Construtores de Realidades
Construtores de Realidades
Ilya Prigogine nascido moscovita em 1917, desencarnado belga em 2003. Faturou o Nobel de Química de 1977.
Lecionou tanto na Universidade Livre de Bruxelas quanto na Universidade do Texas, e de quebra co-fundou o Centro Para Sistemas Quânticos Complexos, em 1967. Desde aquela época, senão antes, ele já alertava que a vida é o reino do não linear e da multiplicidade das estruturas.
Quando do seu passamento, foi dito: “Foi muito provavelmente Prigogine quem muito nos ajudou a entender de uma maneira diferente a linguagem usada para descrever o universo. Ao abandonar uma ciência dogmática e neutra e tê- la também como um instrumento para contribuir para a existência de uma sociedade mais justa”.
Ao receber o Nobel Prigogine forneceu o seguinte depoimento: “A ciência para o benefício da humanidade somente é possível se uma atitude científica for profundamente arraigada na cultura como um todo. Isso implica certamente na melhor disseminação da informação científica para o público de um lado, mas do outro, em um melhor entendimento dos problemas do nosso tempo pela comunidade científica."
Michael Burry, que chegou no planeta em 1971, uma vez formado em medicina teve, por questões pessoais, de abandonar a prática e mergulhar no seu hobby - investimentos no mercado financeiro.
Em 2005, após ler literalmente milhares de páginas com informações de hipotecas bancárias, Burry concluiu que a coisa iria feder dentro de três anos e decidiu apostar contra. Como gestor de um modesto fundo de investimentos ele atraiu para si toda a sorte de críticas, incluso aí processos judiciais e/ou ameaças de.
"Nada tem tanto êxito como o êxito”.
A crise financeira norte americana de 2008, a vulga bolha das hipotecas, fez desaparecer da economia 5 trilhões de dólares, levou ao desemprego 8 milhões de pessoas e apenas um único banqueiro, um mané do Credit Suisse, viu o sol nascer quadrado. Foi uma rasteira na nação arquitetada pelos grandes bancos e pelo governo. Sergio Moro fez falta por lá.
O fundo de Burry faturou 800 milhões de dólares sem fazer uso de nenhum tipo de falcatrua. Ele apenas analisou o que estava acontecendo e viu o que ninguém tinha visto.
Dr. Omalu é outro espécime interessantíssimo. A cegonha resolveu deixá-lo em Nnokwa, Nigéria, em 1968, em plena guerra civil. Seu nome é a versão simplificada da palavra Onyemalukwube, que significa, "aquele que sabe e deve falar o que sabe".
Bennet Ifeakandu Omalu se formou em medicina na University of Nigeria em 1990. Três anos depois a triste situação política do seu país o levou a bater asas para os EUA, primeiro para Seattle, 1994, depois, New York City, 1995, a seguir Pittsburgh. Sempre trabalhando e estudando. Omalu, como diz a galera, tem uma pá de diplomas.
Em 2002, como cabe a um construtor de realidades, ele se deparou com algo que, para variar, ninguém viu. Já se suspeitava, por alto. Mas ser algum se embrenhava no assunto, quanto mais abria a boca. Caso você tenha assistido “Um homem entre gigantes”, sabe do que estou falando. Will Smith não ficou devendo nada a nos contemplar com o papel do dr. Omalu, então neuropatologista forense, depois de examinar o cadáver de uma grande ex-estrela do futebol americano e concluir que um sujeito saudável, esportista, aos 48 anos de idade não poderia em hipótese alguma apresentar uma degenerescência cerebral daquela magnitude, a não ser…. A não ser que ele batesse com a cabeça - da adolescência até a antiga idade do lobo - 80.000 vezes. Omalu fez a conta. Após esse número um astro da NFL tem chances consideráveis de ganhar de presente lesões cerebrais traumáticas, neurodegeneração e demência. Sua descoberta foi batizada de Encefalopatia Traumática Crônica (CTE). E começou a aparecer um cadáver atrás do outro com os mesmos sintomas. E a NFL - National Football League - que movimenta bilhões de dólares graças a veneração de milhões de fãs tentou por todo pano desacreditar o médico, que não pretendia o fim do esporte e sim a divulgação da informação - 30% dos jogadores sofrerão de CTE. O que significa abandono, ruína, loucura, dissolução da família, escárnio de fãs e o que mais possa ser contabilizado como daninho, senão trágico. A América, através do braço denominado FBI, tentou intimidar o nigeriano Bennet cuja trajetória, antes de ir parar nas telonas, amargou a perda de um filho e teve de digerir por anos o medo de voltar para a Nigéria.
O advento do livro “Concussion” , de Jeanne Marie Laskas, seguido do filme homônimo de Peter Landesman, propiciou a Onyemalukwube a tão sonhada cidadania americana (2015) além da criação da Bennet Omalu Foundation, voltada a cuidar dos que padecem do malefício por ele detectado. Hoje vive em Lodi, Califórnia, tem dois filhos e vai a missa aos domingos.
O bafejado Nelson Rodrigues cunhou uma frase sob medida para vultos desse naipe: “Nada nos humilha mais do que a coragem alheia”. Ou, para sermos um bocadinho menos extremados que o dramaturgo, podemos trocar a palavra humilha por inspira.
Ken Carter nasceu em 1959, Fernwood, Mississippi, e, 40 anos depois, o destino lhe deu uma oportunidade única de passar ao semelhante o que aprendera com a vida. Em 1999 ele foi convidado para treinar o time de basquete do Richmond High School. Ken havia estudado lá e ganhado dois torneios, em 1971 e 1972. A sua notoriedade local não se deve, contudo, a qualquer façanha no esporte, não que ele não tenha conseguido, mas antes, ao fato de determinar aos seus aprendizes que acima das quadras estava o saber na figura de um diploma universitário. Tanto os docentes quanto os pais dos alunos achavam que ele delirava, menos da metade completava os estudos na Richmond High School, raríssimos, senão aberrações, entravam numa universidade. Carter permaneceu indemovível. Passou um cadeado na porta do ginásio e ganhou vaias de todas as direções. Foi quando ele pontificou para os rapazes: a realidade de vocês é desenhada para derrubá-los. De acordo com as últimas estatísticas, 80% dos ex-alunos dessa instituição vão parar no xadrez. É isso o que vocês querem para o seu futuro? A rapaziada coçou a cabeça. Naquele ano o Richmond Oilers não levantou troféu, em contrapartida vários daqueles meninos roeram a ponta do lápis, franziram o cenho e por fim conseguiram não apenas entrar em universidades como sair de lá formados.
Carter lhes mostrou outra realidade. Talvez, no fundo, ele saiba da existência de uma campanha proposital das trevas para fazer a humanidade viver sob um nível de permanente constrangimento.
"Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. Nosso medo mais profundo é termos poder demais. É nossa luz e não nossa escuridão que nos assusta. Não há nada de salutar em se diminuir, para que outras pessoas não se sintam inseguras à sua volta. Fomos todos feitos para brilhar como as crianças. Não está só em alguns, está em todos. E ao deixarmos nossa própria luz brilhar, inconscientemente permitimos que outros façam o mesmo. Afinal nos livramos do nosso próprio medo. Nossa presença automaticamente libera outros".
(Imagem: Robert Frank, "Crianças com Sparklers em Provincetown", Massachusetts, CA. 1958)
Construtores de Realidades
Ilya Prigogine nascido moscovita em 1917, desencarnado belga em 2003. Faturou o Nobel de Química de 1977.
Lecionou tanto na Universidade Livre de Bruxelas quanto na Universidade do Texas, e de quebra co-fundou o Centro Para Sistemas Quânticos Complexos, em 1967. Desde aquela época, senão antes, ele já alertava que a vida é o reino do não linear e da multiplicidade das estruturas.
Quando do seu passamento, foi dito: “Foi muito provavelmente Prigogine quem muito nos ajudou a entender de uma maneira diferente a linguagem usada para descrever o universo. Ao abandonar uma ciência dogmática e neutra e tê- la também como um instrumento para contribuir para a existência de uma sociedade mais justa”.
Ao receber o Nobel Prigogine forneceu o seguinte depoimento: “A ciência para o benefício da humanidade somente é possível se uma atitude científica for profundamente arraigada na cultura como um todo. Isso implica certamente na melhor disseminação da informação científica para o público de um lado, mas do outro, em um melhor entendimento dos problemas do nosso tempo pela comunidade científica."
Michael Burry, que chegou no planeta em 1971, uma vez formado em medicina teve, por questões pessoais, de abandonar a prática e mergulhar no seu hobby - investimentos no mercado financeiro.
Em 2005, após ler literalmente milhares de páginas com informações de hipotecas bancárias, Burry concluiu que a coisa iria feder dentro de três anos e decidiu apostar contra. Como gestor de um modesto fundo de investimentos ele atraiu para si toda a sorte de críticas, incluso aí processos judiciais e/ou ameaças de.
"Nada tem tanto êxito como o êxito”.
A crise financeira norte americana de 2008, a vulga bolha das hipotecas, fez desaparecer da economia 5 trilhões de dólares, levou ao desemprego 8 milhões de pessoas e apenas um único banqueiro, um mané do Credit Suisse, viu o sol nascer quadrado. Foi uma rasteira na nação arquitetada pelos grandes bancos e pelo governo. Sergio Moro fez falta por lá.
O fundo de Burry faturou 800 milhões de dólares sem fazer uso de nenhum tipo de falcatrua. Ele apenas analisou o que estava acontecendo e viu o que ninguém tinha visto.
Dr. Omalu é outro espécime interessantíssimo. A cegonha resolveu deixá-lo em Nnokwa, Nigéria, em 1968, em plena guerra civil. Seu nome é a versão simplificada da palavra Onyemalukwube, que significa, "aquele que sabe e deve falar o que sabe".
Bennet Ifeakandu Omalu se formou em medicina na University of Nigeria em 1990. Três anos depois a triste situação política do seu país o levou a bater asas para os EUA, primeiro para Seattle, 1994, depois, New York City, 1995, a seguir Pittsburgh. Sempre trabalhando e estudando. Omalu, como diz a galera, tem uma pá de diplomas.
Em 2002, como cabe a um construtor de realidades, ele se deparou com algo que, para variar, ninguém viu. Já se suspeitava, por alto. Mas ser algum se embrenhava no assunto, quanto mais abria a boca. Caso você tenha assistido “Um homem entre gigantes”, sabe do que estou falando. Will Smith não ficou devendo nada a nos contemplar com o papel do dr. Omalu, então neuropatologista forense, depois de examinar o cadáver de uma grande ex-estrela do futebol americano e concluir que um sujeito saudável, esportista, aos 48 anos de idade não poderia em hipótese alguma apresentar uma degenerescência cerebral daquela magnitude, a não ser…. A não ser que ele batesse com a cabeça - da adolescência até a antiga idade do lobo - 80.000 vezes. Omalu fez a conta. Após esse número um astro da NFL tem chances consideráveis de ganhar de presente lesões cerebrais traumáticas, neurodegeneração e demência. Sua descoberta foi batizada de Encefalopatia Traumática Crônica (CTE). E começou a aparecer um cadáver atrás do outro com os mesmos sintomas. E a NFL - National Football League - que movimenta bilhões de dólares graças a veneração de milhões de fãs tentou por todo pano desacreditar o médico, que não pretendia o fim do esporte e sim a divulgação da informação - 30% dos jogadores sofrerão de CTE. O que significa abandono, ruína, loucura, dissolução da família, escárnio de fãs e o que mais possa ser contabilizado como daninho, senão trágico. A América, através do braço denominado FBI, tentou intimidar o nigeriano Bennet cuja trajetória, antes de ir parar nas telonas, amargou a perda de um filho e teve de digerir por anos o medo de voltar para a Nigéria.
O advento do livro “Concussion” , de Jeanne Marie Laskas, seguido do filme homônimo de Peter Landesman, propiciou a Onyemalukwube a tão sonhada cidadania americana (2015) além da criação da Bennet Omalu Foundation, voltada a cuidar dos que padecem do malefício por ele detectado. Hoje vive em Lodi, Califórnia, tem dois filhos e vai a missa aos domingos.
O bafejado Nelson Rodrigues cunhou uma frase sob medida para vultos desse naipe: “Nada nos humilha mais do que a coragem alheia”. Ou, para sermos um bocadinho menos extremados que o dramaturgo, podemos trocar a palavra humilha por inspira.
Ken Carter nasceu em 1959, Fernwood, Mississippi, e, 40 anos depois, o destino lhe deu uma oportunidade única de passar ao semelhante o que aprendera com a vida. Em 1999 ele foi convidado para treinar o time de basquete do Richmond High School. Ken havia estudado lá e ganhado dois torneios, em 1971 e 1972. A sua notoriedade local não se deve, contudo, a qualquer façanha no esporte, não que ele não tenha conseguido, mas antes, ao fato de determinar aos seus aprendizes que acima das quadras estava o saber na figura de um diploma universitário. Tanto os docentes quanto os pais dos alunos achavam que ele delirava, menos da metade completava os estudos na Richmond High School, raríssimos, senão aberrações, entravam numa universidade. Carter permaneceu indemovível. Passou um cadeado na porta do ginásio e ganhou vaias de todas as direções. Foi quando ele pontificou para os rapazes: a realidade de vocês é desenhada para derrubá-los. De acordo com as últimas estatísticas, 80% dos ex-alunos dessa instituição vão parar no xadrez. É isso o que vocês querem para o seu futuro? A rapaziada coçou a cabeça. Naquele ano o Richmond Oilers não levantou troféu, em contrapartida vários daqueles meninos roeram a ponta do lápis, franziram o cenho e por fim conseguiram não apenas entrar em universidades como sair de lá formados.
Carter lhes mostrou outra realidade. Talvez, no fundo, ele saiba da existência de uma campanha proposital das trevas para fazer a humanidade viver sob um nível de permanente constrangimento.
"Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. Nosso medo mais profundo é termos poder demais. É nossa luz e não nossa escuridão que nos assusta. Não há nada de salutar em se diminuir, para que outras pessoas não se sintam inseguras à sua volta. Fomos todos feitos para brilhar como as crianças. Não está só em alguns, está em todos. E ao deixarmos nossa própria luz brilhar, inconscientemente permitimos que outros façam o mesmo. Afinal nos livramos do nosso próprio medo. Nossa presença automaticamente libera outros".
(Imagem: Robert Frank, "Crianças com Sparklers em Provincetown", Massachusetts, CA. 1958)