Vira, Vira, Vira, Virou...
Em entrevista antes do casamento (?), a duvidosa-famosa Britney Spears afirmou: “Talvez eu vire lésbica”. Logicamente, nunca me chocou as excentricidades dos famosos, menos ainda tendo certeza de que na maioria dos casos são jogadas mercadológicas. Tampouco, a liberação sexual da atualidade. Longe disso, me ative ao verbo da declaração da princesinha pop, hobby de letrado.
Dispensei um momento pensando no significado profundo do verbo “virar” empregado pela cantora. Consultei dicionários, naveguei na net, tudo. Fiz tudo para entender o “virar”, constatando sua conotação óbvia. Penso que consegui. Mega hiper super popdicionário Britney: Virar Pred. Transformar-se fácil fácil.
Mas trata-se de um transformação tão efêmera! Imagine cenas: “Nossa, acordei com uma indisposição para ser macho, acho que vou virar gay, só por hoje”. Ou então: “Desisto. Homens são todos iguais! Pra relaxar, vou virar lésbica”. Isso mesmo, simples como trocar de roupa ou como final de novela de Silvio de Abreu. Virou moda! Hebe “dá selinhos” (menos em Alcione, que é “mulé macho, sim sinhô”), Caetano beija há muito tempo, Letícia Spiller namora, Alexandre Frota “dá um amasso”, Santoro casa (na ficção, mas casa). Claro, com toda essa campanha de marketing, a homo-tendência é a moda up-to-date do Brasil. Gabemo-nos de ser pelo menos uma moda autêntica e alegre. E põe alegre nisso!
O mais interessante é que velhos costumes agora terão novos olhares. O que dizer daquelas “rodinhas” de pagode e cervejada? E os chás de panela? As reuniões da empresa fora do expediente? E o carro do boy repleto de amigos? E o tapinha no bumbum dado pelos jogadores de futebol? Aquela canção de incentivo a tomar com um gole só o conteúdo da taça será sintomática. Assim como o Viagra, a fase/momento/vertente/estado sexual poderá ser vendida nas farmácias ou nos supermercados, na seção dos enlatados, com direito a manual de instruções e acessórios.
Daí por diante, tudo será festa e arco-íris: menos rotinas nos casamentos; namoros mais que ultramodernos; o unissex será substituído pelo plurissex; Edson Cordeiro, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhotto voltarão às paradas de sucesso; as relações de amizade nunca mais serão as mesmas.
Num ato de cadastramento, matrícula ou qualquer outro que requeira dados pessoais, haverá mais uma opção no gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino ( ) Andrógeno/"camaleão". E o que vai ser de gente perguntando se isso é nome de remédio... Talvez seja. É, talvez seja um medicamento para a hipocrisia.
A festa de lançamento dessa moda será mais espalhafatosa que as paradas. Enormes bonecos infláveis da Luluzinha, Bolinha, Pantera Cor de Rosa, Batman e Meninas Super Poderosas enfeitarão as praças. Dj’s comandarão as pistas. Árvores, postes, faixas com desenhos de arco-íris e borboletas multicoloridas darão um novo tom e uma nova ordem aos centros urbanos. Explodindo nas fachadas dos prédios frases como “Reveja Seus (Pre)Conceitos”. Pessoas contratadas (e outras tantas voluntárias, é verdade) distribuirão fitinhas coloridas aos pedestres e motoristas para serem amarradas nos pulsos, mas sem promessas ou pedidos, só apologia.
Ah, claro, não haverá o grande show da Britney, mas você, leitor, será o convidado especial. O quê? Não quer? Sinto em lhe dizer, mas atenção, o simples ato de torcer o nariz ou de VIRAR a cara poderá ser seu primeiro sintoma de adesão à essa moda.