Psiquiatra de Bruxas

E atendiam-no, porque já desde muito tempo os havia iludido com artes mágicas.

(Atos 8:11)

Como de costume, Constance dirigiu-se à outra loja, para atender algum fornecedor que estivesse por lá, conversar com os funcionários, cumprimentar clientes conhecidos e ver em que poderia ser útil.

Mulher disposta, leciona português à noite e o restante do tempo divide entre: Marido, Filho e as duas Lojas de Autopeças. O tempo voa sem estresse. Uma dica aqui, uma pala acolá e o sucesso nos negócios, enche de motivação a dedicada senhora.

-- Bom dia, Gilberto! – disse Constance, enquanto pedia providências a um representante de vendas, reclamando de um prazo de entrega descumprido, ao mesmo tempo em que se reunia com alguns funcionários da loja.

-- Bom dia! – concomitantemente, os olhos “azul safira” de Constance, olhavam também para um possível comprador.

-- A senhora vende meio litro de óleo?

-- Sua preferência é por um óleo mais grosso, viscoso? Nós temos as marcas X, Y, Z e fornecemos em frascos de um litro.

O cliente agradeceu e adquiriu uma das marcas sugeridas pela empresária. Menos de cinco minutos após voltarmos aos afazeres dantes, o novo cliente retornava para levar mais óleo.

O homem queria algo indisponível, meio litro de óleo. A resposta “não” o levaria a visitar outras das 6 lojas concorrentes. Com certeza alguém se apossaria de um desejável consumidor, podendo mesmo, fidelizá-lo.

Cabe aqui uma reflexão: Desejando que o cliente diga “sim”, porque falamos “não” para ele.

Não pude deixar de agradecer a Constance, pela aula prática, grátis de venda, que tive o prazer de assistir. Falamos de Machado de Assis e outros escritores e, embora muito ocupada, a dona do negócio e do pedaço, conseguia tempo até para opinar com conhecimento também de obras literárias diversas.

Conversando com meu amigo Axel, contei-lhe sobre Constance, quando ele disse:

-- Landim. Certa Bruxa, estava com muita solidão e por isso decidiu comprar uma vassoura nova e voar para o Rio de Janeiro. Tentaria fazer amigos durante o PAN 2007. Tão desesperada se encontrava, que antes de tomar qualquer atitude, procurou um psiquiatra.

Uma placa em aço escovado, “logotipada” à esquerda, por uma faixa diagonal vermelha, tipo proibido fumar, estacionar, etc., curiosamente estava sobre uma vassoura. À direita lia-se:

Dr. Bruxelo

Psiquiatra de Bruxas

99 porcento dos casos resolvidos

Uma voz macabramente “pavarotiana”, convidou a Bruxa a adentrar o aposento.

-- Boa tarde! doutor. Sou uma bruxa e seus serviços foram recomendados pelas meninas da vassoura. Meu problema é solidão. O senhor tem algum bizú? Seu consultório não tem cadeira?

-- Seu problema era solidão. Liberte o pássaro, quebre a vassoura, compre uma asa-delta, conheça pessoas no PAN 2007, faça muitas amizades. Acho que um casamento não lhe faria mal.

-- Toda bruxa, se auto-condena. Cria sem permissão do IBAMA, um aterrorizante pássaro preto e adquire uma horripilante vassoura, para voar e quando chega em casa, deixa-a atrás da porta para espantar visitas. “Desestigmatíze-se” (remova seu aspecto cruel).

-- Dr. Bruxelo. Obrigada por tudo. Falta o senhor falar porque não tem cadeira no seu consultório?

-- Desculpe por não responder e pela resposta que complementa a consulta: Preciso ensinar à bruxa a falar menos e ouvir mais. Se ela ficar sentada, vai disparar a matraca.

-- Fui. – Disse a bruxa, descendo o elevador pacientemente com outras pessoas. Embaixo do prédio um taxista a ajudou a adquirir a asa-delta.

-- Axel. Você está tentando me deixar confuso. O que tem a ver a história dessa bruxa com vendas? – perguntei.

-- Gil. Tem absolutamente tudo a ver. O cliente quando chega em um local para ser atendido e ver pessoas conversando e colocando como secundária a sua presença, imagina o barulho "corvejante" de uma antipática e sinistra ave; tem a sensação de uma bruxa empunhando sua ameaçadora vassoura. Preocupado em incomodar, retira-se para sempre. – e continuou:

-- O que Constance fez? Trabalhou a inversão de tendências, ajoujando (incorporando) qualidade ao atendimento. Veja que o cliente ficou tão satisfeito, que, como se tivesse de asa-delta, velozmente revisitou o estabelecimento para fechar outro negócio. A loja saiu da solidão. A absoluta conseqüência de um processo natural é a vinda de novos consumidores, trazidos evidentemente pelo cliente feliz.

-- Alex. Preciso ir. Antes, esclareça duas coisas por favor:

1 - Quem é o autor dessa história?

2 - Por que o doutor Bruxelo não resolveu 1 porcento dos casos?

-- Esclarecerei. – disse Alex.

1 - Para saber quem escreveu a história, leia em breve o artigo: Passarinho de Mochila;

2 - A única bruxa que o Psiquiatra não conseguiu curar, era dona de uma fábrica de vassouras. Não poderia quebrar todas as vassouras e falir seu negócio.

Caro Leitor. Eu imagino uma loja desorganizada, onde o cliente não tem a devida atenção, como uma fábrica de vassouras para bruxa. A única serventia é a destruição da proprietária e das assustadoras clientes. O certo mesmo, é jogar no lixo tudo o que realmente não presta, ainda que aparentemente pareça vantajoso.

Outra cliente bateu à porta do doutor Bruxelo.

-- Amena. Que bom vê-la. Como vão os negócios? – disse o psiquiatra.

-- O senhor me convenceu. Vi uma ex-bruxa, voando muito alegre, de asa-delta lá na praia Sem Pepino. Achei injusta, a publicidade que o senhor mandou colocar no equipamento dela, informando ter solucionado 99 porcento dos casos. Não poderia ser um entrave ao seu sucesso, pois sou o único caso de bruxa não solucionado. – disse Amena.

-- Amena. Você ficou louca! Quero dizer, que bacana! Chegou voando com essa vassoura de cabo curto?

-- Não, doutor. Mandei cortar os cabos das vassouras, a sobra eu aproveito para fazer outras vassouras, todas curtas para limpeza de banheiro. Bruxas só gostam de vassoura com cabo comprido. Meu corvo Laércio, já estava comigo há 15 anos. Resolvi soltá-lo por bom comportamento. E eu, to indo comprar ingresso pro PAN 2007.

-- Amena. Eu sou um ex-bruxo também. Tenho alguns ingressos comigo e gostaria de sua companhia nos Jogos Pan-americanos.

Um beijo de concordância, dava início ao namoro daquele, que agora teria 100 porcento dos casos resolvidos. Alcançara a excelência, o melhor e mais feliz, Psiquiatra de Bruxas.