O PÉ DE TRAPIÁ
A árvore de meu sonho de criança na casa de Mãe Velha.
Francisco de Paula Melo Aguiar
Quando criança, no final dos anos 50 do século XX, nos finais de semana, meus pais levava os filhos para visitar “Mãe Velha”, no Sítio Nossa Senhora do Desterro (logo após o Santuário de Nossa Senhora do Desterro, edificado em 1869 por Carlos Gomes de Mello e que atualmente ainda é local de peregrinação, missa, pagamento de promessas e de sepultamentos), no município de Cruz do Espírito Santo/Paraíba. Era assim como se chamava minha avó materna, mesmo sabendo que ela recebeu ao ser batizada o nome de Emilia Francisca Pereira de Meireles, que adotou o nome de casada: Emilia Francisca Pereira de Mello, quando se casou com Manoel Gomes de Mello, em 1898, meu avô. Os parentes, amigos e criados a chamava simplesmente de Dona Emilia Gomes. A “Mãe Velha”, teve e criou treze filhos a saber: Rosa, Antônio, José, Francisca, Maria Hermenegidia, Maria das Graças (Doninha), Josefa, Anália, Severino, Sebastião, Augusto, João e Maria do Carmo Gomes de Mello, que casou-se em 16 de junho de 1951 com meu pai, Sebastião José de Aguiar, com quem teve seis filhos: eu, José Vicente, José Antônio, Maria de Fátima I, Maria de Fátima II e Maria Anunciada, todas falecidas ainda crianças. Ao lado da casa grande, feita de pedra, tijolos, madeira e barro e coberta de barro, já existia, ao lado do cercado um pé de “trapiá”, substantivo masculino, nome popular de uma árvore pertencente a família das “caparidáceas” e/ou “alcaparra”, que significa “tapiá”, de “crataeva tapia” e/ou mesmo que “catauari”, de “crataeva denthami”, o certo é que ambos os termos tem origem cientifica na língua latina, que todos os anos a referida árvores flores e gera frutos arredondados, parecendo a olho nu com uma “gógoia” ampliada, diferente de parecer com um maracujá, não falta quem não diga que parece mais não é uma goiaba madura de cor amarelada, puxando para cor de caramelo. O certo é que o fruto do trapiá é suculento, de cheiro forte, cheio de pequenos caroços pretos, com sabor de difícil consumação, algo doce, repugnante e/ou de gosto desagradável. São poucas as pessoas que se atrevem em tentar comer o referido fruto, pois, a apesar de tudo, se comer de mais pode se entupir e provocar estragos na hora de fazer necessidade fisiológica. Assim todos os anos entre os meses de novembro e fevereiro se dar sua colheita, cujos frutos caem ao solo, apodrecem e são poucas as pessoas que resolvem degustá-lo. É intragável até cheiro forte, além do sabor não apropriado para o consumo humano, é o que se deduz a grosso modo, sem haver necessidade de qualquer pesquisa cientifica para sentir seu odor. Os mais velhos afirma de que aquilo era comida de “Anta” e/ou “tapirus”, único animal da família “Tapiridae” da ordem “Perissodactyla”, além de ser o maior mamífero da classe dos “Neotrópicos”, habitante do Continente Americano e do sudeste asiático. Ainda que por analogia, Platão tem razão de sobra ao afirmar de que “não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força, mas como se fosse um jogo, para que também possas observar melhor qual a disposição natural de cada um”, e era assim como mamãe fazia na casa de “Mãe Velha”, quando das visitas domingueiras com seus filhos. Em vez comer trapiá e provocar distúrbios orgânicos, a tia Rosa botava a mesa com sucos diversificados e bolos caseiros, inclusive o pé de moleque assado na palha da bananeira. Valendo apenas observar a mesa o pensamento de Mário Quintana, quando enfoca que “quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem”. E aí “Mãe Velha” se sentia a mulher mais feliz do mundo, apesar de nunca ter tirado o vestido preto de mangas compridas e a saia indo até o tornozelo, desde que “Pai Velho” faleceu. Foi assim até 02 de junho de 1962 quando a mesma faleceu de um ataque cardíaco.
O certo é que a árvore, tem mais de cinco metros de altura e serve de sombra para os passarinhos, animais bovinos, caprinos e eqüinos, ainda na atualidade na casa de “Mãe velha”, in memoriam, além de produzir naturalmente o fruto do trapiá, em pleno século XXI, lá no mesmo torrão e/ou sítio Nossa Senhora do Desterro, atualmente habitado pela comadre Lindalva Tristão de Melo e seus descendentes, viúva do tio e compadre João Gomes de Mello, in memorian. E o tempo passou e o pé de trapiá permanece lá.