Amor por Princípio e Felicidade por Final

Amor por Princípio e Felicidade por Final

(Gotas de Filosofia)

Este texto eu pretendo que seja o último de uma série que fiz chamada "Gotas de Filosofia", sendo que muitos deles -- se não a maioria... senão todos -- falam sobre Tolerância, Democracia, Política e Moral (Ética).

Enquanto os fazia, os fiz a pedidos, a ouvidos e assuntos que penso, serem absolutamente necessários para os dias atuais -- assim como a maioria destes terem "nascido" por conta de conversas que tive com amigos, ou com experiências paralelas... mais ou menos quando vi alguém falar de um assunto que pensei, merecer um comentário.

Este eu faço por alguns motivos especiais. Resolvi saír da Tolerância para falar de Amor. Mas vamos com calma porque quero sair do ponto "A" e chegar no ponto "B". Outro dia estava trocando cartas (e-mails) com um amigo de Esquerda. Não vou falar muito dos temas que discutimos, mas apesar das profundas discordâncias, acho que trocar correspondências é sempre deveras proveitoso.

Mas por que revelei que "ele era de esquerda"?. Basicamente porque sou positivista. Ser positivista é engraçado, porque você não é conservador (porque aceita e almeja o progresso), ao mesmo tempo que não é um "progressivista", porque não se tem uma agenda de um "mundo melhor à esquerda" -- pelo contrário, o progresso é pautado na contínua melhora moral (ethos) e técnica de uma sociedade; baseadas na observação, ordem e por fim, progresso; em outras palavras, não se há um sonho.

Então depois de algumas cartas enviadas para ele -- que eu acho não entender bem o positivismo... coisas como o Estado "não se meter na sociedade" é meio difícil mesmo de "engolir". No fim, acabamos falando sobre "Amor". É engraçado falar de "amor", porque este é um dos lemas do positivismo: "Amor por principio, Ordem por Base e Progresso por Final". Mas como sou um preguiçoso, estudei pouco Comte, e se você me perguntar o que ele entende de amor, além de eu não saber ao certo, vou te falar de modo "maroto", que o amor tem a ver com a Religião Positivista e com a ideia de JAMAIS perseguir as crenças religiosas, mas antes as respeitar, por serem uma tentativa humana de alcançar a universalidade.

Mas não vou por este caminho (por simples falta de conhecimento) e também por não querer explicar em sua totalidade sobre a Religião da Humanidade que Comte buscava. O que quero falar aqui mesmo é sobre o conceito de amor na filosofia.

Para Platão por exemplo (e para a maioria dos filósofos), amor é este buscar e jamais encontrar do "algo" que tanto se ama. O filósofo por acaso fez um diálogo inteiro sobre o Amor (Banquete) e chegou, se bem lembro, a este conceito central quando uma sacerdotisa finalmente o explica para Sócrates, e ele nos revela. Esse tipo de "amor" (busca) é tão insosso para um ocidental que eu consigo imaginar os semblantes de "nhé" que muitos leitores/as fizeram. Geralmente imaginamos o "Amor de Mãe" ou alguns lembram daquele amor descomedido e caridoso que muitos religiosos mais preconizam -- boas morais sempre falam em se sacrificar pelo outro.

Mas como falei tanto em Tolerância, vamos falar no Amor no sentido de "Tolerância e Compreensão". Amar o gênero humano no sentido de "ethos" (ética) é o fazer em sua totalidade. Amar é Liberdade, Tolerância, Compreensão, Sacrifício -- muitas vezes, dar-se pelo outro. Esse é o tipo de amor que ocidentais estão acostumados e o sentido próprio que vou utilizá-lo agora, no âmbito da ética.

Amar é respeitar os pensamentos e opiniões do outro. Amar é garantir-lhe liberdade de crença, de ação e porque não, de "bens" -- afinal, se você toma um bem que a pessoa adquiriu com trabalho, e sem consentimento deste alguém... Bom isso não tem lá cara de amor, tem? Amar, portanto, é tentar respeitar as particularidades, individualidades e "universalidades em questão de episteme" do humano. Hummm a coisa tava fácil... universalidades de episteme?

Todos nós, (em busca de) humanos seres, temos capacidades cognitivas iguais entre cada um de nós. Cada um tem sua consciência, e justamente por isso é livre -- porque é capaz de saber seus próprios pensamentos. Se você (como eu) não acredita em "mentes", facilmente aceita o argumento de que se uma pessoa é capaz de se ver 'como uma pessoa' -- por dizer "Eu sou Tassio" por exemplo -- logo é capaz de utilizar linguagem, tem capacidades morais e ser responsável pelos seus atos. Isso até o empirista mais chato aceitaria.

Então... se amar é amar em totalidade as capacidades, particularidades e individualidades do ser humano... Como é que se tem a ideia de "Obrigar", "Educar", "Guiar", "Exigir" algo de alguém? Você só pode exigir o básico no âmbito da moral -- que a pessoa não ultrapasse os limites éticos do outro -- mas obrigar a alguém a fazer algo "pelo bem de todos"... Isso não é amar ninguém. Você está dizendo a pessoa que "Olha, você não tem o direito de ter sua opinião, você não tem direito de ter suas crenças... Olha você não sabe o que está fazendo". Basicamente amar, não é tentar fazer das pessoas... fantoches. Eu prefiro o termo "robô", o que acham?

Mas Tassio... E se eu estiver certo, e nós devemos mesmo obrigar as pessoas para o "Bem MAIOR"? Seja lá qual for o seu (ou este) Bem Maior, se você restringe alguma capacidade própria do humano, eu tenho que lhe dizer que você não sabe o que é amor de fato. Já que se você quer "Obrigar ou Constranger alguém para o bem dele mesmo", sou obrigado a dizer que você não o ama. Não o ama, porque não o liberta -- e liberdade é essencialmente um característica provinda da consciência.... humana.

E o que podemos fazer? O ser humano possui além de tantas capacidades cognitivas, uma delas que animais não possuem. Nós somos capazes de formular proposições... em outras palavras, argumentos. E aqui eu cito um pouco uma autora que considero... inocente no assunto da política, mas concordo com ela no quesito da ética (mesmo aparentemente ela não ter pensado nisso... se pensou, "tamos juntos"). Perdão aos especialistas em Hanna Arendt, mas ela tem razão em dizer que a argumentação é o caminho para a compreensão.

Em vez de "obrigar", "guiar", "restringir"... vamos demonstrar argumentos empíricos e racionais de um caminho, que pode ser bom para todos nós trilharmos. Ora se "economia planificada" não funciona, além de que você obrigar a alguém a se desfazer de seus bens e de sua liberdade de pensamento não tem nada a ver com amor do humano... Vamos esquecer este assunto e vamos para outro, que tal? Que tal se procurarmos demonstrar que quando cuidamos uns dos outros, respeitando todas as nossas individualidades, todos nós podemos ser mais... felizes?

O ponto que estou chegando aos poucos é simples... O caminho para o progresso no sentido de "ethos" é a demonstração de argumentos empíricos/razoáveis para todos nós -- e não algo vertical, de cima para baixo, "dos que sabem para os que não sabem". Todos somos cognitivamente capazes, então o ponto central é demonstrar caminhos, seguindo a prerrogativa do amar (sendo tolerante e respeitando as individualidades das pessoas).

Tassio... você tá falando demais.. Dá um exemplo ai! Sabemos que a economia planificada se auto-implode, então não pensemos mais nisso. A questão toda aqui é "Como aliar a força motora do indivíduo com a relação dele com o Outro". Eu dei um exemplo em uma das cartas para o amigo citado no começo do texto.

Oras... Que tal se tentarmos demonstrar às pessoas que só há felicidade universal (real) se todos buscamos (ou lutamos) pela felicidade de cada um nós? Ver um mendigo "dói" aos olhos, porque como diria Espinoza, nos faz imaginar estar em seu lugar. Sofrimento não é uma coisa legal. E "vê-lo", pode nos fazer repeli-lo ou simplesmente tentar amenizá-lo (ajudando o mendigo dando uma esmolinha). A ideia é muito simples: argumentar que a luta pela felicidade dos outros, com ações práticas viáveis é o único caminho de felicidade -- do Amor (argumentando) para a Felicidade.

Então vamos argumentar (em vez de obrigar ou "guiar") que ajudar o estado a montar escolas, universidades (se o argumento for endereçado para um grande empresário no caso) ou mesmo ajudar uma velhinha a atravessar a rua, ou repartir conhecimento com alguém, um amigo, ou uma comunidade, é o caminho próprio da felicidade -- porque o mendigo pode virar um trabalhador competente na empresa; a velhinha não vai ser atropelada; e dividir conhecimento é gerador de transformação!

Sem contar que "ajudar o outro" aumenta nossa imunidade, diminui o stress, evita uma série de doenças -- por simples compreensão de si e do outro. Compreendem aonde eu quero chegar?

Do amor, para a felicidade.