JESUS NUMA MOTO

Eu já tentei fazer letra de música, mas nunca me dei bem...!

Tem gente que pensa que poesia ou tudo que rima, automaticamente pode virar música. Aliás, tem gente que ainda pensa que funk é música; e Pagode é um clássico...!

Essa semana, recebi Geonílio em casa, meu amigo e agora sócio num empreendimento; e abrimos umas garrafas de Patagônia, alcatra na manteiga e enquanto conversávamos, ouvimos algumas pérolas da MPB; e uma dela, Jesus numa Moto, de Sá, Guarabira e Zé Rodrix, é de fato uma dessas letras que só se faz quando a imaginação está sob efeito de bastante doidices. A melodia é algo que transcende algo entre o vagaroso e o apavorantemente acelerado, dando de fato a ideia de alguém numa moto possante, rasgando uma estrada linda...

A música começa já com “Preso nessa cela, de ossos, carne e sangue. Dando ordens a quem não sabe, obedecendo a quem tem”. Nesse ponto a música é uma alucinação sensacional. O sujeito liga a estradeira, ouve o ronco e põe ela na estrada...

E continua a jornada com “Só espero a hora, nem que o mundo estanque, prá me aproveitar do conforto de não ser mais ninguém”. Nesse ponto ele já está em quarta marcha; e já esqueceu da conta de luz, do Impeachment; e se vacilar, nem da mulher ele lembra mais...

Agora o sujeito já está em quinta marcha, acelerando e olhando apenas para o horizonte; é quando ele pensa: “Eu vou virar a própria mesa, quero uivar numa nova alcateia, vou meter um Marlon Brando" nas ideias e sair por aí. ” Ele agora começa a pensar que a moto tem sexta, sétima, oitava, nona e décima marcha...

Um filme passa em sua cabeça; coisas do passado que poderão mudar e coisas do futuro que não influenciarão em nada. A cabeça vira um liquidificador de ideias malucas; e quando ele se sente livre; aquilo que antes era um destino, agora é esquecido...

“Prá ser Jesus numa moto, Che Guevara dos acostamentos; Bob Dylan numa antiga foto, Cassius Clay antes dos tratamentos. John Lennon de outras estradas, Easy Rider, dúvida e eclipse! São Tomé das letras apagadas; e arcanjo Gabriel sem apocalipse”. No mínimo ele está sob os efeitos de um Brequebronnhonhoin ou de um Nemecrado. “Nada no passado. Tudo no futuro. Espalhando o que já está morto, pro que é vivo crescer”.

A moto atinge velocidade de cruzeiro e o último ponto que seus olhos enxergam é uma montanha que esconde meio sol e que dista, pelo menos, 12 horas de jegue e 6 de trem. Nenhuma curva, nem imaginária, pode atrapalhar aquela fuga rumo ao reencontro de si mesmo. “Sob a luz da lua, mesmo com sol claro; não importa o preço que eu pague o meu negócio é viver”!

No acostamento, um andarilho que acendeu um cigarro com um palito de fósforo, deu a impressão de uma fogueira num luau com violão e muita gente de altas transações. “Eu vou virar a própria mesa. Quero uivar numa nova alcateia! Vou meter um Marlon Brando" nas ideias e sair por aí”.

Essa é uma viagem que muita gente queria fazer; e tenho certeza que todos também queriam nunca chegar em lugar algum; afinal de contas, “sob a luz da lua, mesmo com sol claro; preso nesta cela” imaginária com cenários coloridos e alegres, qualquer um quer, pelo menos, sonhar...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 24/04/2016
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