A MAMÃE DA FARTURA
Artigo de:
Flávio Cavalcante
Artigo de:
Flávio Cavalcante
Em passeio pelas terras alagoanas me deparei com um cenário que fiquei feliz e estupefato ao mesmo tempo no sentido da palavra. Um presente da natureza que a retina agradece e entristece ao ver tanto descaso das autoridades do lugar. A visão do pôr do sol da famosa lagoa Mundaú é de fato de tirar o fôlego de qualquer turista que passar por aquele lugar. Estupefato pelo descaso dos governantes dando uma conotação de falta de respeito pelo povo e uma agressão física e moral à natureza que arfa diante de um sol escaldante quase implorando para não perecer uma riqueza farta dada pela mamãe da fartura a natureza.
A Lagoa mundaú naquele lugar visitado em Alagoas, onde a água salgada do mar se encontra com a água doce do rio Mundaú e recebe a deságua da lagoa Mangoaba formando a imensa lagoa Mundaú. A água é salobra e tem o ph diferenciado próprio no mundo para a produção do Sururu. Este que alimenta todo o Estado de uma fartura sem igual. O sururu é uma espécie de marisco envolvido por uma concha ovalada e densa de coloração preta. Pescado artesanalmente por pescadores que dispõem de canoas e a maioria mergulha nas águas salobras tirando da lama o prato típico de um sabor próprio e único.
O trabalho de limpeza também artesanal, naturalmente por mulheres do lugar e tem um segredo que só o alagoano sabe o ponto certo. Muitos preferem fazer o sururu de capote. É o mesmo marisco sendo que ainda dentro da concha.
Em visita ás margens da lagoa Mundaú, vi que o sururu depois de pescado é colocado num tacho, lavado e tirado a lama que fica grudada de um a um. Muito bem cuidado na limpeza, aquele marisco é vendido ainda dentro da concha fechada se preferir. O preparo é na água fervente com todos os temperos. Com a alta temperatura a concha se abre naturalmente na panela e apura o tempero à gosto do consumidor. Comer sururu na concha lá no lugar é chamado Sururu de Capote. Um prato delicioso e típico dos alagoanos.
O despinicar é um linguajar típico da região que quer dizer separar a lama do capote e também em água fervente e com uma peneira separa o sururu que parece um mexilhão em miniatura. O trabalho artesanal e cuidadoso para apartar do capote eleva um pouco o valor do produto, mas, fica acessível a todos, principalmente aos consumidores de baixa renda.
Na margem da lagoa são mais de 3.000 pescadores que diariamente saem para pescar e sempre voltam com as suas canoas cheias de uma grandes variedades de peixes.
Apesar da crise no país, Alagoas tem essa riqueza farta que alimenta toda população e ainda produz para vender em mercados populares buscando um aumento na renda familiar. Deixando claro mais uma vez que é uma fartura própria do lugar que a mamãe Natureza dá de presente. Além do sururu, a lagoa fornece um imenso acervo de peixes como o Mororó, Moré peixes típicos da região também de um sabor ímpar, além das lagostas que a lagoa fornece também com riqueza e fartura. O Camarão Barba Roxa, conhecido por turistas que só tem lá na lagoa mundaú por ter um sabor diferenciado. Acredita-se que é o sal da água na medida certa que dá o tempero certo para compor tanto sabor aos produtos.
A paisagem é de tirar o fôlego, fica localizada no Vergel do Lago, bairro humilde da capital, abandonado pelas autoridades governamentais que é notória a preocupação com apenas o benefício próprio dos governantes.
Em entrevista com um dos moradores que pesca o Sururu, delatou que é de fazer chorar os vários canais em pontos estratégicos de despejos de dejetos públicos vindos de vários bairros da cidade e são jogados às Margens da lagoa. Um lugar abandonado, amplo que bastaria um interesse político sério para cuidar de um bem tão precioso que muitos gostariam de possuir e os poderosos da própria casa não dão o devido valor.
No Vergel às margens dessa lagoa ainda se encontra uma história viva pouco conhecida pelos próprios alagoanos. Os Holandeses há séculos atrás exploraram o lugar e construíram uma pista de pouso e decolagem de aviões com rampas de aeronaves com um alto declive. A rampa era móvel toda feita de ferro fundido. A aeronave pegava impulso depois que a rampa era erguida e sobrevoava a linda lagoa. Há também escombros do outro lado da margem de uma antiga casa que segundo os anosos do lugar era também dos Holandeses e lá eles depositavam pólvoras. Fica localizado do outro lado da margem no canal grande que hoje em dia está coberto pelo mangue. Segundo moradores, quando criança iam a essas casas pegar pólvoras para brincar na rua. Essa história é morta hoje em dia porque nunca apareceu um historiador com interesse de buscar a fundo uma pesquisa que certamente seria um ponto turístico no Estado e ninguém sabe o motivo dos Holandeses terem deixado o lugar com toda aquela estrutura que ainda hoje permanece intacta em forma de sucata.