A maldição do analfabetismo emocional
Até o ano de 2010, eu era um analfabeto emocional. Diferente do analfabetismo intelectual onde o indivíduo tem consciência de que não sabe ler e escrever, o analfabeto emocional não tem a percepção da sua falta de conhecimento.
Um indivíduo analfabeto emocional desconhece coisas básicas sobre o que são as emoções, como elas funcionam e como influenciam a sua vida diretamente. Hoje a ciência nos comprova que o ser humano é uma criatura muito mais emocional que racional, sempre que tomamos uma decisão “racional” estamos carregados de emoções, não possuímos a capacidade de sermos absolutamente racionais, não somos máquinas.
As emoções são um sistema complexo de reação do organismo de modo químico e absolutamente automático. Para melhor entendermos irei exemplificar: imagine-se fazendo uma trilha com seus amigos em um lugar paradisíaco, você esta apreciando a paisagem e inesperadamente percebe uma cobra muito próxima a você! A mera informação de “cobra” em seu cérebro vai acionar um sistema emocional que chamaremos carinhosamente de “sistema de perigo”, uma reação bioquímica em seu organismo será iniciada. Suas pupilas se dilatarão para melhorar sua visão; o sangue em seu estomago diminuirá (famoso frio na barriga) e será direcionado para os músculos das pernas, braços e costas; sua digestão será paralisada e caso possua resíduos em excesso, seu corpo irá descarta-lo para facilitar sua fuga. Tudo isso entre vários outros fatores acontecem em seu organismo em menos de meio segundo, uma velocidade surpreendente e absolutamente automática, não possuímos a capacidade de controlar esses estímulos, eles funcionam como um sistema de reação em nosso corpo quando um gatilho é acionado.
Entendendo como as emoções reagem em nosso corpo quebramos o paradigma de “controle suas emoções” e temos a famosa pergunta. Como podemos desenvolver o equilíbrio emocional se não podemos controlar efetivamente as emoções? A resposta é absolutamente simples: Monitorando os gatilhos que acionam as reações emocionais.
Imagine que cada gatilho seja um interruptor que quando acionado ilumina-se como uma lâmpada em seu cérebro, iniciando um “sistema de reação”, por exemplo, o “sistema de perigo” que foi iniciado pelo gatilho “cobra” na trilha. O gatilho é o estímulo que aciona o sistema cerebral, é no gatilho que as pessoas com alto grau de inteligência emocional trabalham para se manterem equilibradas não se tornando reféns de suas emoções.
Cabe a você desenvolver o autoconhecimento e identificar quais circunstancias acionam os seus gatilhos para que consiga evitar situações de vulnerabilidade sobre a emoção que você precisa manter equilibrada.
Imagine por um momento; Um coordenador de temperamento explosivo, esta em reunião com sua equipe debatendo o rendimento insatisfatório da área de vendas. No decorrer da reunião, alguns membros começam a questionar a estratégia definida pelo gestor, o tom de voz dos participantes torna-se um pouco mais exaltado. Estando confrontado e sabendo que esse é um dos principais gatilhos para acionar a “lâmpada da impulsividade” o gestor sugere uma pausa para o “cofie break”, pede que todos os participantes organizem suas ideias e que apresentem uma estratégia para discutir as possibilidades em uma hora. Tempo suficiente para os estímulos emocionais abaixarem e todos estarem mais equilibrados com ideias para solucionar o problema.
Se este gestor não tivesse autoconhecimento e fosse um analfabeto emocional, a reunião continuaria, os ânimos iriam se inflar podendo sair do controle. Sua reação provavelmente não seria tão amistosa e poderia criar atrito com os integrantes mais sensíveis do grupo, um prejuízo para seu dia, para sua relação com seus liderados, para a sua reputação com seu diretor, para sua imagem como profissional e para o grupo como um todo. Mas mesmo assim ele não teria essa percepção, estaria cometendo o autoengano e alegando que estava em sua razão devido a circunstancia. Enquanto na verdade, por mais que ele acreditasse em sua justificativa, não mudaria em nada o impacto negativo causado em sua vida.
O que aprendemos durante a nossa formação acadêmica resume-se de modo geral a inteligência cognitiva. Aprendemos e desenvolver o raciocínio lógico, a memória e a capacidade de interpretar conceitos do mundo. O analfabeto emocional investe apenas no aumento da sua capacidade intelectual, pois pensa que isso é o mais importante, por que não consegue perceber a magnitude de como a inteligência emocional lhe afeta em todos os setores da vida.
Eu mesmo tenho amigos brilhantes intelectualmente, que possuem um grau de inteligência emocional rudimentar. São pessoas com aptidões extremamente afiadas quando relacionadas ao raciocínio lógico e conhecimentos técnicos, que possuem uma excelente desenvoltura em concursos públicos e testes similares. Mas são dominados por suas emoções hoje, como eram dominados quando possuíam 10 anos de idade.
Importante lembrar que o analfabetismo emocional, não se limita apenas as pessoas instáveis ou a indivíduos de temperamento explosivo, mas principalmente as pessoas que se desiludem rapidamente com um objetivo ou perspectiva de carreira, pessoas sem convicção do que estão fazendo, pessoas que se desmotivam tão rapidamente encontram dificuldades no percurso, pessoas que começam vários projetos e nunca os concluem, pessoas como eu em 2010, buscando uma promoção em uma empresa multinacional, sem ter a menor noção de como meu comportamento limitava-me no ambiente corporativo. Eu nunca me perguntava como transmitia aos outros minhas ideias. Como eu reagia às opiniões das pessoas quando eu discordava. Como influenciava as pessoas de modo negativo desnecessariamente. Como tratava todos da mesma forma, não me importando com a sensibilidade apropriada para perfis diferentes de indivíduos, fossem eles introvertidos, extrovertidos, sensíveis ou inflexíveis. Lamentavelmente, eu era um ignorante emocional, acreditava que as pessoas deveriam se adaptar a mim e não que era minha responsabilidade adaptar-me a cada situação.
Hoje vejo que o preço que paguei pela falta de inteligência emocional foi alta e desnecessária, praticamente sabotei a realização de vários relacionamentos profissionais, alguns bons projetos, inúmeras oportunidades, possivelmente limitei meu sucesso de vida e evolução como indivíduo enquanto ignorava a importância da inteligência emocional em meu dia a dia. Não cometa o mesmo erro!