Galeria de Mulatos Ilustres

INTRODUÇÃO

Como argumentamos no primeiro dos quatro artigos, sobre mulatos no Brasil, foi para reduzir a extensão do conteúdo num só artigo, que resolvemos dividi-lo nos dois anteriores “O Mulato em Nossa História”; “O Mulato na Hierarquia Social”; neste, “Galeria de Mulatos Ilustres”; e no próximo e último dessa série “O Mulato Com o Desenvolvimento Da Genética”.

Repetimos que os três primeiros tentaram tratar seus objetos discorrendo-se, sempre que possível em forma cronológica, pois foi o tempo o elemento transformador do momento inicial, o período colonial.

Assim, como numa galeria de arte são expostas pinturas, esculturas e outras formas, aqui vamos ilustrar com alguns nomes de mulatos, que se destacaram em suas atividades. Como destacaremos as mulatas em outro artigo, a galeria aqui privilegiou homens mulatos e ilustres.

Com a galeria apresentada nesse artigo, pretendemos ilustrar como os mulatos espalharam-se pelos níveis de nossa hierarquizada sociedade, bem como reforçar teses daqueles que, como: Debret (1768-1848); Manoel José Bonfim (1868-1932); Mário de Andrade ( 1893-1945); e Gilberto Freyre ( 1900-1987) negaram o determinismo racial e acreditaram ser esse caldeirão racial brasileiro promovedor de etnia ímpar e reconhecida internacionalmente.

GALERIA DE MULATOS ILUSTRES

SÉCULO XVIII

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA (Rio, 22 de setembro de 1767 — 18 de abril de 1830)

O padre mulato era neto de pardos forros como se chamavam os filhos livres de escravos.

Foi compositor de música sacra, que viveu a transição entre o Brasil Colônia e o Brasil Império. É considerado um dos maiores das Américas de seu tempo.

Além de padre e compositor, era conhecedor das ideias iluministas, regente, virtuoso do órgão e do cravo, professor renomado, autor de modinhas e, por fim, mestre de capela da Sé da cidade, posto mais importante para músicos no Brasil Colônia.

ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA, o Aleijadinho, (Ouro Preto, 29 de agosto de 1730 ou, 1738 — Ouro Preto, 18 de novembro de 1814)

Filho natural de respeitado mestre de obras e arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa, e sua escrava africana, Isabel.

Foi um importante entalhador, escultor e arquiteto do Brasil colonial.

Como entalhador, o primeiro conjunto foi o projeto da capela-mor da Igreja de São José em Ouro Preto, O conjunto mais importante é o retábulo da Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, onde a tendência de povoar com figuras o coroamento chega ao seu ponto alto, com grande conjunto escultórico representando as três pessoas da Santíssima Trindade.

Como escultor, suas maiores realizações são: os conjuntos: Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas - as 66 estátuas da Via Sacra, Via Crucis ou dos Passos da Paixão, distribuídas em seis capelas independentes; e os Doze Profetas no adro da igreja.

VALENTIM DA FONSECA E SILVA, Mestre Valentim (Serro, MG, 1745 — Rio, 1813)

Foi um dos principais artistas do Brasil colonial, era mulato, filho de fidalgo português e de africana.

Atuou, no Rio de Janeiro, como urbanista, entalhador e escultor.

Como urbanista:

Chafariz das Saracuras - realizado em 1795 para decorar o antigo Convento da Ajuda, Atualmente encontra-se na Praça General Osório, em Ipanema, no Rio de Janeiro;

Chafariz do Carmo - popularmente conhecido como Chafariz de Mestre Valentim ou Chafariz da Pirâmide, localiza-se no antigo Largo do Carmo, atual Praça XV, no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro; e

Chafariz das Marrecas - inaugurado no Passeio Público em 1789, duas figuras mitológicas em ferro: a Ninfa Eco (1783) e o Caçador Narciso (1785).

Como entalhador e escultor:

Lampadários de prata para a igreja do Mosteiro entre 1781 e 1783;

a talha do altar-mor e vários altares laterais da Igreja de Santa Cruz dos Militares; e estátuas de madeira de São João e São Mateus, na mesma igreja, para os nichos da fachada, atualmente no Museu Histórico Nacional, na cidade do rio de Janeiro.

SÉCULO XIX

FRANCISCO JÊ ACAIABA DE MONTEZUMA, visconde de Jequitinhonha, (Salvador, 23 de março de 1794 — Rio , 15 de fevereiro de 1870)

Seu nome de batismo era Francisco Gomes Brandão, filho de comerciante português com mulher parda. De origem abastada, estudou direito na prestigiosa Universidade de Coimbra, onde se formou a maior parte da elite política brasileira do século XIX, até a Independência.

Seu nome oficial foi escolhido pelo próprio, para homenagear as matrizes indígenas e africanas, bem como o explorador espanhol Montezuma.

Foi advogado, jurista e político. Destacou-se no Parlamento, no século XIX e foi ministro de várias pastas do Império na década de 1830. O Imperador D. Pedro I tornou-o nobre com o decreto imperial de 2 de dezembro de 1854.

ANTÔNIO PEREIRA REBOUÇAS (Maragogipe, BA, 10 de agosto de 1798 - Rio , 19 de junho de 1880).

Filho de alfaiate português e de escrava alforriada. Foi advogado, político e autor.

Apesar de origem muito pobre, tornou-se advogado em 1847 foi eleito seguidas vezes para a Câmara dos Deputados, a partir dos anos 30 do século XIX, ocupando, simultaneamente, também a cadeira de deputado provincial na Assembleia da Bahia. Foi conselheiro de Dom Pedro II.

ANDRÉ PINTO REBOUÇAS (Cachoeira, BA, 13 de janeiro de 1838 — Funchal, Ilha da Madeira, Portugal, 9 de maio de 1898)

Filho de Antônio Pereira Rebouças, portanto neto de alforriada, com Carolina Pinto Rebouças.

Foi engenheiro, inventor e abolicionista.

Como engenheiro ganhou fama no Rio de Janeiro, então Capital do Império, ao solucionar o problema de abastecimento de água, trazendo-a de mananciais fora da cidade. Junto com seu irmão Antonio Pereira Rebouças Filho, também engenheiro, apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto da estrada de ferro ligando a cidade de Curitiba ao litoral do Paraná, na cidade de Antonina. Quando da execução do projeto, o trajeto foi alterado para o porto de Paranaguá. Até hoje, essa obra ferroviária se destaca pela ousadia de sua concepção.

Como abolicionistas foi ao lado de Machado de Assis, Cruz e Souza, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco vozes da maior importância em prol da abolição da escravatura. Participou da criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e participou da Confederação Abolicionista e foi o redator dos estatutos da Associação Central Emancipadora.

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS (Rio , 21 de junho de 1839— Rio, 29 de setembro de 1908)

Seus pais foram Francisco José de Assis, mulato que pintava paredes, filho de escravos alforriados, e Maria Leopoldina da Câmara Machado, lavadeira portuguesa dos Açores.

Foi escritor, que escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico. Participou do movimento abolicionista.

Testemunhou a mudança política no país, quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Este romance é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, e Memorial de Aires.

FRANCISCA EDWIGES NEVES GONZAGA, CHIQUINHA GONZAGA (Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 — 28 de fevereiro de 1935)

Seus pais o general do Exército Imperial Brasileiro José Basileu Gonzaga e Rosa Maria Neves de Lima , negra de origem humilde.

Foi compositora, pianista, maestrina brasileira e militante pró-abolicionismo e contra a monarquia. Foi a primeira chorona, a primeira pianista de choro, a primeira composição de marcha carnavalesca, “Ó Abre Alas” e a primeira regente de orquestra.

Sua importância para a música brasileira é tão reconhecida que existe Decreto instituindo o Dia da Música Brasileira na data de seu natalício.

Foi mulher de vanguarda não só nas questões de política e na atividade musical, como também com relação a convenções sociais.

JOSÉ CARLOS DO PATROCÍNIO (Campos dos Goytacazes, RJ, 9 de outubro de1853 — Rio , 29 de janeiro de 1905)

Filho de João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de Campos dos Goytacazes com Justina do Espírito Santo, jovem escrava de quinze anos, cedida ao serviço do cônego por sua proprietária.

Foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros escravos ou forros.

PEDRO AUGUSTO CARNEIRO LESSA (Serro, MG, 25 de setembro de 1859 — Rio, 25 de julho de 1921)

Foi um jurista, magistrado, político e professor.

Em outubro de 1907 foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, quando da aposentadoria de Lúcio de Mendonça. Pedro Lessa era mulato e foi o primeiro afrodescendente a ser ministro do STF (o segundo foi Hermenegildo Rodrigues de Barros), 96 anos..

Como ministro do STF, foi responsável pela ampliação do instituto do "habeas-corpus" a casos não previstos na Constituição brasileira de 1891.

SÉCULOS XX E XXI

ALFREDO DA ROCHA VIANNA FILHO, conhecido como PIXINGUINHA (Rio , 23 de abril de 1897 — Rio, 17 de fevereiro de 1973),

Foi um flautista, saxofonista, compositor e arranjador.

Pixinguinha é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva.

RUBEM VALENTIM (Maceió, 9 de novembro de 1922 - São Paulo, 30 de novembro de 1991)

Graduado em Odontologia, exerceu esta profissão por pouco tempo. Pintor, escultor, gravador e professor, sendo considerado um dos grandes pintores construtivistas.

Como professor, ministrou o curso de História da Arte no Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro e, também, exerceu o magistério na Universidade de Brasília.

Sua obra faz referência às tradições populares do nordeste brasileiro e, a partir de 1950, recebeu influências das religiões de base africana, como o candomblé e a umbanda, passou afazer referência ao simbólico através de suas formas geométricas, muitas vezes presentes em signos e emblemas destas religiões.

No final da década de 1960, realizou murais, relevos e grandes esculturas em madeira.

Rubem Valentim possui obra no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

JOÃO ALVES FILHO (Aracaju, 3 de julho de 1941 - )

Engenheiro civil e político filiado ao partido Democratas.

Exerceu as seguintes funções executivas: prefeito de Aracaju entre 1974e 1977; ministro do Interior entre 1987 e1990; governador de Sergipe durante três mandatos 1983-1987; 1991-1994 e 2003-2006. E no ano de 2012 foi eleito, mais uma vez, prefeito de Aracaju.

TIM MAIA, nome artístico de Sebastião Rodrigues Maia (Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1942 — Niterói, 15 de março de 1998).

Cantor, compositor, maestro, produtor musical, multi-instrumentista e empresário.

Foi responsável pela introdução do estilo soul na música popular brasileira e reconhecido mundialmente como um dos maiores ícones da música no Brasil.

HELIO DE LA PEÑA, nome artístico de HELIO ANTONIO DO COUTO FILHO (Rio de Janeiro, 18 de junho de 1959)

Engenheiro de Produção pela UFRJ, entretanto dedicou-se pouco à profissão, tornando-se conhecido como humorista, mas, também, atuando como ator, escritor, roteirista e compositor.

Compõe o grupo humorístico Casseta & Planeta e fundou junto com Marcelo Madureira e Beto Silva, seus colegas de faculdade, a revista de humor Casseta Popular.

Com o grupo Casseta & Planeta, escreveu e atuou nos filmes "A Taça do Mundo é Nossa" (2003), direção de Lula Buarque de Hollanda e "Seus Problemas Acabaram" (2006) direção de José Lavigne.

Foi um dos redatores do programa "TV Pirata" (1988 a 1990, 1992).

Lançou O Livro do Papai (Editora Objetiva) em 2003 e o romance de humor Vai na Bola, Glanderson (Objetiva) em 2006. Adaptou "O Livro do Papai" para a televisão, criando especial em 4 episódios chamado "Paidecendo no Paraíso" (GNT, 2007).

Com Arlindo Cruz e Mu Chebabi, é autor do "Samba da Globalização", que lançou a programação da TV Globo em 2008.

JOYCE RIBEIRO (São Paulo, 23 de abril de 1979)

Jornalista e apresentadora de telejornal. Começou a carreira na televisão em 1998, na Boa Vontade TV, da LBV, em que atuou como produtora e repórter.

Na RIT, teve sua primeira experiência como apresentadora de telejornal.

De 2002 a 2005, atuou na Rede Record, como repórter e apresentadora no Fala Brasil. Posteriormente, apresentou telejornal diário na Record Internacional.

A partir de fins de 2005, foi para o SBT, onde apresentou a edição matutina do Jornal do SBT, passando a seguir a apresentar a previsão do tempo do extinto SBT São Paulo. Atuou como apresentadora em vários programas da SBT e a partir de Setembro de 2014, assume o comando do Jornal da Semana SBT.

ILDIMARA DA SILVA E SILVA, conhecida como ILDI SILVA (Salvador, 8 de outubro de 1982)

Atriz e modelo. Descende de holandeses, africanos e índios. Descendência comprovada quando submetida a testes de ancestralidade genética: 71,3% europeia; 19,5% africana; e 9,3% ameríndia.

Iniciou sua carreira como modelo e, após participar de várias campanhas publicitárias, surgiu convite para participar do grupo de teatro dirigido por Wolf Maya.

De 2003 até 2008 atua na Rede Globo com destaques para: Quem vai Ficar com Mário? – Suelen (2004); Paraíso Tropical – Yvone (2007)...

Em 2009 é contratada pela Rede Record, para atuar na novela Bela, a Feia.

Em 2011 a atriz retorna a Rede Globo para interpretar Lídia na novela Morde & Assopra e, a seguir, interpreta Quitéria em Gabriela (2012)...

Depois de gravar participação em "Lilyhammer", série da Netflix, Ildi Silva decidiu se mudar de vez para o exterior, para estudar e fazer trabalhos internacionais. Só vem ao Brasil, para fazer trabalhos específicos.

DAIANE GARCIA DOS SANTOS (Porto Alegre, 10 de fevereiro de 1983)

De origem europeia, africana e indígena, conforme constatada em análise genética de ancestralidade: 40,8% europeia; 39,7% africana; e 19,6% ameríndia.

Ginasta, que competiu em provas de ginástica artística.

Daiane foi a primeira ginasta brasileira, entre homens e mulheres, a conquistar medalha de ouro em edição do Campeonato Mundial.

Fez parte da primeira seleção brasileira completa a disputar edição olímpica – nos Jogos de Atenas -, repetindo a presença nas edições seguintes, nas Olimpíadas de Pequim e Olimpíadas de Londres.

Daiane possui ainda dois movimentos nomeados, após ser a primeira ginasta no mundo a realizá-los: o duplo twist carpado, ou Dos Santos I, e a evolução deste primeiro: o duplo twist esticado, ou Dos Santos II.

CONCLUSÃO

Essa pequena galeria, ilustra muito bem como os mulatos brasileiros espalharam-se nos mais diversos níveis da hierarquia social.

Encontramos desde nobre, e, também, como político, ou gestor público. Presença em todas as artes e no magistério.

A característica comum na maioria dos exemplos dos séculos XVII, XVIII e XIX é que tiveram como mãe negra escrava, ou mulher parda, ou mulata e, como pai o português nascido lá ou cá, ou, deles descendente.

Os exemplos dos séculos XX e XXI já não tem essa preocupação de identificar a maternidade e a paternidade, pois a genética, não deixa dúvidas de que a maioria dos brasileiros é mestiça, com origem paterna europeia e, mãe materna ameríndia ou africana.

A genialidade de muitos dos exemplos fortalece as teses daqueles que, como: Debret (1768-1848); Manoel José Bonfim (1868-1932); Mário de Andrade ( 1893-1945); e Gilberto Freyre ( 1900-1987) negaram o determinismo racial e afirmaram ser a miscigenação promovedora de etnia ímpar, possuidora de imenso potencial.

FONTES

LIVRO: Casa Grande e Senzala – Gilberto Freire

SITES:

Blogs.oglobo.globo.com;

franca.unesp.br;

terramagazine.terra.com.br; e

pt.wikipwedia.org

J Coelho
Enviado por J Coelho em 09/11/2016
Código do texto: T5817842
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