AS GRANDES NOVELAS DO RÁDIO
Artigo de:
 
Flávio Cavalcante

 
     Bons tempos que não voltam mais e é feliz aquele que teve a oportunidade de acompanhar cada capítulo das novelas do rádio. Era uma febre de audiência. Isso eu posso dizer com propriedade pois tive a oportunidade de acompanhar alguns capítulos apesar de ainda ser muito criança.
 
     Nessa época morávamos na cidade de Muricy em Alagoas e as novelas do rádio sempre eram exibidas em horários matinais. Muitas donas de casa faziam seus afazeres do lar com o rádio nas alturas para não perder um só capítulo. Época de felicidade nos lares. As famílias se confraternizavam de fato. Não existia nem televisão ainda em todas as casas e as que tinham a qualidade de imagem era péssima e todos enveredavam para o rádio que era a sensação da época.
 
     Os meus pais acordavam muito cedo. Minha mãe preparava aquele delicioso café e saía acordando um por um para ajudar nas tarefas do lar. Cada um tinha uma função. Eu ficava na responsabilidade de forrar as camas e as minhas irmãs faziam a faxina diária. O rádio já funcionava logo cedo. Todas as manhãs eu acordava ouvindo o programa “ESQUENTA MUIÉ” era dedicado aos problemas de bairro. A abertura do programa é que me mata de saudades. A música carapeba de Luiz Gonzaga era ouvida em algumas casa após a nossa. Ainda hoje lembro saudosamente dessa melodia e muitas imagens me vêm à mente. Coisa de criança. Ouvindo a música me vem ‘a mente uma estrada ainda sem calçamento, uma estrada de ferro e uma Maria Fumaça cruzando a linha e muita gente circulando no local. A imagem que me vem em nenhum momento vivi. Mas essas imagens me acompanham desde muito criancinha toda vez que eu escutava essa música. Lembro com saudades. Tudo isso aconteceu na mesma época dos programas de auditório nas rádios e as novelas que sempre começavam logo cedo da manhã.
 
     O direito de nascer era a novela mais conhecida na época. Começava logo após o programa de Edécio Lopes manhãs brasileira. A abertura do programa essa também não me sai da memória. Aquela voz convidativa do Edécio apresentando o seu programa e dizia na abertura “Manhãs Brasileira. Edécio Lopes; um recado verde e amarelo. A música de Angêla Maria abria e fechava o seu programa.
 
     Essas lembranças que marcam até os dias atuais. Lembro-me também de dona Judite que não perdia um só capítulo da novela e era uma fã incondicional do ator que narrava o Albertinho Limonta. Ela suspirava com a voz do locutor e dizia ser o sonho dela conhecer pessoalmente o homem que fazia ela suspirar. Até que enfim ela fez questão de ir pessoalmente na emissora e lá teve a maior decepção de sua vida. Aquele príncipe encantando que ela imagina por causa da voz não era o mesmo que a sua mente criou. E ela voltou decepcionada para sua casa.
 
     A magia estava exatamente aí. Tudo era motivo para nossa mente criar as situações. A sonoplastia era toda ao vivo e com objetos que emitissem sons das situações que os atores ia narrando. As estórias eram românticas e toda a família podia assistir cada capítulo e comentar depois num momento de descontração em reunião familiar. Coisas que não são possíveis nos tempos atuais.
 
     Há muito tempo as novelas de rádio foram aposentadas depois que a televisão passou ter o seu espaço conquistado. A febre da atualidade tem aumentado a opção e com isso o telespectador está mais exigente com relação aos produtos apresentados. Então o rádio fica apenas na memória dos saudosistas que sabem da importância daquele momento vivido no seu antepassado. Momentos que só sabe da importância quem viveu de fato aquele momento mágico.
 
Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/05/2016
Reeditado em 28/05/2016
Código do texto: T5649459
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