SÃO JOÃO SEM O CARNEIRINHO
Artigo de:
Flávio Cavalcante
“São João nas capitá não me diga que é são João” Assim já dizia o saudoso poeta nordestino Luiz Gonzaga o nosso rei do Baião numa época em que as festas juninas eram tradicionais e as comemorações eram de lei com muito forró, fogueiras, balões enfeitando as noites estreladas e principalmente as guloseimas típicas que quem viveu sabe o que era saborear cada prato quase todos feitos do milho plantado na região.
Na atualidade parece que tudo mudou e essa tradição ficou apenas nas memórias de saudosos tradicionalistas. Estamos nos meados do mês de Junho e só vim perceber que se tratava de festa junina porque ouvi um barulho estranho do lado de fora de casa e sai para ver o que estava acontecendo. Mas é enxerido. Um único balão no céu. Aliás, se vir mais balão no céu em outras datas festivas do que nesta época o que deveria, já que sempre foi a tradição em nosso país.
A pergunta que não quer calar. Cadê o carneirinho do santo milagreiro? Dizem que ele teve que vender nas feiras livres pra comprar um punhado de milho ou mesmo de feijão e arroz. Ultimamente está virando até piada esses preços desenfreados dos alimentos básicos nas prateleiras dos nossos supermercados. Estão fazendo congestionamentos nos meios virtuais dizendo que lamentam informar a separação de um casal que fomos testemunha ocular da união de ambos e jamais poderíamos imaginar que uma separação tão brusca viesse afetar a todos. O feijão se separa do arroz por causa de uma rica bagatela de quase quinze reais.
Ah! Agora tá explicado o motivo de São João ter vendido o pobrezinho do carneirinho. Dizem que ele estava com o aluguel atrasado e o feijão agora é um artigo de luxo já que o milho não se vê há muito tempo nas prateleiras dos mercados.
Mas será que só está acontecendo nas capitais? Não; acho que não. Lá na roça é a vez do pobrezinho que era tido como o coitadinho tirar onda de riquinho só porque ele mesmo mete a mão para plantar o feijão, o arroz e o milho. Como os tempos mudaram e estão cada vez mais complicado ver na mesa de um infeliz trabalhador deste país andar com a sua marmita para comer a boia fria na hora do almoço para não ser alvo de bandidos que querem assaltar os caroços de feijão e um único bife do olhão que ainda resta no prato do infeliz.
Pouco tempo atrás, qualquer comemoração era motivo de reunir amigos para fazer churrasco e bebericar aquela cervejinha gelada com aquela alcatra assando na brasa. Bastava o Flamengo ganhar uma partida para ser motivo de névoa nas ruas com as fumaças das churrasqueiras nas casas em comemoração. Ninguém acredita quando falo, mas, eu fui testemunha ocular desse fato. Ninguém tem culpa que o preço da alcatra tá do jeito que tá. Todos se divertem com as piadas da realidade que vem acontecendo no nosso país. Onde vamos parar? Mexer com uma tradição de séculos das festas juninas na situação vivenciada até que se admite; mas, conseguir tirar o feijão com arroz do pobre trabalhador é uma questão de crueldade onde um bando de famintos se contentam com uma comemoração nada a ver e ainda vai buscar força para arrastar um tocha que pra se manter acesa teve até que tirar o único bem de sobrevivência do trabalhador que é o arroz e o feijão.
VIVA SÃO JOÃO SEM CARNEIRINHO