O crime compensa - 7ª e última parte

Prólogo: eu já escrevi e repito que não me incomoda nem um pouco ser considerado um escritor de meia-tigela, difuso, enigmático, apedeuta metido a chique, decrépito tarado, arrogante e apológico. Todavia, é de bom grado explicar que não sou o único a enfatizar a violência, mal crescente e diruptivo. Vejam o que Cesar Cardoso escreveu no "Ignorância Times" neste 8 de julho de 2007.

Transcrição "ipsis verbis":

"Caro leitor,

Você é especial e foi selecionado para esta oferta irresistível:

VENHA SER UM CRIMINOSO!

Ganhar a vida honestamente é coisa do passado. Hoje em dia ninguém mais tem dúvida de que o crime compensa. Basta olhar os jornais: o que é que mais aumenta em todo mundo? A criminalidade. É a profissão do futuro.

Dê um passeio nas ruas de sua cidade. Em todo canto o que é que se vê? Furto, roubo, assalto, suborno, rapto, homicídio, pilhagem, espoliação. Nas estradas, nas ruas, campos, construções, como disse o poeta.

Segundo os principais investidores internacionais, não só o crime compensa como não há no mundo nenhum investimento que compense mais do que o crime. Títulos de renda fixa? Ações na Bolsa? Moedas estrangeiras? Bobagem!

Nada supera a rentabilidade do crime, a aplicação preferida de nove entre dez pessoas físicas ou jurídicas, entidades públicas ou privadas e nações desenvolvidas ou sub. Por que logo você vai ficar fora disso?

Não precisa ter medo, não há nenhum perigo. Hoje em dia só sendo muito inocente para ser condenado por alguma coisa. Os culpados, os verdadeiros culpados, não são condenados nunca.

É a descriminalização do crime em marcha! E tem mais: sendo um criminoso bem sucedido você poderá contar com a proteção da polícia e matar todo mundo de inveja. Ou de outra forma, se você preferir.

O vizinho do 304 está lhe incomodando? Não espere a reunião de condomínio. Elimine o seu vizinho e pronto. Sua namorada quer dar um tempo? Extermine essa miserável e dê logo a eternidade para ela.

E nas compras, então? Faça um crediário e não pague. Ou pague com um cheque sem fundos. Ou use o único cartão que lhe dá credito ilimitado: o cartão dos outros. Melhor ainda: assalte a loja e leve o que quiser. Sem entradas nem intermediários.

E o crime, meu amigo, não é mais aquela coisa de bater carteira e sair correndo. Até existem ainda esses saudosistas. Mas o crime moderno utiliza todas as tecnologias de ponta. O que é a clonagem de seres humanos comparada com a clonagem de celulares e cartões, por exemplo?

Mas se o crime se moderniza usando a informática e roubando pela internet, ele também não se esquece de que é um direito de todos. É a única atividade humana que está sendo realmente democratizada e realizando a inclusão social.

No mundo do crime todos têm um lugar ao sol. Você pode ser banqueiro, jornalista, publicitário, deputado ou segurança de boate. O crime abraça gente de todas as áreas, do papa a um simples porteiro. Precisamos de todos.

E como queria o velho Marx, temos a história do nosso lado. A mais antiga das profissões não é a prostituição, são o furto e o assassinato. Por que vocês acham que Adão roubou a maçã e Caim matou Abel?

Eles estavam mostrando a verdadeira vocação da humanidade. Infelizmente nos desviamos de nossa índole por muitos séculos. Mas agora isso acabou e estamos dando o justo valor à iniqüidade, à injustiça, à desonestidade. Ao saque, à pirataria, à apropriação indébita. À falsificação, à extorsão, à usurpação. Porque a justiça, meu amigo, é cega, mas a injustiça enxerga longe!" (Cesar Cardoso).

Agora eu posso concluir meu trabalho, urdido em sete minguadas partes. Encerro com chave de ouro e um grito de agonia. É profunda e incompreendida minha tristeza. Ela bate, arrebenta, assobia, retumba, estrondeia o mar e em todos os vinte e sete Estados da Federação Brasileira. É lamentável: o crime compensa!