COMO FORJAR UM DELIQÜENTE

As instituições familiares estão falidas. O conceito sobre criação dos filhos tornou-se uma coisa bizarra. O pai outrora supremo e indiscutível mandatário da família agora não passa de uma figura decorativa com pouca ou quase nenhuma participação na criação e educação dos filhos, tornando-se um simples provedor financeiro. Com a emancipação a mulher deixou de ser aquela mãe participativa de antigamente que além de cuidar dos afazeres domésticos participava da educação e desenvolvimento dos filhos. Agora trabalham fora ou ocupam-se com outras atividades que as distanciam da família. Sob rígidas disciplinas impostas pelos pais as crianças desenvolviam-se e formavam-se moral, cultural e intelectualmente espelhados na conduta dos pais. Quase sempre ao alcançarem a maturidade seguiam os modelos dos genitores e por vezes até profissionalmente. Raros eram os casos de filhos que seguiam outros rumos. Os jovens eram respeitados, respeitadores e se davam ao respeito, impondo seus limites e respeitando limites alheios, reflexos de sua formação familiar.
Tudo mudou. Nas famílias de posse, desde cedo entregues às babás e sem a presença das mães durante o seu desenvolvimento, as crianças vão crescendo formando seu caráter baseadas nas companhias de pessoas alheias ao ambiente familiar, sobretudo tendo como instrumentos de formação jogos eletrônicos, filmes, novelas e músicas que incitam a violência, ao uso de drogas e ao liberalismo. Com as famílias humildes não acontece diferente. Muitas vezes com pais desempregados, sub-remunerados e até mesmo sem conhecimento de quem sejam os pais as mães necessitam trabalhar para prover o sustento da casa e sem outras alternativas deixam seus pequenos em creches comunitárias ou sozinhos entregues a própria sorte e a todo tipo de violência convivendo em ambiente de marginalidade. Assim as crianças alcançam a juventude sem terem absorvidos na infância os valores morais e éticos, vitais para a sua formação. Em ambos os casos a formação do caráter dos jovens baseiam-se em hábitos nocivos e anti-sociais e o resultado se apresenta em desvios de condutas traduzidos em agressividades gratuitas e desrespeitos para com o patrimônio público e com os semelhantes.
Devido ao afastamento do ambiente familiar os pais procuram compensar essas atitudes com ações esquivas visto que perdem o controle sobre os filhos. Alguns pais pobres sem alternativas financeiras para exercerem o controle sobre seus filhos buscam em religiões o amparo para que desperte nos filhos a consciência e a responsabilidade o que quase sempre não acontece, enveredando os jovens por caminhos proscritos a fim de conseguirem facilmente as satisfações físicas e materiais. Os pais com relativo poder aquisitivo percebendo que não existe o respeito nem a obediência dos filhos utilizam-se de suas posses a fim de ilusoriamente controlá-los. Os bens materiais a estes oferecidos ou fornecidos em atendimento aos seus anseios funcionam como suborno em troca do pseudo-controle. Mesadas, motos, carros e outros prazeres que o dinheiro possa proporcionar são os métodos dos pais para “conquistarem” seus filhos. O que se vê em conseqüência destes comportamentos são jovens que a despeito de se divertirem ou simplesmente em atitudes discriminatórias formam gangs e praticam os mais variados delitos. Fortalecidos em grupos formados por pessoas do mesmo caráter desenvolvem atividades delituosas muitas vezes nocivas a sociedade que incluem depredações a patrimônios e agressões a pessoas estranhas ao seu grupo. Recentemente aconteceram fatos inerentes a esta conduta. Um desses fatos foi cometido por jovens que saíram de boates após passarem a noite se divertindo, bebendo e usando drogas lançaram-se as ruas e agrediram pessoas que encontravam pela frente. A vítima mais maltratada foi uma doméstica que aguardava a condução em um ponto de ônibus. Os garotões desceram do carro, a espancaram e a assaltaram fugindo em seguida. A justificativa pelo ato praticado foi que imaginaram ser a mulher uma prostituta, como se estivesse nas mãos deles o julgamento e a punição de alguém por ser isso ou aquilo. Os pais ao saberem da conduta dos seus queridos filhinhos mostraram-se surpresos e um deles tentou justificar referindo-se ao filho como uma criança. Enfim, este é o reflexo de uma criação com o desenvolvimento da criança sem a proximidade e a vigilância dos pais na sua formação. Não se pode esperar de um ser humano que cresceu sem amor e carinho que se comporte de maneira digna perante os seus semelhantes. Assim se forjam os nossos delinqüentes.

* Este texto está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibido a reprodução parcial ou total. visite o meu site: www.ramos.prosaeverso.net
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 08/07/2007
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T556969
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