QUEM ROUBOU MINHA PANELA?
Seria mais uma noite tranquila na cidade que nunca dorme. Isto mesmo; cá estou no décimo terceiro andar do prédio de "apertamentos" com sacada para avenida principal do bairro. São exatos 50m², compostos de todos os cômodos que uma família classe média sem benefícios governamentais pode dispor, algo bem distante dos 215m² recusados pelo Ex-presidente LULA no "minha casa, meu triplex".
Observo lá embaixo o caos urbano que flui diante de carros, pedestres, ciclistas, motociclistas e carroceiros num transito propicio a infartos e inflações. No telejornal o "amigo" de todas as noites anuncia as prisões do dia, e mais um depoimento via delação premiada, e outro episodio medonho da saga: A vida como CUNHA quer. Alguns minutos de comercial e volta o ancora á nobre arte...
"_ Juiz Sergio Moro, anuncia nova fase de investigações da Lava-jato". Meu Deus! Isto não tem fim?
"_Governistas querem que o povo não desista do Brasil..." sic (PT)."
"_Oposição quer o povo nas ruas..." sic (PSDB).
"_Boa noite." (Fim da transmissão)
Volto minha atenção às maravilhas do bairro, á visão privilegiada dos assentamentos verticais com e sem sacadas, fixados no outro lado da rua. Uma vizinha robusta sensualiza enrolada em uma toalha pequena; outra surge sem trajes e pudores. Ouço um tilintar ritmado, buzinas soam, gritos ecoam, xingamentos, há uma grande insatisfação contra todas as mazelas produzidas pelo governo.
"_Lula vai aliviar o sofrimento dela, fala pra Dilma que sem ela não fico, não vai ter golpe, não vai ter milico". Cantarolava um vizinho esquerdistas provocando da janela enquanto as vaias aumentavam pareando ao buzinaço. Nestes dias inglórios toda propaganda partidária gera um distúrbio sonoro. PT, Lula, Dilma; as aparições provocam náuseas e audiência negativa. Agora são as panelas que recebem e ecoam a ira e a revolta "elitizada". Adentro a cozinha, busco também minha arma sonora, meu refrigério, o simbolo da ostentação patriótica tão difundido entre nuestros hermanos.
Quero garantir meus acordes e minha indignação juntamente com os milhares de revoltosos. Abro os armários, o fogão, a geladeira... Em vão. Falta-me ar, sinto tremores nas mãos e nas pernas, o estomago revira, a cabeça lateja, os lábios secam... Sumiu! Sumiu! Sufocando. Apenas um grito escapa da garganta ressequida: "Quem roubou minha panela?"
Salvador Picuinha, operário das palavras; enojado. Senta a pua Brasil!
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