PAZ INTERIOR II

Tarde do feriado. Preparo-me para a caminhada diária.Ao sair à rua constato que chove.Fico aborrecida.Então vou para o computador,digitar o texto com o título acima.

Quando faltava apenas um parágrafo para finalizar, uma queda na energia elétrica faz com que eu perca tudo que fizera. Foi o suficiente para me tirar do sério.Como vi que o sol parecia voltar,bati a porta(literalmente) e saí para caminhar.

Enquanto caminhava, comecei a pensar na ironia da situação, pois estava a digitar um texto sobre paz interior e bastou um pequeno e corriqueiro incidente para me tirar a tranqüilidade e o equilíbrio. Ora, se não deixasse para salvar o texto, após revisa-lo,não teria perdido todo o trabalho realizado.Foi falta de precaução minha.

Vejo que temos que fazer um esforço constante para viver de acordo com o que pensamos e acreditamos, para que tudo não se torne apenas um amontoado de palavras sem sentido. É preciso coerência entre pensamento e ação.

Percebo que se não tivesse acontecido isto, ainda estaria sentada e perderia a oportunidade de caminhar, o que para mim é necessário e me dá muito prazer, apesar do frio que gelava meu rosto e minhas mãos e do vento que teimava em me empurrar para trás. Isto me mostrou que é preciso ser obstinado.Não podemos esmorecer por qualquer dificuldade.

Quando passo diante do cemitério, oro pelos meus queridos, parentes e amigos que lá estão. É um momento de recordação.Oro, também pelos meus afetos,que aqui estão e que não estão bem e que por mais que eu deseje, não consigo ajudá-los com queria.

Agradeço por aqui estar, pela vida que se renova o cada dia, pelos sonhos que alimento, pela minha família.

Sentir-se em paz, distante dos problemas do cotidiano, longe de tudo, em contato com a natureza, isolados, quer no campo, na serra, ou no mar é uma coisa, mas conquistar e manter esta paz no corre-corre do dia a dia, com inúmeras tarefas, compromissos e chamamentos, exige muito esforço, tenacidade, equilíbrio.

Percebo que a vida nos obriga a ser artistas, tal qual um trapezista, que consegue perceber o exato instante em que é fundamental parar, avaliar, respirar fundo, agarrar-se às suas crenças e jogar-se no espaço vazio, que tanto pode lhe dar a glória, ou a infelicidade.

Antes de chegar ao final do trajeto a chuva recomeça. Não me importo.Ela leva embora todas as coisas ruins,as impurezas e deixa só o que é bom.Sinto-me leve.Quando me dou conta,estou cantarolando a música que toca nos meus ouvidos:

...Abra suas asas,

Solte suas feras.

. ...entre nesta festa,

E leve com você

Seu sonho mais louco.

Na nossa festa,

Vale ser alguém como eu,

Como você...

Abra suas asas...

A surpresa: Quando volto para casa, já com a energia restabelecida, do computador e a minha, percebo que só as últimas linhas do que havia digitado havia sido perdida. Mais uma vez, vejo que temos o hábito de nos preocuparmos por bobagens,fazer tempestades,quando não devíamos e ver primeiro o lado negativo das coisas e não o positivo.

Cada dia temos uma lição a aprender, basta estar aberto para perceber isto nas pequenas coisas e nos acontecimentos.