Retorno à Terra Natal
Era uma criança adolescente quando saí de lá.Vim com muita esperança no coração,para atravessar um novo marco na minha vida.
Aqui cheguei,achando que iria estudar,ficar rica e logo depois retornar.
Vim de PAU-DE-ARARA,para quem não conheceu era uma espécie de carga humana,mas hoje é proibido fazer esse tipo de transporte,e por incrível que possa parecer fiz uma viagem maravilhosa.Atravessei o rio São Francisco de balsa,andei sem pressa pelas estradas da Bahia,ainda sem asfalto,colhendo e comendo umbús e nas Minas Gerais,dormí acalentada pelo som das suas cachoeiras.No Rio de Janeiro,comí feijão preto pela primeira vez,achei estranho,mas delicioso.
Assim fui conhecendo coisas novas,saboreando e vivendo essa outra vida que me aguardava,e eu só tinha 14 anos...
Cheguei à S.Paulo! Quanta grandiosidade! Que arquitetura maravilhosa!Que modo de falar diferente desse povo acolhedor!
O tempo foi passando e eu crescendo e me adaptando à essa nova vida.O tempo continuou passando e eu estudando muito,mas sem conseguir ficar rica.
Com o passar do tempo,conhecí alguem,me apaixonei,casei e tive filhos.Daí os estudos,ficar rica e o retôrno à terra natal deixaram de ser prioridade e o amor de mulher apaixonada e mãe dominaram meus dias,meus sonhos e meus desejos.
Fui feliz,extremamente feliz!Viví intensamente essa fase boa,tive tudo que imaginei na época,só deixei adormecer em mim a vontade do retôrno.
E o tempo continuou passando...O casamento acabou,os filhos cresceram,os netos chegaram e a vontade de retornar voltou.
Este ano,entrando em um avião pela primeira vez,eu que havia chegado aqui de PAU-DE-ARARA,voltei ao Ceará minha terra natal.A emoção foi tamanha,que não saberia descreve-la com detalhes.
Fortaleza!...Quanta grandiosidade,mas também quanta pobreza!As nuvens eram iguais,até pareciam as mesmas que ficava a olhar quando criança e imaginar ver coisas,o vento que balançava as folhas das árvores era o mesmo, quente e seco mas a brisa me lembrava estar em casa,no lugar onde nascí.O cheiro do caminho que me conduzia à Aracoiaba,cidade onde vivi minha infância,era o mesmo,,a pracinha da cidade de Redenção, com aquela estátua bem no centro era a mesma e Aracoiaba foi um capítulo à parte.
A cidade onde vivi minha infância estava alí,diante dos meus olhos,mas diferente em tamanho e progresso.Não existia mais o rio onde as lavadeiras lavavam as roupas e onde muitas vezes íamos tomar banho,mas a casa que morei estava lá.Linda maravilhosa,cheirosa com o cheiro da minha infância,cheiro de amor e carinho de pai e de mãe e de convívio com os irmãos.Entrei e chorei ao rever cada canto.Lembrei onde minha mãe colocava nossas redes,o lugar da mesa das refeições,seu rádio onde ficava escutando suas novelas...o local onde meu pai punha meu irmão de castigo quando ele aprontava das suas...e foram tantas as lembranças que caí em prantos.Foi um choro emocionante de poder estar alí,tocando naquelas paredes,poder ver aquele poço(que cearence chama de cacimba)e respirar o ar daquela cidade que deixei menina e voltei mulher madura e calejada pelas andanças da vida
Algumas pessoas que reencontrei,me reconheceram e eu as reconhecí,parecia um sonho,tocar nessas pessoas,falar com elas,ouví-las perguntando dos meus pais...Aliás eu já havia sonhado com essas cenas por algumas vezes,e agora estava lá,era real.Eu desfrutava de tudo com todos os cinco sentidos,vibrava,chorava,sorria e mergulhei no meu passado,estando no presente com tamanha intensidade que o viví novamente.
Mas...tive de voltar para minha vida aqui onde moro,com meus filhos, meus netos,minha história.Porém trouxe no coração novamente a esperança de voltar muitas outras vezes,porque as raízes são de lá e quando fui recebí o adubo que precisava para que a seiva da vida voltasse a correr pelas minhas veias cearences,alimentando a vontade de viver outras vezes emoções como essas e não deixar nunca mais esses sonhos na acomodação do passado.