A PREVIDÊNCIA ELITIZADA

Não importa como o governo Temer terminará. Sua marca na História já foi escrita. “O governo dos cortes”. E pior. Com a aprovação da PEC 241, Temer poderá ainda um dia, ser comparado com Collor de Mello. A PEC 241 é um plano econômico disfarçado.

E não ficamos apenas nisso. Com a aprovação dos cortes, chegará a vez da reforma da previdência. Novamente com todo o ônus depositado na conta de quem vive na base da pirâmide social. Muitos afirmam que a previdência no Brasil acabará. Tenho outra teoria. Ela será elitizada. Falarei disto mais adiante.

A ideia para este artigo chegou assistindo a entrevista do presidente Michel Temer a jornalista Miriam Leitão. Quando perguntado com que idade se aposentou, o presidente rindo disse textualmente: “Tenho até vergonha de dizer”.

E se até aí não havia nenhuma novidade, o que ouvi em seguida me surpreendeu. Temer deu-se ele próprio de exemplo para o aumento da idade. “Viu, e ainda estou aqui trabalhando”. E que me levou mentalmente a perguntar: E Michel Temer alguma vez “trabalhou” na vida? É claro que não! Nem a noção do que é “trabalhar” ele tem.

Suas declarações, no entanto, serviram para clarear alguns aspectos da reforma da previdência. Ela está sendo idealizada com o olhar elitizado. Atingir a idade proposta para quem nunca tirou a bunda da cadeira. Nunca saiu do escritório, ou do gabinete é uma moleza. Temer serviu de fato como um bom exemplo.

Vou fazer hipoteticamente uma analogia do trio que comanda o Brasil, com eles em profissões que exigisse “trabalhar”. Imagino os três louquinhos por um sofá macio no fim do dia. Uma água “mineral”. Sem chances de chegarem aos sessenta e cinco anos “trabalhando”. E que eu esteja errado. Talvez, doentes e comprando remédios.

Michel Temer seria um ótimo estivador. Henrique Meirelles, se fosse tão ruim em outra profissão como é economista, certamente estaria desempregado bem antes dos cinquenta anos. Bonzinho que sou, dou-lhe um “trabalho” na construção civil. Eliseu Padilha, bem, esse nunca encontraria “trabalho”.

Nestas profissões, e faltando uma década e meia ou mais, para atingirem a idade limite que a reforma que implantar, o que os três estariam pensando deles próprios? Existem ainda, duas outras variáveis não postas na equação. Expectativa de vida não quer dizer necessariamente “saúde”. No Brasil então... Aqui no Sul ficaríamos em média 15 anos aposentados, enquanto no Nordeste, a média cairia para cinco anos. É justo? Não é!

A proposta de uma previdência elitizada está em gestação. Em “2060”, ela não estará “quebrada”. Na base da pirâmide 75% continuará “apenas contribuindo”, para o topo da pirâmide se aposentar e aproveitar. Sem nunca precisar pensar em “salário-mínimo”.