MINHAS DÚVIDAS SOBRE A "RENÚNCIA" DE DILMA
Milton Pires
Depois da notícia de ontem, no Jornal "O Globo", dando conta de que na próxima sexta-feira, dia 5 de maio, a presidente da república pode renunciar, o assunto não sai mais das redes sociais. Alguns analistas, por sinal muito bons, continuam levando a hipótese extremamente a sério.
Sigo dizendo que seria, para mim, a maior surpresa política de toda minha vida. Não espero que Dilma renuncie. Não espero que o faça nem mesmo sob mando de Lula e do plano de convocar eleições em outubro. Jamais, em toda história do movimento revolucionário, se ouviu falar num líder que renunciasse ao Governo e concluo, pois, que: ou estou certo e não vai haver renúncia; ou vai - mas aí a ordem será do próprio Foro de São Paulo que, numa relação "risco benefício", abre mão da máquina administrativa e parte para o "confronto total" até mesmo, se necessário for, na clandestinidade.
Leio e releio, cada vez com mais interesse, tudo aquilo que me pode ajudar a esclarecer a diferença entre Governo e Poder. Já disse que só estamos tirando o PT do Governo; não do Poder. Tal distinção é fundamental mas não pode nos levar a subestimar a importância dos cargos, das verbas, do aparato repressivo...Enfim: daquilo que a própria esquerda, fanática por Louis Althusser, denomina pejorativamente de "aparelhos" do Estado e muito menos nos autoriza a confiar cegamente numa "estratégia das tesouras" em que um consenso se formaria dentro da Organização Criminosa Petista cedendo espaço à social democracia tucana.
Renunciando, Dilma escapa da divulgação pública dos seus inúmeros crimes de responsabilidade, mas aproxima-se da prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro uma vez que perde suas prerrogativas de foro privilegiado.
Dúvida não tenho de que a renúncia é o melhor caminho. Questionamentos não carrego sobre ser esta a solução menos traumática para um país arrasado, para uma economia liquidada, para um Brasil caótico....Desejo, no fundo, que possa eu mesmo estar errado, mas lembro que não há, em toda história, tirano algum que tenha renunciado sem preservar um mínimo...uma parcela ínfima de dignidade pessoal, de amor a própria biografia...de um resquício de civilidade, de percepção da diferença entre si mesmo e a coisa pública.
Dilma Rousseff demonstrações já deu de não possuir nada na sua personalidade que nos possa remeter a estes conceitos e, logo, não deve renunciar. Sua vida é a "revolução", é o delírio mais profundo nos seus momentos de solidão que lhe remete ao cárcere, à tortura, ao Brasil dos anos 70...à "ditadura" que ela não quer e nem pode esquecer...muito menos "renunciar" à lembrança que no fundo sempre foi dela mesma..
3 de maio de 2016