SACO DE BRINQUEDOS



 “Em todo homem há uma criança que deseja brincar” (Nietzsche). 



 
Meu pai me contou que, quando era menino, no ínicio do século passado, guardava os seus brinquedos num saco.

Os brinquedos que o pai menino guardava no saco: latas vazias, pedaços de barbante, sementes, sabugos de milho, botões, pedaços de pau, pedrinhas e todo tipo de coisas inúteis.

Quando alguém aparecia para visitar a minha avó, ele pegava o saco de brinquedos e o esvaziava diante da visita.

Certamente achava os seus brinquedos interessantíssimos!

A mãe dele ficava furiosa e aplicava-lhe o devido corretivo de chineladas depois que a visita ia embora.

A chinela era um dos itens favoritos que minha avó guardava no saco de brinquedos dela.

As crianças continuam as mesmas. Ainda gostam de mostrar brinquedos.

A gente cresce e continua brincando. “Em todo homem há uma criança que deseja brincar” (Nietzsche).

E todos temos o nosso saco de brinquedos. A fala somos nós abrindo o saco e depositando brinquedos…

O saco de brinquedos: isso é de fundamental importância quando o amor está em jogo.

A paixão acontece quando, fascinados por uma imagem – pode ser um jeito de olhar, um jeito de sorrir, um jeito de falar! -, imaginamos que dentro daquele corpo de imagem fascinante estão guardados os brinquedos com que gostamos de brincar.

O que vemos é a imagem da pessoa amada, mas o que imaginamos são os brinquedos que julgamos guardados dentro dela.




                          
           
               
          






 
https://youtu.be/HKMWxvAiEI4

Todo Carnaval Tem Seu Fim - Los Hermanos











Texto de Rubem Alves – Título original: saco de brinquedos – Extraído do livro “Pensamentos que penso quando não estou pensando” – Editora Papirus, Campinas, São Paulo, 2012.




 
Rubem Alves
Enviado por Wilson Madrid em 08/02/2016
Código do texto: T5537688
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