CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

A sociedade brasileira não consegue discutir as causas dos seus problemas. Estamos falhando gravemente nas poucas tentativas. Quando se trata da criminalidade e da violência, vivemos uma tragédia. Dessas anunciadas.

No sentido inverso, estamos sempre discutindo as consequências dos nossos problemas. Basta abrir os jornais. Navegar pela internet. Assistir os noticiários de TV. Eles estão lá diariamente nas manchetes. Então alguns ficam indignados. Outros fingem que ficam. A indignação passa rápida. E infelizmente as manchetes de hoje, se repetem amanhã.

É evidente que as manchetes sobrevivem das consequências. Raramente tocam nas feridas das causas. Primeiro deixamos nossos problemas se transformarem em monstros. Só depois corremos atrás de alternativas. Os remédios aplicados não erradicam a doença. Nos contentamos com pequenos paliativos para os surtos.

Observem que as manchetes de agora são de estupros coletivos. Os estupros simples entraram para o nosso cotidiano como um fato rotineiro. Tenho a impressão que estamos a um passo da aceitação. Já aceitamos tantas coisas!

Estupros não deveriam ser assunto de rodinhas de mulheres. O assunto deveria entrar nas rodinhas de homens. De salas de aulas cheias de meninos. De famílias com filhos meninos. Já ouvi uma “mãe” dizer a seguinte frase: “Cuidado com suas cabras na festa, porque o meu bode chegou”. Uau! Ouvir isso de uma mãe...

No domingo que passou uma manchete da Folha de São Paulo dizia que na cidade de São Paulo um menor é aprendido a cada três horas. A reportagem ainda dizia que esses menores têm cada vez menos idade. Isto é uma consequência. Qual seria a causa?

Nossa Sociedade está contaminada pela criminalidade. Foi o crime quem criou a moda da ostentação. De preferência na companhia de um fuzil. Nos nossos dias, ser herói é ter dinheiro para ostentar, e de quebra pegar todas as meninas da balada. E quando não se tem dinheiro para ser “herói”, o mundo do crime manda um convite.

Os “heróis” do Cazuza morriam de overdose. Os de agora preferem ostentar nas redes sociais. Mesmo que para isso seja preciso matar. Isso quando não postam o crime.

Estamos perdendo uma parte assustadora das novas gerações para a criminalidade. Em parte, isso se deve a miopia utópica de que nossas leis criminais precisam acompanhar o primeiro mundo, quando ainda estamos muito distantes dele em todos os sentidos.

Também erramos como sociedade, e nisto ajudados pela mídia, quando tiramos do mesmo contexto as mortes do menino de onze anos depois de assaltar, e da médica fugindo do assalto. As duas mortes têm a mesma causa. E a mesma consequência.