Infelicidade

Como explicar a infelicidade, aquele estado de absoluta insatisfação com sua vida a ponto de você desejar não ser você, pensar que não aguentará mais carregar o peso do vazio da sua existência? Você se imagina totalmente sozinho, percorrendo uma estrada interminável que não vê sentido nenhum em continuar seguindo. A solidão aumenta porque muitos não entenderão sua infelicidade, talvez se chateiem se você tentar explicar ou digam que você não tem motivos para se sentir assim. E você se sente mais infeliz, já que, além de não poder obrigar os outros a lhe entender, ainda se vê como um peso na vida deles por se sentir infeliz.

Acontece que não podemos nos forçar a ser felizes. A felicidade só pode ser espontânea e o nosso olhar denuncia a infelicidade se tentarmos disfarçá-la com sorrisos ou gargalhadas. Então, que você deve fazer? Apenas você sente seu desespero, sabe como suas garras cavam abismos profundos em sua alma e podem deixar marcas para toda a vida, e é exatamente por isso que você sabe que sua infelicidade não é uma tolice nem sinal de fraqueza, mas uma prova de que você precisa prestar atenção em si mesmo para entender o que está lhe angustiando.

Infelicidade é algo a que todos nós estamos sujeitos, visto que somos humanos e vulneráveis. Qual o nosso grau de resistência às vicissitudes da vida? Não sabemos, mas o tempo vai nos ensinando que ele varia de pessoa para pessoa, pois as pessoas têm necessidades e anseios diferenciados. Se você se sentiu negligenciado em suas necessidades mais profundas em sua juventude, por exemplo, certamente possui carências mal resolvidas por ter sido tratado como se seus sentimentos não fossem importantes e, embora o seu lado racional lhe diga que aquilo já passou e, provavelmente, seus pais erraram por despreparo e não por não lhe amar, nos recantos mais profundos de sua psique, a dor da ferida ainda aberta clama por atenção, aquela criança continua gritando dentro de você, contribuindo para construir os conflitos que formam a sua personalidade e o fato de você não saber lidar com esses conflitos poderá torná-lo extremamente infeliz.

A verdade é que a infelicidade muito dificilmente terá uma causa única, sendo uma combinação de fatores externos e internos, tais como nossos sentimentos, valores, ações, reações e emoções. Podemos até culpar os outros, porém isto não ajudará porque precisamos admitir a nossa responsabilidade na maneira como nos sentimos. Admitir sua responsabilidade também não significa que você deve se martirizar, somente entender que você é alguém que reflete o ambiente, reage aos estímulos e interpreta o que acontece à sua volta.

Você pode ter motivos concretos para estar se sentindo infeliz. Talvez sua vida não seja o que você sonhava, o ambiente familiar não corresponda ao seu ideal de família saudável ou você esteja desempregado. Nestas ocasiões, dizer algo como "podia ser pior" ou "vai passar" não ajuda em nada, fazendo até parecer que se está dizendo que seus problemas sejam insignificantes, o que eles não são. Você sabe o quanto eles lhe doem.

Quando nos sentimos infelizes, acabamos por nos sentir inadequados, como se não nos encaixássemos no mundo. Nós nos vemos como manchas cinzentas num belo quadro colorido e chegamos a perguntar para que é que existimos. Como se vê, sentir-se infeliz impede você de ser uma pessoa completa, de encontrar seu lugar no mundo, já que você nunca estará bem em lugar nenhum.