A INFÂNCIA DOS LIVROS

Tempos atrás escrevi sobre a cegueira que a tecnologia tem nos causado. Uma das maiores tragédias dessa cegueira, e extremamente nefasta porque passa despercebida, é que estamos encurtando perigosamente os anos de infância das nossas crianças.

Se alguém duvidar do acabei de expor, basta traçar um paralelo entre a sua infância, e a dos seus netos. Creio que a conclusão será alarmante. Simplesmente estamos reduzindo a melhor fase das nossas vidas.

Fato é, que nosso modo de viver atualmente por uma série de razões, já não nos permite ser mais crianças. Os pais, cada vez mais se esforçam para que os filhos abortem a infância e se tornem adultos. Isto porque já a algumas gerações, com eles também foi assim.

Sou de opinião de que para se construir um mundo melhor, o primeiro passo é trazer a fantasia de volta para a vida das nossas crianças. As fantasias da infância modelam a realidade dos adultos.

O jornal Folha de São Paulo, lançou recentemente a coleção “Minha Primeira Biblioteca”, uma coleção de clássicos infantis de todos os tempos. Talvez, quando você souber o preço do volume semanal dirá “Nossa tudo isso!”

Só que comprando a coleção completa de uma só vez, custa menos que um telefone celular de última geração. E é bem provável que você já tenha comprado um para seu filho. Ajudando a abreviar sem perceber a infância dele.

Você lembrará de todos os lugares que já levou seus filhos. Lembrará até da quantidade de vezes que fez isso. E se eu te perguntasse quantas vezes você entrou com seus filhos numa biblioteca, qual seria a resposta?

A coleção começa com a “Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, um dos clássicos de Júlio Verne, e termina com “Um Conto de Natal” de Charles Dickens. Nos vinte e oito volumes nenhum dos autores é brasileiro. Os motivos só os responsáveis poderiam explicar. Minha percepção é que clássicos infantis nacionais são escassos.

Nossa maior expressão ainda é Monteiro Lobato. Que alguns “tecnocratas idiotas” decidiram envolvê-lo numa tarja de racista. Fica fácil apontar o dedo para quem não está mais aqui para se defender.

Levante o dedo quem leu Monteiro Lobato quando criança, e em vez de se encantar encontrou racismo. Ou tornou-se racista por sua causa. Isto é o pior. O nascimento de classes de alienados. Capazes de encontrar agulhas em palheiros, para acabar com a infância e a fantasia das futuras gerações. Diria que esses são os verdadeiros racistas.