A HERANÇA DA PRIMAVERA ÁRABE

As notícias e imagens de Aleppo, indignando o mundo são, talvez, o maior exemplo da herança trágica que deixou rastros em vários países árabes. E ficou conhecida como “Primavera Árabe”. Mais triste é saber que indignação tem prazo de validade curto.

A “Primavera Árabe” levou o povo às ruas. Ao todo, os eventos ocorreram em 22 países. As consequências tiveram escalas variáveis. Em alguns os protestos duravam dias. Em outros, meses. Uns foram pacíficos. A maioria transformou-se em revoltas sangrentas.

A “Primavera Árabe” trouxe outra variável para a equação. Foi uma espécie de batismo de fogo das redes sociais. Que depois seriam usadas da mesma maneira nos protestos brasileiros. E nem é preciso lupa para admitir que o barulho tanto aqui, como lá, só aumentou porque a mídia entrou em cena. Na verdade nada mudou lá, e nem aqui.

Outra coisa é importante ressaltar. Antes da “Primavera Árabe” explodir, aqueles países permaneciam nas mãos das grandes potências mundiais. Que até entenderem o que acontecia, ficaram em cima do muro. Depois apoiaram os protestos. Armamentos foram enviados. Meia década depois, permanecem nas mãos das grandes potências mundiais.

A não ser por três países, não conto Iêmen e Tunísia, o capítulo “Primavera Árabe não ganharia mais que uma página na História.

No Egito o ditador Hosni Mubarak, apoiado por décadas pelo Ocidente foi derrubado. O governo que se formou na sequência também foi. Hoje é governado por um “Conselho Supremo das Forças Armadas” Reparem no “Supremo”. E que surpresa. Apoiado pelo ocidente. O que mudou no Egito desde então?

Na Líbia, o ditador Muammar Gaddafi não teve a mesma sorte de Mubarak. Foi preso e assassinado pelos rebeldes. Gaddafi era aquele tipo de ditador que fazia biquinho para o Ocidente. Quando todos estavam olhando os biquinhos eram retribuídos. Sem ninguém olhando viviam de “tititi”. O que mudou na Líbia desde então?

É na Síria que a herança da Primavera Árabe” continua viva e manchada de sangue. Uma guerra sem fim. É aqui que aparece toda a vergonha promovida pelo Ocidente. A ajuda humanitária precisa de um acordo entre Estados Unidos e Rússia para chegar. Inocentes mortos? Um país destruído? E daí? O que importa é manter o poder sobre a região. A mão asfixiando e também suja de sangue. O que mudará na Síria?

E se diretamente não podemos culpá-la, da “Primavera Árabe” emergiu o Estado Islâmico. Terra arrasada é um cenário perfeito para que o pior predador mostre todas suas habilidades sanguinárias. E neste quesito, eu diria que o Ocidente e o Estado Islâmico têm poucas diferenças. É predador contra predador. O resultado? Carnificina!