Vivendo em Séculos Diferentes
Nascido ainda na primeira metade do século XX, atravessei a segunda metade daquele século para hoje viver a primeira metade do século XXI. Com pouco mais de sete décadas na corcunda, posso bem perceber a evolução econômica e social do nosso país, trazendo maior conforto para os viventes atuais. Vi muitos nordestinos embarcarem num pau-de-arara, com destino a São Paulo, fugindo da seca. Nem preciso detalhar os motivos, pois já estão muito bem explicitados na música “Triste Partida”, sucesso de Luiz Gonzaga, composição de Patativa do Assaré, poeta cearense, matuto que teve a hora de receber título de Doutor Honoris Causa.
Enquanto o pau-de-arara já representava uma evolução, gastando apenas uma semana de viagem, conheci casos em que o migrante levava até um mês, utilizando-se dos mais diferentes de tipos de transporte, em vias fluviais, ferroviária e rodoviária, com inúmeras baldeações. Retrocedendo ao século XIX, quando tivemos a visita do Imperador Dom Pedro II, navegando pelo rio São Francisco, facilmente deduzimos a lentidão de seu deslocamento, hospedando-se em pequenas cidades ribeirinhas, sem o devido conforto. Hoje, não lhe faltaria uma aeronave de grande porte nem hotel cinco estrelas para a maior autoridade do país. Até nós, cidadãos comuns, vamos a qualquer capital brasileira, chegando no mesmo dia, mesmo que haja algumas conexões. E, se o destino é São Paulo, Rio ou Brasília, em voos diretos, basta-nos um pouco mais de duas horas. Quanta diferença!
Somos privilegiados pela época em que vivemos. Imagine o que virá para as gerações futuras.