Retorno a Campo Grande de 1909
A expansão da pecuária, a perspectiva da chegada da Estrada de Ferro e a instalação dos primeiros quarteis do Exército na vila de Campo Grande foram três pilares do progresso do sul do Mato Grosso, na primeira metade do século XX. Nascida nos campos da Vacaria, o arraial fundado pelo fazendeiro mineiro José Antônio Pereira, em 1872, estava predestinado a se tornar no centro econômico da região, criando as condições para concretizar o sonho divisionista que fez nascer o Estado do Mato Grosso do Sul. Para rememorar alguns traços dessa história regional do final da primeira década do século XX, esta crônica propõe um retorno ao Almanak Laemmert de 1909, impresso no Rio de Janeiro, que divulga notícias das principais cidades do país.
Campo Grande foi destacada na referida publicação como uma terra de futuro promissor, como acreditava seus moradores, sobretudo, aqueles que visualizavam excelentes oportunidades de negócios nos setores de comércio e pecuária. O cronista afirmou que a florescente vila estava em franco progresso e acreditava que ela se tornaria no principal polo econômico da região. Estava sendo comemorado, no referido ano de 1909, o décimo aniversário de criação do município de Campo Grande, objeto da lei no 225, de 26 de agosto de 1899, com mais de 100 mil quilômetros quadrados.
Um destaque relevante chamava atenção dos interessados em adquirir grandes áreas de terras devolutas, pertencentes ao Estado, e que poderiam ser requeridas do governo com o pagamento de um valor reduzido, em relação ao preço da terra em outras regiões com maior densidade populacional. De modo geral, as terras do Sul do Mato Grosso eram apropriadas à exploração da pecuária extensiva e localizava-se não muito distante da feira de gado de Uberaba, no Triângulo Mineiro. Nessa época, intensificou-se a chegada de fazendeiros mineiros e gaúchos, dispostos a ampliarem seus rebanhos.
Esse clima de expectativa de desenvolvimento aumentou com a decisão do governo federal de que a Estrada de Ferro passaria por Campo Grande, descartando a ideia de interligar Cuiabá à Uberaba. Para completar, por questões de segurança, o governo também resolveu que Campo Grande seria o local para a construção dos quarteis do Exército.
Estava em construção as primeiras instalações para abrigar a 5ª Brigada Estratégica, quando o governo do Mato Grosso transferiu para a União uma área de 3.600 hectares de terras, no município de Campo Grande, para servir de invernada, linha de tiro e demais serviços da 5ª Brigada. O engenheiro militar Themistocles de Souza Brasil foi nomeado para realizar os serviços de demarcação da área, conforme consta no jornal corumbaense Correio do Estado, de 8 de dezembro de 1909.