Ampliar o problema e amedrontar as pessoas são armas da política
O sociólogo francês Jean Baudrillard, autor de “O Sistema dos Objetos” (1968) e “A Sociedade de Consumo” (1970) faleceu neste ano de 2007, aos 77 anos. Foi único em sua contundente crítica à “sociedade de espetáculo”. Coerente com seu modo de pensar, não constituiu escola nem seguidores.
Autor também do livro “Vida Líquida”, Baudrillard escreveu que, hoje, seres humanos se tornam descartáveis e facilmente substituíveis – como se fossem bens de consumo. Afinal, ninguém faz juramento de eterna fidelidade a celulares, televisores, computadores, carros, geladeiras e outros – estes quando param de funcionar ou são recuperados por ofertas novas e mais atraentes nos separamos deles com pouca tristeza e sem escrúpulos, diz.
Assim como devolvemos uma mercadoria imperfeita à loja, exigindo nosso dinheiro de volta, sob a pressão do consumo, também as relações amorosas se transformam em peças frágeis, quebradiças, não confiáveis – daí tantas separações. Os amores são mais uma fonte de medo, que de alegria, diz.
A promessa dos políticos conservadores de “ser duro” com criminosos, estranhos, imigrantes, mendigos e todas as pessoas vistas como incômodos e potenciais perigos, é usado em campanhas eleitorais – é uma arma usada em disputas políticas. Já os partidos de oposição desenvolvem um “benefício próprio”, ao convencer os cidadãos de que os verdadeiros perigos são muito maiores do que os governos deixam perceber – ou seja, ampliam o problema e jogam com o medo.
Hoje, um novo medo se espalha pelo planeta: a falta de água. Certamente um problema, mas não maior que o da produção e armas de guerra. Mas, enfim, jogar com os sentimentos de insegurança e os medos resultantes se tornou hoje o principal veículo de dominação política, tanto que um ex-vice-presidente americano se tornou ecologista – que bom, mas desconfie.