O TELEJORNALISMO NA TRAGÉDIA DE CONGONHAS

Desde a última terça 17, temos acompanhado boletins e plantões em todos os canais de tv brasileiros. Inclusive reportagens especiais e históricas sobre outras tragédias e acidentes aéreos no Brasil e no mundo. Até o PAN perdeu o brilho e a magnitude que o telejornalismo brasileiro mostrava até então.

Como crítica e acadêmica de Jornalismo, me envergonho de alguns de nossos jornalistas, mesmo dos que considero exemplos na profissão. A pressa pela apuração nas informações e a luta pela maior audiência têm afetado, infelizmente, uma cobertura realmente séria e informativa sobre os fatos. Boa parte dos telejornais se preocupa em debater as causas e hipóteses do acidente e seus possíveis culpados. Fala-se do PT, do Lula, da pista, do piloto, de problemas mecânicos, do piloto, do peso da aeronave... A tv brasileira está saturada deste terrível fato, não se fala em outra coisa, e na minha opinião, de acordo com as teorias que estudei até o 6º semestre, penso que isso só vem a prejudicar, porque as pessoas, literalmente, não agüentam mais, não dão mais atenção a este "bombardeio" de notícias.

Sim, estou estarrecida até agora, e de luto. Sou gaúcha, amo de coração esta terra e este povo, e admito, como todos, bairrista também. As vítimas merecem todas as homenagens e muito mais. Mas não é esta a questão que critico e sim a posição da mídia. É com pesar que escrevo isto. Amo esta profissão, não me vejo fazendo outra coisa. Até porque penso que temos as melhores condições de ter um telejornalismo comparado a de grandes países, temos uma das maiores emissoras no mundo, boa infra-estrutura e bons profissionais.

Outro ponto que deixa a desejar é o respeito e consideração com os familiares das vítimas, procuradas para entrevistas. Cito aqui, quando foi suposto que a culpa era por um erro do piloto, e aí o que se fez? Depois de estraçalharem sua imagem procuraram o pai do piloto para suas considerações sobre o acidente. Mais um erro é que desde a tragédia fala-se sobre o número de corpos que ainda não foram identificados. Depois de todas as críticas feitas pela demora, a Rede Globo (a que acompanho com maior freqüência) mostrou uma reportagem especial para mostrar que muitas vítimas do "11 de setembro" até hoje não foram identificadas. E erros se repetem na cobertura telejornalística, fala-se da apuração dos dados da caixa-preta, mas esqueceram que os dados do acidente da Gol, no ano passado, foram precisos 6 meses para a codificação, e se eu leio isso em um jornal do interior, como as grandes emissoras se esquecem disso?

Por tudo isso, a conclusão a que chego, infelizmente, é que o telejornalismo ainda não está preparado para grandes tragédias. Sem falar do sensacionalismo que está sendo praticado. Sinto vergonha até de mim, como futura jornalista. Onde está o respeito com os familiares? Onde está a ética (simplesmente por maior audiência)? Tantas hipóteses surgem, mas pelo menos deve-se esperar o resultado oficial para qualquer afirmação. Espero ver mais profissionalismo nos telejornais e próximas notícias sobre este incidente.

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