COMO GIZ NUM QUADRO NEGRO

Sou um daqueles torcedores fanáticos para que o Partido dos Trabalhadores deixe o poder antes da efetivação da “Base Nacional Comum Curricular”. Quando se trata de educação, o Brasil está próximo de cometer um grande erro pela segunda vez.

O primeiro foi cometido pelos militares ainda durante a ditadura. Desse erro fui uma das cobaias. Quando nos transformaram em simples conceitos de ótimos a péssimos. A reprovação foi abolida, e uma tal de “recuperação” era a estrela do momento.

Moleza. Todo um ano de estudo podia ser facilmente recuperado em apenas uma semana. As aulas de matemáticas e português, cederam lugar para matérias como Educação para o Lar e Moral e Cívica. A menina dos olhos dos ditadores.

Hoje, durante a execução do Hino Nacional nos estádios de futebol, sabemos que de civismo nunca aprendemos nada. Tragédia maior seria se saíssem perguntando aos torcedores a tabuada de nove, por exemplo.

Não sou contra mudanças. Elas são necessárias. Só que toda mudança deve partir de uma base já existente. Não é o que acontece com a “Base Nacional Curricular”, que está em consulta pública. Na sua essência ela apaga do quadro negro tudo que já existe. Estão na beira do precipício confundindo educação com ideologias e classes.

Disponível para ser baixado na internet, a “Base Nacional Curricular” em arquivo PDF é um calhamaço de 302 páginas. Como a matemática e o português dão pouco espaço para manobras, decidiram estraçalhar com a História.

Professores de História terão de recomeçar do zero. Alguns que eu conheço se obrigarão a inventar novas mentiras. O destino de milhões de livros será o lixo reciclável. Milhões de árvores terão como destino, a fabricação de novos livros contando a História de acordo com a vontade e a visão dos tecnocratas.

A consulta pública é uma mera formalidade obrigatória. Apesar das críticas de educadores renomados, nem 10% do que está no calhamaço mudará. Pelas regras do jogo, manda quem está no poder. Quem passa por lá, parece fascinado em promover experiências na educação.

De alguma forma, ainda estando vivo ficarei feliz em poder comparar o Partido dos Trabalhadores com os generais da ditadura daqui dez anos.

O mesmo não poderei dizer de muitas mães. Que ao pedirem as filhas lavarem a louça do jantar, poderão ouvir a seguinte resposta: “Não fui ensinada na escola a ser uma escrava”.