Índios nos campos da Vacaria (1881)

 
     Entre os temas históricos do Mato Grosso do Sul está a questão indígena, cujas raízes se estendem aos mais remotos tempos da colonização da região. Nos vastos campos da Vacaria, mesmo antes da fundação do arraial de Santo Antônio do Campo Grande, em 1872, há registros de diferentes grupos indígenas que viviam no extenso planalto compreendido entre os rios Pardo, Ivinhema e Paraná. Entender esse fenômeno de longa duração, certamente, é um desafio que vai muito além o recorte pontual proposto nesta crônica histórica.

     Trata-se de retornar aos últimos anos do Brasil Império para ler uma notícia publicada no jornal cuiabano, A Situação, em 2 de outubro de 1881. Autoridades da vila de Santana de Paranaíba escreveram uma carta ao referido jornal, relatando supostos ataques praticados pelos chamados índios coroados, que habitavam a região bem antes da chegada dos primeiros exploradores. Segundo relato das autoridades, os indígenas continuavam atacando fazendas instaladas às margens do baixo rio Sucuriu, distante cerca de 25 léguas de Paranaíba, estimando ser um grupo da ordem de centenas de indivíduos.

     Os fazendeiros estavam preocupados, pois alguns deles já teriam abandonados suas posses, temendo novos ataques. Três anos antes, outras autoridades da mesma vila de Paranaíba solicitaram ao presidente da província providências para garantir a propriedade dos boiadeiros mineiros instalados na região. Mas, como o problema persistia, estavam sugerindo medidas de ordem prática, a serem tomadas pelo governo provincial, visando garantir o progresso das fazendas. Nesse sentido, pediam a instalação de um destacamento militar na região, visando reprimir a invasão das propriedades.

     Em paralelo, as ditas autoridades também estavam sugerindo a criação de uma colônia agrícola, que poderia ser instalada na bacia do rio Pardo e também o envio de missionários para a catequizar os indígenas. Para finalizar, estavam também solicitando empenho do governo para “reabrir a antiga estrada da Vacaria”, o que poderia facilitar a expansão das relações comerciais da região com as fronteiras do Apa, o que encurtaria muito o caminho utilizado naquele momento e que passava por Camapuã.

     Na realidade, a mencionada carta escrita pelas autoridades de Paranaíba era uma mensagem política enviada ao então recém empossado presidente da província, coronel José Maria de Alencastro, comandante supremo das armas da província do Mato Grosso. Ao finalizar, os postulantes afirmaram na referida carta ter informações de que o novo presidente da província era um homem nobre, honrado e circunspecto, podendo dele esperar as medidas de confiança. São fragmentos que devem confrontados a vários outros para recompor parte da história dos povos indígenas do sul do Mato Grosso do final do século XIX.