O motivo de não ser o mesmo de antes
Ah como eu gostaria de envelhecer com vocês. Gostaria mesmo. Sentir-me acomodado, satisfeito de não ir tão longe. Mas não nasci assim. Nasci com asas e não com raízes. Nasci um pássaro e não uma arvore. Existem pessoas de cada tipo, infelizmente eu sou o segundo e vocês o primeiro. Quando se é do primeiro tipo, o vento bate forte e você fica, pois as raízes te prendem ao chão. Quando se é do segundo, você voa. Quando os problemas batem na porta, as do tipo árvore procuram amigos, pais, um lugar que se passe confiança, instabilidade. O medo os prende no chão das experiências, dos lugares confortáveis que foi criado. Ela procura o abrigo confortável de anos e fica ali, até a tempestade passar. Mas não os do tipo pássaro. Quanto mais se prende no ninho, mais desconfortável se sente. Ali não lhe passa confiança e sim, claustrofobia. Necessita içar voo para um lugar distante. Não me entenda mal e não confunda as coisas. No momento que os problemas são fortes, todos nós pensamos em voar para longe. Isso não te faz um pássaro e sim, um covarde. A saída não reside em correr, porém em encarar. O problema ocorre quando encarar nem faz mais sentido. Você enfrenta, quer ficar, entretanto o desconforto impede. Quer criar raízes, mesmo sabendo que não é uma arvore. Você quer permanecer da forma como estar. Anos para construir uma fortaleza, anos para ter amizades calorosas, anos para ter momentos felizes e do nada ter que deixar para trás por um horizonte desconhecido.
Você empurra com a barriga, tudo para evitar a mudança. Tenta até dar o famoso jeitinho brasileiro, fingir para si mesmo que se sente feliz. Porém sabe que é mentira, pois o tempo passa menos a ventania. Então percebe que ignorar o vento não é a solução. Percebe que precisa ir. Entende que é diferente dos outros. Percebe que nasceu do tipo pássaro.
Meus amigos, eu queria ser como vocês, infelizmente não sou. O vento me implora para partir. A solidão se tornou indispensável nesses dias e recomeçar fez-se necessário. Como eu, sabem que não sou mais o mesmo. Ando estranho com o mundo e comigo também. É que abandonar a segurança do ninho não é fácil, contudo ignorar o vendaval é pior. A mudança começou há anos a soprar, minha ignorância que me fez cego. Chegou a hora de abrir as asas e permitir que me leve para onde deseja. Só de pensar nisso, sinto conforto novamente.