Veneza não é triste

Há questão de uns quarenta anos ganhei de minha mãe um disco de Charles Aznavour, “Que c´est triste Venice” (Como é triste Veneza!), que faz parte de meus “hits” até hoje, com o advento dos CDs e do MP3.

Pois a música começava dizendo “Que c'est triste Venice, au temps des amours mortes. Que c'est triste Venice. Quand on ne s'aime plus” (Como é triste Veneza, no tempo dos amores mortos, como é triste quando não se ama mais). Por essa melancolia eu sempre agregava uma ponderável dose de tristeza à cidade que não conhecia, associando amores desfeitos e sonhos perdidos. A empatia que o autor/cantor me passava era exatamente assim: Veneza é triste como a canção.

Recentemente tive a oportunidade de conhecer Veneza. Á medida que se percorre a estrada que vai do Aeroporto à ilha (eu não sabia que Veneza era uma ilha ligada por pontes ao continente, que eles chamam de “Mestre”) começam a surgir os cenários fabulosos de um lugar único no mundo, onde o automóvel é substituído por lanchas, barcos e gôndolas. A passagem pelo porto onde se divisa as altas chaminés dos transatlânticos já revela a chegada num lugar diferente, onde a água domina toda a paisagem. Há um momento em que a via rodoviária termina, e dali só se prossegue de lancha-taxi, que nos deixa no coração da ilha: a Praça de São Marcos.

A partir dali tudo é belo, fantástico, meio irreal até. Trata-se de uma cidade medieval, construída na beira d´água, que foi sede dos famosos mercadores e navegadores venezianos. Embora cobiçada, nunca foi tomada por nenhum inimigo, tudo por conta do sistema de segurança de seus canais, que eram capazes de confundir (e fazer encalhar os barcos) os invasores.

É uma cidade de turismo, com muitos museus, igrejas e locais de tradicionais visitas. A par disto, fiel às origens, há lojas de sofisticado comércio, que vende produtos das grifes mais famosas. Fascinou-me o ponto de vendas da Ferrari, onde entre tantos produtos, há um carro de Fórmula 1 na vitrina. Há muitas joalherias, com preços inacessíveis à maioria dos turistas. A cidade se polariza sobre uma larga via marítima, de uns quarenta metros de largura, que eles chamam de gran canale. Daí derivam centenas de canais, todos singrados por gôndolas e lanchas.

A gastronomia também é fantástica! Os restaurantes têm mesas na rua, à beira dos canais, com violinistas emoldurando a atmosfera romântica do lugar. Foi onde Carmen e eu escolhemos para comemorar nossos quarenta e três anos de alegre e feliz matrimônio.

Como pólo turístico, os preços são meio salgados. Um passeio de uma hora de gôndola não sai por menos de duzentos euros. Mas pudera: ir a Veneza e não andar de Gôndola é como ir a Roma e não ver o Papa. É impossível perder.

Pela magia que encanta o turista, fazendo que se programe um retorno breve à cidade, e pela emoção do evento que lá desfrutamos, pudemos afirmar que ao contrário, Veneza não é triste, mas alegre, especialmente para quem não sofre o fim de um amor, ou a perda de uma mão amiga para segurar.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 21/07/2007
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