VOCÊ TEM VERGONHA DE SER HONESTO? (Sobre a quebra do decoro parlamentar)
Que o Senado Federal vive uma crise de credibilidade, nascida dos escândalos de quebra de decoro parlamentar de dois senadores do PMDB, já não é novidade. Também não é novidade o fato da consciência política não fazer parte da nossa realidade histórica, bem como já é antigo, no jargão popular, o perfil do político que rouba, mas faz. Cabe, portanto, analisar possíveis novidades nesse panorama político de estórias mal contadas, que acabam, no mais das vezes, em simbólicas “pizzas”.
Antes de mais nada, não podemos dizer que ao povo nada foi oferecido, porque a referida política do rouba, mas faz, estabelecida pelo populismo barato de certos políticos corruptos eleitos, vem consolidando o mandato e a reeleição deles, mediante projetos de benefícios sociais, tidos pela população menos favorecida como favores, quando na verdade é a pura e real missão do estado garantir a assistência e a seguridade social. Esta visão destorcida do povo aliada ao populismo barato de alguns, não poucos, parlamentares cria um círculo vicioso (leia-se colégio eleitoral) de proporções catastróficas em anos eleitorais, quando a história toda se repete e voltam os mesmos políticos de sempre ao poder, corruptos ou não.
Outro problema digno de nota é a opinião popular, muitas vezes alegoricamente considerada como um tirano débil, ser passivamente desprovida de senso crítico, ou seja, cabe ao povo ser juiz, jure e carrasco neste processo democrático, onde o voto é a sua voz dizendo quem defenderá os seus interesses e, no entanto, ocorre ele se esquecer dos valores e direitos que possui, ter memória curta e se contentar com paliativos imediatos para os problemas sociais - daí esse conceito duvidoso da opinião popular.
Caso a consciência política fizesse parte da nossa cultura, os maus exemplos de Renan Calheiros e Joaquim Roriz seriam facilmente explicados nas palavras de Rui Barbosa, além dele ter sido advogado, jornalista, jurista, político, diplomata, ensaísta e orador, também foi senador, eis que ele afirmou que “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Mas, não, a despeito de seus conselhos prevalecerem nas reformas principais de sua época e a sua brilhante cultura ficar impressa nos registros da cátedra, a máxima de Rui Barbosa, felizmente, não corresponde á nossa realidade, graças à mentalidade secular do nosso povo.
Se o povo brasileiro não tem consciência política é porque existe uma deficiência na educação, se ele aceita paliativos para os problemas sociais é porque é carente, se ele se ilude com o imediatismo das notícias manipuladas, a imprensa é que é negligente. Portanto, não há nenhuma novidade da qual possamos nos orgulhar e, diante desses parlamentares inescrupulosos que exploram a passividade do povo carente, só podemos pedir á Deus que eles tenham vergonha, algum dia, de serem honestos.