UMA SOCIEDADE CONTAMINADA
Pelo lado bom, a notícia é de que a sociedade vem conseguindo contaminar a política. Pelo lado ruim, é fato que na última década e meia, a política contaminou a sociedade como um vírus. Desses que se espalha, causa danos maléficos, e poucos percebem.
Sempre digo que a democracia que nos trouxe até aqui, nasceu com a “síndrome da ditadura”. Nossos legisladores que viveram naqueles anos, tinham a visão de que as leis deveriam ser amolecidas. Amoleceram demais, e a maionese desandou.
Nosso Código Penal deu origem a outro vírus ainda mais invisível. Talvez, ele nem seja invisível, apenas cause cegueira. Estou falando do vírus do crime. Claro que esse vírus existe em todos os países. Só que sua proliferação é assustadoramente maior em lugares sem punição. E somos um ótimo exemplo. Tanto na base, como no topo da pirâmide.
Não foi apenas a astúcia que organizou o crime no Brasil. A colaboração das nossas leis foi crucial nessa organização. Alguns legisladores riram do termo “crime organizado”. E foram mais longe. Chamaram os agentes que alertaram para o que estava acontecendo de “crias da ditadura”.
Sem medo nenhum das leis, o crime se organizou, se solidificou e se transformou numa indústria lucrativa. Tem a capacidade de se autofinanciar, e epidermicamente mostra um perigo maior na sua capacidade de “financiar”. Acho que ficou fácil de entender!
Armas de guerra estão entrando no Brasil, como se fossem mercadorias compradas nos nossos supermercados. E não demorará muito para o que foi chamado de “organizado”, altere seu status para “terrorismo”. Na minha opinião esse status já foi alterado. E nossos legisladores continuarão rindo.
O sentimento de que a sociedade se transformou em refém do crime não está errado. Estamos presos atrás de muros altos. De janelas e portas superprotegidas De carros blindados para quem pode. E vigiados noite e dia por câmeras de segurança.
Quem precisa sair de casa, e todos precisam, sai com a sensação de que poderá a qualquer momento, estar na hora errada no lugar errado. No Brasil, nos dias atuais esses lugares são todos.
Infelizmente o crime não contaminou a sociedade apenas com o vírus do medo. Praticá-lo tornou-se um ato banal. Hoje terminam em assassinatos as brigas de trânsito. As saídas de baladas. O fim de casos amorosos. As disputas por heranças. As brigas de torcidas. Os estupros. No Brasil, matar está muito perto de ser uma diversão.
Temo ainda mais pelo futuro das gerações que ainda são crianças. Se nada for feito, é possível que já na adolescência, entre estudar e uma arma, a escolha seja pela segunda.