Lundu, Canto e Dança Mestiça

INTRODUÇÃO

È evidente que a música brasileira acompanhou a formação de nossa etnia, fruto do encontro do que poderíamos denominar de matrizes do povo brasileiro: o nativo indígena; o colonizador português; e o escravo africano.

Com certo exagero, podemos afirmar que na música a matriz indígena é quem teve menor participação, devido ao fato de o colonizador impor sua música no trabalho de catequese e, também, pelos indígenas adotarem, para preservação, comportamento arredio e se afastaram para regiões protegidas de contato com o colonizador.

Assim, os indígenas deixaram seus traços na construção da musica brasileira, apenas em alguns gêneros, principalmente, folclóricos, mas de forma bem passiva, perante a imposição da cultura colonizadora.

Podemos dizer que o grande marco como origem da música brasileira é a chegada da corte portuguesa, em março de 1808. Dom João VI constatou, que as grandes paixões da elite europeia como: ópera; teatro; e as orquestras não faziam parte da vida da capital da colônia, o Rio.

O Brasil passou por um período de desenvolvimento, que foi acompanhado pela educação, inclusive a musical com a criação de conservatório. O Rei D. João VI trouxe cantores e músicos de Lisboa e da Itália.

Óperas e apresentações musicais supriram a lacuna encontrada e satisfizeram as exigências da corte. A seguir, as melodias das músicas populares europeias como a polca, a valsa, schotischs e tangos tomaram as ruas e os salões de baile, ajudando a criar um mercado de trabalho para os músicos.

Os escravos negros tiveram o mesmo caso de dominação cultural que os índios, mas sua música teve maior participação para a formação da música popular brasileira atual.

A maior influência africana na construção da musica brasileira, veio da diversidade de ritmos, danças e instrumentos, que tiveram papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica

Os primeiros exemplos de música popular no Brasil datam do século XVII, como o Lundu.

O QUE É O LUNDU

O lundu também chamado landum, lundum, ou londu é música e dança brasileira de origem afro-luso-brasileira, criada a partir dos batuques dos escravos.

O lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil.

No período da escravidão, os negros realizavam suas tradições religiosas, cantavam e dançavam para manifestação de sua cultura. No final do século XVIII, o Lundu já se torna presente tanto no Brasil quanto em Portugal, tendo influência cultural de tais países.

Da África, o lundu arrumou a base rítmica, certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual.

Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afro-brasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim.

HISTÓRICO

Em Portugal o lundu recebeu polimentos da corte, como o uso dos instrumentos de corda, mas fora proibido por D. Manuel devido “contrariar aos bons costumes”. Já, quando chega ao Brasil direto de Angola, mantém as primitivas características, que incomodaram a sociedade lisbonense: jocoso, mordaz, sensual e de "natureza licenciosa" para os padrões da época.

Tanto no Brasil como em Portugal, aparece como dança sem cantoria e nos finais do século XVIII, o lundu evolui como forma de canção urbana, acompanhada de versos, na maior parte das vezes de cunho humorístico e lascivo.

Em terras brasileiras, a dança do lundu foi cultivada por negros, mestiços e brancos.

No século XIX, considerado ritmo dominante e aceito pelos brancos, o Lundu tornou-se popular dança de salão, sendo apreciada inclusive nos salões do Império.

No início do século XX, deixa de ser símbolo de identidade. É proibido por decreto e por ser considerada dança que atentava ao pudor, por imitar o ato sexual. Sai de evidência, mas deixa seu legado, principalmente no que tange ao ritmo sincopado, no maxixe.

Contudo, alguns escravos continuavam as escondidas a cultivá-la. Tempos depois, o decreto caiu no esquecimento e o Lundu passou a ser aceito e praticado, mantendo sua principal vertente, que é a sensualidade e tornando-se manifestação folclórica.

Atualmente, essa dança é praticada em alguns estados do Brasil, principalmente na Região Norte e mais especificamente na Ilha de Marajó, no Pará. Paradoxo, certamente, pois é nessa região onde a influência do índio foi muito mais marcante.

MOVIMENTOS CARACTERÍSTICOS DA DANÇA

A dança simboliza um convite que os homens fazem às mulheres "para um encontro de amor sexual". No início as mulheres se negam a acompanhar os homens, mas, como sempre, a grande insistência vence a resistência.

Os dançarinos fazem movimentos de grande volúpia, lascivos e lúbricos. Apresentam rebolados e maneios dos quadris evidenciando a sensualidade da dança.

O lundu possui também influências portuguesas no que diz respeito aos movimentos de sapateados, posturas do corpo, elevação de braços acima da cabeça e marcação com os pés ao ritmo da música.

ACOMPANHAMENTO MUSICAL

Devido ao Lundu que chegara de Portugal, já com as influências dos portugueses, mais as influências da virada cultural ocorrida com a vinda de Dom João VI e a corte foi acrescentado aos instrumentos de origem africana, outros instrumentos, para a execução do rimo e melodia do Lundu.

Os instrumentos utilizados para o acompanhamento do Lundu são: rabeca (violino), clarinete, reco-reco, ganzá, maracás, bandolim e cavaquinho.

COREOGRAFIA

Atualmente, a coreografia é dançada em roda, de maneira descontraída, mas sempre respeitando as tradições culturais.

Músicos iniciam o ritmo do lundu e as pessoas, que querem dançar, aproximam-se entrando na dança.

O sinal da viola é emitido e a primeira dançarina abre espaço no centro da roda que logo se forma com o grupo. Assim, ela inicia seus movimentos e convida alguém para acompanhá-la e depois substituí-la. Esse alguém pode ser homem ou outra mulher, o convite é feito por gestos de batidas dos pés ou palmas diante da pessoa escolhida.

Desta forma, a dança segue alternando os dançarinos. Entretanto, se houver o convite de dança com umbigada, algazarra no grupo é comum acontecer, pois esse é momento da representação do ato sexual no movimento.

No meio da roda, os dançarinos realizam as movimentações marcantes do lundu, com rebolados, braços das mulheres para cima e dos homens para baixo, pernas flexionadas e um sapateio em que a planta do pé bate no chão, ao ritmo da música.

INDUMENTÁRIA

A dança do Lundu sofreu modificações para diversas adaptações locais, no que diz respeito a ritmos, movimentos e indumentária. Assim, vamos descrever as da região do Marajó, pois é um dos pontos onde se faz grande esforço para manter a tradição. Tanto que é conhecido como Lundu marajoara.

As mulheres usam saias longas, rodadas e estampadas com cores fortes, blusas branca, curtas e de rendas, utilizam também pulseiras, colares, brincos vistosos e flores para enfeitar o cabelo.

Já, os homens vestem-se com calças largas e brancas e bainhas enroladas nos pés. Normalmente dançam nus da cintura para cima. Quando vestem blusas são de mangas compridas, enroladas na altura do umbigo e estampadas com desenhos marajoaras.

Os pares apresentam-se sempre descalços. A vestimenta da dança do Lundu assemelha-se com a indumentária da Dança do Carimbó, muito praticada na região do salgado paraense.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de termos tomado como exemplo o Lundu Marajoara e o fizemos por ser lá reduto importante de preservação da dança, existe em outras regiões, como ocorreu em recente a iniciativa de grupos culturais do entorno do Distrito Federal.

Durante a pesquisa encontramos referências à proibição de umbigada entre parentes próximos – pai e filha, mãe e filho, padrinho e afilhada... Proibição, que pode muito bem indicar compreensão, naquela época, da umbigada como representação do ato sexual.

Deixamos a finalização deste artigo, para Oliveira Martins, no volume II de seu livro publicado em Lisboa, em 1920: “Havia mulatos célebres, aplaudidos nos salões por darem ao lundum um acento libidinoso como ninguém: era uma feiticeira melodia sibarita, em lânguidos compassos entrecortados, como quando falta o fôlego, numa embriaguez de sensualidade voluptuosa.”

FONTES:

brasilcultura.com.br;

cdpara.pa.gov.br;

dicionariompb.com.br; e

pt.wikipedia.org.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 18/10/2016
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