os macacos que, também como todos os macacos do universo, pareciam entender, sorrir, acenar, guinchar. E o pior, cometendo pequenos gestos obscenos, tão inerentes à sua espécie.
Esta falta de singularidade em nossas atitudes não parecia absolutamente nos incomodar. Éramos, realmente, um pequeno bando de nove pessoas, completamente de bem como o que significa viver, sem nenhuma grande preocupação que não a já mencionada. Retornar em horário que não despertasse anormalidades no comportamento do meu marido, no da Isa, além dos meus pais, sempre zelosos em exagero, tentando impedir passeios como este, que, para eles significava algo ligeiramente inoportuno, em um “antro de bêbados, com costumes devassos”, etc, etc.
Eles, meus pais, costumavam nos visitar ao cair da tarde. Urgia chegar antes...
Mas sei agora que não era absolutamente nada disto. Talvez na época, algo subjugada pelas intervenções alheias, justificadas apenas pelo zelo e pelo carinho, mas com uma boa dose de prepotência ao meu livre arbítrio, eu ainda tivesse dúvidas.
Ou, quem sabe, estabelecesse algum complexo de culpa, não sei mais.
Mas estou certa de que nada era tão gostoso, oportuno e maternal do que ir ao Passeio Público.
E nada mais que um ato onde imoralidade passava ao largo.
Me deu tanta vontade de comer amoras... E camarões do Pasquale. E voltar... apenas uns minutos que fossem, ao tempo de trás...
Observação: Pascoale. Restaurante traducional situado no Passeio Publico de Curitiba, Paraná.